É possível reconhecer quem é crente pelas roupas?

Você tem escutado cristãos que fazem distinção de outros cristãos por não se vestirem do modo como exigiria uma suposta "moda evangélica". Vou contar uma lenda indiana para você entender como enxergo o assunto:

Morava na longínqua Índia um abastado marajá, vestido de ouro e adornado de diamantes. Seu castelo era sua vida. E ali vivia regaladamente.

Todos os dias o marajá sofria a visita de um guru, homem pobre e piedoso, cujo único bem nesta vida era seu manto, um pano velho e remendado que usava apenas em ocasiões especiais. O resto do tempo ele andava nu, para mostrar como estava despojado das influências e desejos deste mundo material e egoísta. Odiava — odiava? — ser o alvo das atenções.

O guru vivia dando lições de moral no marajá, mostrando como ele estava errado por ser rico, gastar tanto, ser apegado, querer aparecer com todas aquelas joias e todo aquele papo de guru despojado. Até que um dia, em meio ao sermão, um incêndio irrompeu no castelo. Foi tudo tão rápido que todos saíram correndo, inclusive o guru e o marajá, sem poder levar nada.

Do lado de fora, o marajá assistia calmamente toda sua fortuna sendo reduzida a cinzas, enquanto o guru dava ordens desesperadamente aos servos do castelo para buscarem água e acabarem com o incêndio. Estava eufórico, neurótico, desfigurado, estressado, irreconhecível.

— Ó, nobre guru — dirigiu-lhe a palavra, o agora pobre marajá. — Estou a perder (o marajá aprendeu português em Portugal) todos os meus bens e riquezas, e acato isso como meu destino, sem me preocupar. A partir de hoje serei um mendigo sem riquezas ou prazeres. Podes responder a razão de tamanha ansiedade e desespero em apagar o fogo, já que nenhuma de minhas vis riquezas poderia ser salva?

— MEU MANTO! ESQUECI MEU MANTO NO PALÁCIO!

Contei esta história para mostrar a você que a aparência exterior muitas vezes não retrata o que há no coração da pessoa. O príncipe, apesar de todo o luxo, não estava apegado àquilo. O guru, que só tinha um manto, era tão apegado a este que quase enlouqueceu ao ver que o perdera. Assim também hoje há muitos cristãos que estão tão apegados à sua maneira de vestir que quando alguém lhes diz que aquilo não tem valor para sua salvação, ficam logo irados, como que dizendo: "Como!? Então todo o meu esforço não vale nada? Toda a minha luta contra a vaidade não vai me levar para o céu?".

Pense nisto. Na hora em que o Senhor Jesus estava morto na cruz, nenhum de seus discípulos mais próximos chegou perto dele. Dois homens ricos e importantes, Nicodemos e José de Arimateia se expuseram, pondo em risco suas vidas, suas carreiras, suas riquezas (pois podiam ser presos como cúmplices de Cristo) e deram ao Senhor um sepultamento digno. "...e com o rico na sua morte" (Is 53:9). O servo de Abraão deu a Rebeca um pendente de ouro e duas pulseiras quando a encontrou para ser esposa de Isaque (Gn 24). Não quero com tudo isso defender as cristãs que mais parecem árvore de natal, de tantas coisas que têm penduradas. Apenas quero mostrar que a pregação que muitos fazem acerca dessas coisas é exagerada e só serve para exaltar a carne naqueles que se esforçam a se vestir com simplicidade.