O que você acha da ideia de monges e monastérios?

A ideia de monge é estranha à Bíblia. É egoísta e centrada no eu, algo do tipo, o resto que se dane que vou tratar de minha elevação espiritual, ainda que no processo eu ajude os outros. Só que esse ajudar é, na verdade, egoísta também, pois existe uma segunda intenção. Tem muito de espiritualismo nisso e de espiritismo, onde aliviar o sofrimento alheio tem um propósito real de aliviar meu próprio sofrimento.

O cristão nascido de novo não pertence ao mundo (o sistema de coisas), mas está no mundo e acaba fazendo diferença. Não tenta salvar o mundo, que não tem solução, mas as pessoas do mundo, assim como ninguém se preocupa em salvar o navio do naufrágio, mas as pessoas do navio. Porque chega um momento em que o próprio navio se torna no ambiente de danação das pessoas que estão nele, e o jeito é convidá-las a sair o mais rápido possível.

Outra ideia relacionada a esse isolamento monástico é a de que o cristão deva ser necessariamente pobre e ignorante. Na Bíblia não diz que o dinheiro seja a raiz de todos os males, mas que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Também não diz que é preciso ser ignorante para ser cristão, mas que a sabedoria deste mundo não ajuda em nada neste sentido. Porém, para viver isso não é preciso se esconder numa caverna ou se retirar para um monastério (há um livro, muito bom, por sinal, que ensina sobre liderança, O Monge e o Executivo, que está fazendo sucesso e, uma das razões, é a ideia romântica que as pessoas têm da vida monástica).

O apóstolo Paulo dá uma lição sobre isso, já que ele era um homem culto, que tivera riquezas, mas que mostrava não dar valor a isso e nem precisava se isolar para viver uma vida cristã. Ele vinha de uma linhagem nobre entre os judeus, teve um dos maiores mestres da antiguidade como tutor, vinha de família nobre e tudo mais, mas considerou tudo como esterco em comparação com o conhecimento de Cristo, cujos discípulos ele conhecia.

Desse apogeu de cultura e nobreza, ele foi ao ponto de experimentar extrema pobreza e perseguição, embora tivesse uma profissão boa para a época e trabalhasse nela (era fabricante de tendas). Em uma de suas cartas, aquele que experimentou tanto a riqueza como a pobreza, escreveu:

Filipenses 4:

11 "Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho."

12 "Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade."

É este o segredo, contentar-se com o que você tem, seja fartura ou necessidade. Buscar a pobreza como símbolo de espiritualidade torna essa pobreza algo mais caro do que a riqueza, o que acaba sendo a mesma coisa. Ao invés do apego à pobreza, acaba existindo um apego à pobreza. Conheci um rapaz que tinha ideias parecidas e quando eu perguntei se Deus quisesse que ele fosse rico, o que ele faria. Ele respondeu que nem se Deus quisesse ele seria. O deus dele era ele mesmo, quem decidia o que ele devia ser.