Gênesis 21-25
Gênesis 21-25
Nestes capítulos “Abraão” é um tipo de Deus; “Sara” um tipo de Israel em conformidade com os propósitos de Deus; “Isaque” um tipo de Cristo; “Agar” um tipo de Israel segundo a carne; e “o filho de Agar” (Ismael) um tipo dos judeus incrédulos.
Gênesis 21 — A história começa com Sara dando à luz a Isaque “ao tempo determinado” (Gênesis 21:1-3). Isto nos fala da vinda de Cristo “vindo a plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4). A reação a esse grande evento na casa de Abraão foi dupla:
• Regozijo da parte dos da casa de Abraão que apreciaram a chegada de seu filho (Gênesis 21:6-8).
• Zombaria da parte do filho de Agar que não gostou da chegada do filho de Abraão (Gênesis 21:9).
Isto nos fala da grande divisão que ficou evidente entre os judeus quando Cristo veio e Se manifestou como seu Messias; um remanescente de judeus O recebeu, mas a maioria O rejeitou (João 7:40-44; 9:16; 10:19-21).
Como consequência da zombaria contra Isaque, Sara, agindo com o discernimento da vontade de Deus, disse a Abraão: “Ponha fora esta serva e o seu filho” (Gênesis 21:10). Isto nos fala da necessidade de o incrédulo Israel ser colocado de lado por causa de seu ódio e rejeição a Cristo. “E pareceu esta palavra muito má aos olhos de Abraão”, mostrando assim que Deus não tinha prazer em colocar Israel de lado (Gênesis 21:11). Todavia, era assim que devia ser. Por conseguinte, Abraão levantou-se cedo e deu a Agar e seu filho uma provisão de pão e água, “e despediu-a” (Gênesis 21:12-14). Isto nos fala em figura do que aconteceu a Israel. Eles tinham sido removidos de sua terra e espalhados entre as nações. O “odre de água” iria significar a porção limitada da Palavra de Deus concedida a Israel — as Escrituras do Antigo Testamento. (Na Bíblia, a água potável é uma figura da Palavra de Deus — Efésios 5:26).
As ações de Agar no deserto nos falam, em figura, da parte que cabe aos judeus nos dias de hoje. A “água” da Palavra foi “consumida” — no que tange a uma aplicação literal disso ao sistema terreno do Judaísmo. As ofertas, rituais e cerimônias determinadas por Moisés já não têm relevância. O “menino”, lançado “debaixo de uma das árvores”, nos fala da nação em sua diáspora, quando foi espalhada para fora da vista, havendo perdido sua independência nacional em sua própria terra (Gênesis 21:15). Então Agar foi e sentou-se e chorou, mas em seu triste apuro não há qualquer menção de ela ter se voltado para Deus. Assim é a condição atual dos judeus espalhados.
O que aconteceu em seguida a Agar e seu filho mostra que Deus ainda não desistiu da nação de Israel (Gênesis 21:17-21). Isto representa o que Ele irá fazer com um remanescente dessa nação em um dia futuro. A “voz do menino” foi ouvida por Deus. Isto nos fala do clamor do remanescente no futuro período da Tribulação (Salmos 6, etc.). O menino não estava morto como Agar imaginava, e do mesmo modo haverá vida em um remanescente da nação. Além do mais, Deus falou a Agar e “abriu-lhe Deus os olhos”. Ela recebeu a promessa de que o menino se tornaria uma “grande nação” no futuro. Uma esposa seria tirada do Egito para ele, o que nos fala das nações gentias convertidas se relacionando com o Israel restaurado num tempo vindouro (Salmos 57:9; Isaías 14:1; 19:24-25; Zacarias 2:11; 8:22-23).
Na última figura encontrada no capítulo alguns gentios (“Abimeleque com Ficol”) se dirigem a “Abraão” e desejam fazer uma “aliança” com ele, ao que Abraão acedeu (Gênesis 21:22-34). Isso aponta para o fato de que no pacto de Deus haverá lugar para que os gentios sejam abençoados em relação ao Senhor no Milênio (Isaías 56:3-8). Tudo isso aconteceu em “Berseba”, que significa “poço do juramento” (Gênesis 21:31-32) e nos fala da promessa de Deus em abençoar as nações gentias em sua relação com Israel no futuro.
Gênesis 22 — Este capítulo mostra que Cristo (representado por Isaque) seria rejeitado pelos judeus incrédulos (Ismael), resultando em sua crucificação, e que Deus usaria essa mesma ocasião para cumprir o maior ato de graça da história da humanidade — a realização da expiação para a glória de Deus e bênção dos crentes.
O capítulo apresenta as coisas predominantemente do lado de Deus na cruz. Abraão levou seu filho Isaque a um lugar no “Monte Moriá” onde tentou oferecê-lo como sacrifício. Isto é um tipo do grande sacrifício de Cristo realizado na cruz do Calvário (Efésios 5:2; Hebreus 7:27; 9:26; 10:10, 12). Embora Abraão não tenha realmente matado Isaque, o Novo Testamento enxerga este incidente na forma de um tipo ou figura, como se Abraão tivesse consumado seu ato, e Deus o tivesse ressuscitado de entre os mortos (Hebreus 11:17-19). O lugar onde Abraão fez o sacrifício era o mesmo onde Cristo viria a morrer muitos anos depois! O Calvário fica no monte Moriá, onde a cidade de Jerusalém foi construída (2 Crônicas 3:1; Hebreus 13:12). Isso demonstra que Deus tinha aquele local especial diante de Si muito tempo antes de Seu Filho morrer ali. Apesar de Abraão não ter realmente matado Isaque, o Novo Testamento enxerga esse incidente de maneira figurada como se ele tivesse feito isso, e Deus o teria ressuscitado de entre os mortos (Hebreus 11:17-19).
No fato de Abraão e Isaque irem “ambos juntos” ao “lugar” (Gênesis 22:3, 4, 9, 14; Lucas 23:33) temos uma figura do Pai e do Filho indo juntos ao Calvário aonde Cristo viria a morrer. Ao contrário de Isaque, que não sabia onde estava o carneiro para o holocausto (Gênesis 22:7-8), o Senhor Jesus sabia o que lhe esperava em Jerusalém (Lucas 9:31; 12:50). A menção do “fogo” e do “cutelo” indica dois aspectos da cruz (Atos 2:23). O “cutelo” fala da morte de Cristo na mão de ímpios (Atos 3:14-15); o “fogo” (uma figura do juízo de Deus) fala do fato de Cristo ter levado sobre o Seu próprio corpo no madeiro os nossos pecados sob o juízo de Deus.
Existem três expressões relacionadas à “lenha” que Isaque carregava para o lugar do sacrifício. A madeira é extraída das árvores, e árvores aparecem ao longo das Escrituras como representação da humanidade. Primeiro, Abraão “cortou lenha” (Gênesis 22:3). Isto nos fala do fato de um corpo humano ter sido “preparado” por Deus para o Senhor Jesus a fim de Ele vir ao mundo e ser um sacrifício (Hebreus 10:5). Segundo, Abraão tomou “a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho” (Gênesis 22:6). Isto nos fala da encarnação de Cristo. Houve um momento na história deste mundo quando Cristo tomou a humanidade em união com Sua Pessoa e Se tornou Homem (Lucas 1:31-35). Terceiro, quando Abraão e Isaque chegaram ao lugar que Deus havia indicado, a lenha foi tirada de Isaque e colocada sobre “o altar”. Em figura isso nos fala do momento em que Cristo entregou à morte a Sua vida como Homem para a glória de Deus (Efésios 5:2). Não lemos de qualquer objeção ou resistência da parte de Isaque; a narrativa nada diz a respeito. Esse silêncio indica de forma maravilhosa a perfeita submissão do Senhor Jesus à vontade de Seu Pai. Ele disse: “Não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26:39). E também, “não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” (João 18:11).
Neste ponto o tipo ou figura falha, como costuma acontecer com a maioria dos tipos e figuras, no sentido de que aqui Deus proveu um substituto para Isaque na forma de “um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato” (Gênesis 22:10-14), já que não havia ninguém que poderia assumir o lugar de Cristo ao fazer a expiação por nossas vidas. O carneiro é um tipo de Cristo. Ser “travado pelos seus chifres” nos fala da devoção de Cristo à vontade de Deus que O levou à morte. Nas Escrituras os “chifres” nos falam de força — a força de Seu amor a Deus (João 14:31) e a força de Seu amor por nós (João 13:1). Foi esse grande amor que manteve Jesus na cruz. Abraão chamou aquele lugar “Jeová-Jiré”, que significa “o Senhor proverá”. Isto ilustra o fato de que a cruz é o lugar onde Deus fez provisão para os homens serem salvos pela fé. É significativo que após o carneiro ter sido oferecido em sacrifício já não encontramos Isaque no texto. Portanto, o tipo ou figura indica que ao morrer Cristo seria removido da vista de todos neste mundo.
Após o carneiro ter sido oferecido Deus falou da grande bênção que viria à semente de Abraão — “as estrelas do céu” e “a areia que está na praia do mar” (Gênesis 22:15-19). Isso aponta para o fato de que, como consequência da obra consumada de Cristo na cruz, muitas vidas seriam abençoadas. O capítulo termina com a linhagem de “Naor”. É significativo o fato de as Escrituras mencionarem “Betuel”, o oitavo filho, do qual veio “Rebeca” (Gênesis 22:20-24). Rebeca estava destinada a ser a futura esposa de Isaque. Ela é um tipo bem conhecido da Igreja. Oito é um número que significa nova criação. O fato de ela vir do oitavo filho aponta para a verdade de a Igreja fazer parte da nova criação, pois o número oito é aquele nas Escrituras que nos fala de nova criação (2 Coríntios 5:17; Efésios 1:10; Hebreus 2:11-13).
Gênesis 23 — Este capítulo está relacionado à morte e sepultamento de Sara. Como já foi mencionado, ela é um tipo de Israel. Sua morte é significativa no panorama dispensacional. Deus estava prestes a chamar Rebeca e introduzi-la em um relacionamento com Isaque (cap. 24), mas não estariam as duas mulheres coexistindo na casa de Abraão. Sara, portanto, morreu antes, e então Rebeca foi chamada. Isso nos ensina que o modo de Deus agir com Israel e com a Igreja não é algo simultâneo. Também nos mostra que Israel e a Igreja não são uma única e mesma coisa, mas duas diferentes ordens de povos abençoados. (Isto é algo que os teólogos do Pacto fariam bem em perceber). Fica claro, portanto, que Deus não tinha a intenção de que Judaísmo e Cristianismo convivessem ao mesmo tempo em uma forma de Cristianismo semi-judaico (João 4:21-23; Hebreus 13:10).
Gênesis 24 — No capítulo 22 Isaque desaparece da narrativa, mas neste capítulo descobrimos que ele voltou de Moriá para a casa de Abraão. Isto apontaria para a ressurreição e ascensão de Cristo à glória da casa de Seu Pai, onde Ele está no presente momento sentado à destra de Seu Pai (João 14:2; Atos 2:32-33).
O assunto deste capítulo é assegurar uma esposa para Isaque. O que não é usual a respeito disso é que Isaque não deveria ir e obter uma esposa para si, mas isso seria feito pelo “servo” de Abraão. Isto é pleno de significado no contexto dispensacional que estamos considerando. Este homem sem nome que foi enviado por Abraão para conseguir Rebeca é um tipo do Espírito Santo. O fato de o servo de Abraão não ter nome está em conformidade com muitos outros tipos do Espírito Santo nas Escrituras. Muitas vezes Ele é visto como uma Pessoa sem nome trabalhando nos bastidores (Rute 2:6; Lucas 10:35; 14:21-24; 22:11 etc.). Trata-se de uma descrição adequada ao papel do Espírito nesta dispensação. Ele não atrai atenção para Si, mas emprega Suas energias em nos levar a Cristo (João 16:13-14).
Os nove primeiros versículos do capítulo 24 de Gênesis tipificam as Pessoas divinas reunidas para deliberarem o chamado da Igreja. Como já vimos no capítulo anterior sobre o ensino de Paulo, esse chamado é um “mistério” que esteve “escondido em Deus”, e que não foi revelado até que o Espírito viesse e o revelasse aos apóstolos (Romanos 16:25; Efésios 3:3-5, 9; Colossenses 1:26). A jornada do servo à Mesopotâmia representa a vinda do Espírito (Gênesis 24:10-14). A conversa inicial do servo com Rebeca representa a obra do Espírito nas almas (Gênesis 24:15-17). O presente dado a Rebeca, um “pendente” ou brinco para suas orelha e “pulseiras” para suas mãos, representa o anseio do Espírito em conquistar os ouvidos e as mãos do crente para Deus (1 Coríntios 6:20). A partir do momento em que o servo conquistou a atenção da família de Betuel ele passou a contar uma história maravilhosa, a qual contém muitos elementos do evangelho da graça de Deus (Gênesis 24:33-49). Ele lhes fez saber que seu senhor era uma pessoa muito rica e que havia legado tudo o que possuía ao seu único filho (compare com João 3:35). O servo também explicou que havia sido enviado por Abraão para conseguir uma esposa para seu filho (compare com Efésios 5:25-32), e que o filho de Abraão iria compartilhar com ela as riquezas que seu pai lhe havia dado (compare com Efésios 1:11; Romanos 8:17, 32). Ele também explicou como tinha sido dirigido por Deus para encontrar Rebeca. Isso nos fala dos inescrutáveis caminhos de Deus em encontrar, ao longo do tempo, aqueles que foram eleitos antes da fundação do mundo (Romanos 11:33-36; Efésios 1:4).
Quando ficou acertado que Rebeca seria a esposa de Isaque, o servo apresentou “jóias de prata e jóias de ouro, e vestidos” e os deu a Rebeca para confirmar o que fora acertado (Gênesis 24:50-53). Isso representaria o selo do Espírito (Efésios 1:13), pois estas três coisas nos falam de redenção, justiça divina e de uma adequada condição moral para Cristo, e são coisas que passam a pertencer aos cristãos quando são salvos. O servo “também deu coisas preciosas” à mãe e ao irmão de Rebeca. Isso nos fala das muitas bênçãos visíveis que todos na esfera da profissão cristã podem desfrutar em razão de o Espírito Santo estar na casa de Deus. Depois disso o servo e os da família de Betuel “comeram e beberam” (Gênesis 24:54). Isso nos fala da “comunhão do Espírito” (Fp 2:1) e da “comunhão do Espírito Santo” (2 Coríntios 13-14). Logo no dia seguinte o servo quis iniciar sua jornada de volta à casa de Abraão levando Rebeca consigo. Isso mostra o grande desejo do Espírito de levar os cristãos a Cristo em glória. Trata-se de uma jornada moral e espiritual envolvendo o distanciar do coração e alma do crente deste mundo, aproximando suas afeições de Cristo.
A mãe e o irmão de Rebeca queriam que ela ficasse com eles por um ano inteiro, e só depois partissem com o homem (Gênesis 24:54-55). Isso nos fala da interferência da natureza no chamado de Deus. O servo disse: “Não me detenhais”, o que demonstra que qualquer atividade neste sentido entristece e extingue o Espírito Santo (Efésios 4:30; 1 Tessalonicenses 5:19). Rebeca concorda em partir com o servo para ser a esposa do homem que ela nunca havia encontrado. (Compare com 1 Pedro 1:8). É com base em suas palavras — “Irei” — que o servo parte imediatamente e leva Rebeca a Isaque (Gênesis 24:57-61). Ao longo do caminho Rebeca podia desfrutar das jóias que havia recebido como “penhor” daquilo que a esperava quando chegasse à casa de Isaque (Efésios 1:14; 2 Coríntios 1:22).
Os “camelos” foram fornecidos pelo servo para carregá-la. Isso nos fala das necessidades naturais que temos na vida sendo atendidas pelas misericórdias de Deus — coisas materiais que precisaremos para nossa vida no deserto. Isaque aguardava por sua noiva (Gênesis 24:62-63), e Cristo também aguarda pacientemente para ter Sua Igreja consigo no lar (2 Tessalonicenses 3:5). Chegou o momento quando Isaque “levantou os seus olhos” (Gênesis 24:63) e “Rebeca também levantou seus olhos” (Gênesis 24:63), e seus olhares se encontraram pela primeira vez! O resultado disso foi que Rebeca “desceu do camelo”. Nada é dito de seus pés tocarem o solo, apesar de sabermos que foi assim. Isso nos fala do chamado do Arrebatamento, que é um chamado elevado. H. E. Hayhoe costumava dizer: “Aquele é o momento para o qual todos os outros momentos foram feitos”.
Em seguida nós os vemos unidos em matrimônio, e Isaque levou Rebeca “para a tenda de sua mãe Sara” (compare com Apocalipse 19:7-9). Ao enfatizar isso fica claro que Sara e Rebeca não são uma mesma pessoa. Elas representam duas companhias inteiramente diferentes de pessoas — Israel e a Igreja. Os teólogos do Pacto não conseguem enxergar isto e, em essência, procuram fazer dessas duas mulheres uma mesma pessoa.