Os resultados do ministério de lavar os pés, praticado pelo Senhor, tinham quatro aspectos:
• Desfrutaríamos do Seu amor em comunhão com Ele — “... tens parte comigo” (João 13:8-11).
• Desejaríamos levar outros a também desfrutarem de Seu amor — “... vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (João 13:12-17).
• Discerniríamos os Seus pensamentos (discernimento espiritual) — “Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça” (João 13:18-30).
• Daríamos ao mundo um testemunho poderoso — “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos” (João 13:31-35).
João 14 — No capítulo anterior o Senhor anunciou aos seus discípulos que os deixaria para voltar ao Pai (João 13:33-36). Eles evidentemente ficaram atribulados, pois estavam esperando que Ele estabelecesse o reino em poder como Messias de Israel. Aquilo atrapalhava todos os seus planos e esperanças. Uma vez que o Senhor havia sido rejeitado, Ele não estabeleceria o Seu reino naquela ocasião, mas introduziria uma nova ordem de coisas na forma de uma nova dispensação. Para confortar os corações de Seus discípulos o Senhor apresentou a eles não menos que doze coisas que ganhariam na nova dispensação, as quais eram superiores às que tinham na antiga dispensação. A intenção era trazer conforto aos seus corações entristecidos, ao revelar que iriam receber algo melhor. Tudo aquilo seria uma consequência de o Senhor ascender de volta ao Pai nas alturas e enviar o Espírito Santo, duas características singulares do Cristianismo (João 7:39). As doze vantagens espirituais seriam:
• Eles iriam conhecê-Lo de uma nova maneira como a Cabeça glorificada da nova criação, ao invés de tê-Lo como o Messias de Israel (João 14:1).
• Eles teriam um lugar preparado para habitarem na casa do Pai nos céus (João 14:2-3). Todo judeu fiel esperava por um lugar no reino na terra, mas isto era algo muito superior ao melhor lugar que alguém pudesse ter na terra.
• Eles conheceriam o Pai pela posse da vida eterna (João 14:4-11; João 17:3). O Senhor Jesus é “o caminho” ao Pai, é “a verdade” do Pai, e “a vida” que nos introduz em uma relação de parentesco com o Pai. Mas era necessário que o Pai fosse revelado pelo Filho (João 1:18), que a redenção fosse consumada (João 3:14-15) e enviasse o Espírito Santo (João 4:14).
• Eles fariam obras ainda maiores em seu serviço do que o próprio Senhor havia feito (João 14:12; Atos 2:41; 5:15-16).
• Eles teriam um novo poder na oração quando se dirigissem a Deus em nome do Senhor (João 14:13-14).
• Eles teriam a presença e o poder do Espírito com eles de duas maneiras: “convosco” e “em vós” (João 14:16-17).
• Eles desfrutariam da presença do Senhor em seu meio coletivamente (João 14:18). Ele viria a eles (em espírito) quando estivessem reunidos e assim poderiam contar com Sua presença em seu meio (Mateus 18:20; João 20:19).
• Eles viveriam com Sua ajuda como Sumo Sacerdote intercedendo por eles (João 14:19; Romanos 5:10; Hebreus 7:25).
• Eles desfrutariam de uma nova posição de aceitação diante de Deus em Cristo (João 14:20 “vós em mim”) e o caráter do Senhor seria formado neles pelo Espírito habitando aqui (João 14:20 “em vós”).
• Eles desfrutariam de comunhão com Ele e com o Pai de uma forma muito mais íntima (João 14:21-24).
• Eles teriam uma completa revelação da verdade por meio da vinda do Espírito (João 14:25-26). Quando o Senhor estava com eles lhes ensinava as coisas concernentes ao reino na terra (“Tenho-vos dito isto”), mas o Espírito revelaria a eles “todas as coisas”, que é a revelação cristã.
• Eles teriam a Sua paz com eles quando tivessem de enfrentar a oposição e perseguição (João 14:27).
João 15 — Neste capítulo o Senhor falou de Si mesmo como “a videira verdadeira”. Na antiga dispensação Israel era a vinha ou videira de Jeová (Salmos 80:8-11; Isaías 5:1-2), mas eles falharam em produzir fruto para Deus (Jeremias 2:21; Os 10:1). Agora haveria um novo sistema de produção de fruto que produziria “muito fruto” para Deus (João 15:8). Tal mudança assinalava outra característica da transição da antiga para a nova dispensação.
Na nova dispensação o desejo de Deus é que, mesmo estando o Senhor ausente de Seus discípulos, Seu caráter possa continuar sendo visto neles e por meio deles. Como acontece com os ramos ligados à Videira, Deus gostaria que eles dessem “fruto” durante a Sua ausência, o que significa a reprodução das características morais de Cristo em seu andar e modo de ser. Portanto, eles seriam caracterizados:
• Pelas graças morais de Cristo. Deus gostaria que no Cristianismo os crentes manifestassem diante do mundo as características de Cristo como mansidão, humildade, bondade, paciência etc. (João 15:1-8). O Senhor mencionou três coisas que são essenciais para auxiliar na produção deste fruto nos crentes: a poda ou corte das varas feita pelo Pai (João 15:2), a Palavra dada pelo Senhor (João 15:3) e o permanecer nEle — que é a proximidade prática e de coração através da comunhão (João 15:4).
• Pelo amor de Cristo (João 15:9-10). Eles deveriam continuar no Seu “amor” e assim seriam conhecidos como uma companhia de pessoas que viviam no desfrutar do Seu amor.
• Pelo gozo de Cristo (João 15:11-12). Ele queria que o Seu “gozo” permanecesse neles. As mesmas coisas que faziam dEle um Homem feliz fariam deles (e de nós) discípulos felizes.
• Pela amizade de Cristo (João 15:13-17). Ele gostaria que eles manifestassem diante do mundo que eram Seus “amigos”. O Senhor deu provas de Sua amizade entregando Sua vida por eles (João 15:13), revelando a eles os conselhos secretos de Seu Pai (João 15:15), prometendo garantir a resposta aos seus pedidos feitos em oração (João 15:16). Devemos provar nossa amizade com Ele por meio da obediência (João 15:14), produzindo fruto (João 15:16) e nos amando uns aos outros (João 15:17).
• Pela rejeição de Cristo (João 15:18-27). Eles seriam odiados pelo mundo do mesmo modo como Ele foi odiado, e assim compartilhariam da Sua rejeição e sofrimentos. Alguns sofreriam até mesmo o martírio (João 16:1-4).
João 16 — Outra coisa que marcaria a nova dispensação seria a presença do Espírito Santo na terra. A própria presença do Espírito na terra prova que a antiga dispensação foi deixada de lado e teve início a nova dispensação. Nos tempos do Antigo Testamento o Espírito de Deus agiu na terra a partir de Seu lugar de residência nos céus. Ele não habitou na terra até que a redenção fosse consumada e tivesse início o Cristianismo (Atos 2:1-4; Efésios 2:22). A presença do Espírito na terra demonstra este fato diante do mundo de três maneiras:
• “Do pecado” — O fato de o Espírito de Deus estar na terra prova a culpa deste mundo do pecado de rejeitar a Cristo, pois para o Espírito estar aqui Cristo precisava ir para o Pai a fim de enviar o Espírito. O fato de ele ter deixado o mundo da maneira como deixou (ao ser morto) aponta para a inegável evidência da culpa que recai sobre este mundo.
• “Da justiça” — O fato de o Espírito de Deus estar aqui neste mundo é uma evidência irrefutável de que Deus recebeu a Cristo nas alturas (Atos 2:33) e que a justiça de Deus assegurou bênção para o homem (Romanos 3:21).
• “Do juízo” — O fato de o Espírito de Deus estar aqui neste mundo é uma prova de que o mundo e seu príncipe (Satanás) já foram julgados e aguardam a execução da sentença.
João 17 — A última coisa que o Senhor fez em conexão com os discípulos antes de voltar para o Pai foi orar por eles. Esta oração ilustra a atual função do sumo sacerdócio de Cristo que Ele levaria adiante à destra de Deus em favor deles na nova dispensação. Portanto, haveria um novo Sumo Sacerdote ministrando no santuário celestial — o próprio Filho de Deus. Esta é outra característica do Cristianismo que não era conhecida no Judaísmo.
Duas coisas têm um lugar especial em Seu coração — a glória do Pai e o cuidado para com Seus discípulos. A oração ilustra a atual intercessão que o Senhor Jesus está efetuando em glória nas alturas. Nesta oração Ele não menciona uma palavra sequer sobre os fracassos e falhas daqueles que são Seus, apesar de serem muitas. Ele tampouco pede por riquezas, honras ou influência e sucesso no mundo para eles, porém busca somente o bem e a bênção para os que são Seus.