É possível ter fé sem pertencer a uma religião?
É difícil explicar para você minha fé, já que você está sob uma carga muito grande de uma concepção de fé associada a uma religião. A fé da qual lhe falo é aquela que existe independente de existirem cristãos no mundo (ou igrejas, ou congregações, ou denominações...). É a fé em Cristo, não em cristãos. Por isso achei apropriada a história de José e Maria, que seguiam os irmãos pensando que com isso estavam onde Cristo estaria. (Lc 2)
Não tentaria explicar isso para uma pessoa que seguisse uma religião cristã numa fé genuína, mas sem muito entendimento, porque isso poderia abalar sua fé, mas você é uma pessoa esclarecida. Não deixe o cérebro do lado de fora quando vai se congregar. Deus nos dá discernimento para compreender a sua Palavra através do seu Espírito Santo, e não devemos aceitar cegamente o que alguém diz ser a Palavra de Deus, só porque a pessoa fala com voz solene e diz estar falando em nome do Senhor.
(Dt 18:20) — "Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.".
A única referência que temos hoje para saber se alguém está falando algo de acordo com a Palavra de Deus é a própria, e não a presunção do que se diz profeta em afirmar que o faz com tal autoridade. Como eu já disse, os varões de Bereia foram chamados de mais nobres porque compararam o que ouviram com as Escrituras. Isso você deveria fazer. Não confie em seus sentimentos, porque os sentimentos são uma manifestação das emoções que podem ter sua origem na carne. Ficamos profundamente tocados por um filme, mas isso não tem nada de real.
(1 Pe 4:11) — "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus... para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre.".
O fundamento de sua fé deve ser Cristo, não os cristãos ou uma organização cristã. Na Palavra de Deus não existe algo como uma igreja que ensina. Isso é um erro importado do romanismo, já que contraria até mesmo a ordem estabelecida por Deus de que as mulheres não deviam ensinar doutrina. E a igreja é, em tipo, uma mulher, a noiva. É o Espírito Santo que ensina, fazendo com que compreendamos sua Palavra. Há aqueles que ministram a Palavra, que "profetizam", mas não no sentido usado por muitas denominações, algo como alguém que está sendo canal direto da voz de Deus. Os apóstolos e profetas foram dados para estabelecer o fundamento do qual Cristo é a Pedra principal, mas hoje não há mais apóstolos e profetas no sentido dos doze ou de Paulo. Quem profetiza hoje é quem fala do que está na Bíblia, não quem recebe alguma revelação “inédita”.
(Ef 3:4-5) — "Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas;",(Ef 2:19-22) — "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.”.
A Igreja (não uma denominação, mas o Corpo formado por todos os lavados pelo sangue do Cordeiro, todos os que verdadeiramente creem em Cristo) está sendo edificada com as pedras que são os salvos sobre um alicerce que foi construído há dois mil anos e é formado pelos apóstolos e profetas do Novo Testamento e pelo próprio Cristo. Ninguém coloca pedras do alicerce nas paredes. Se alguém hoje se declara ter a autoridade dos apóstolos e profetas do alicerce, vai ter que explicar isso direitinho para o Senhor quando chegar a hora. É um usurpador de uma autoridade que Deus não deu a ninguém. Profetizar hoje não é no sentido de trazer uma revelação inédita, mas apenas de "proferir" o que os apóstolos e profetas já disseram no N.T.
Preocupei-me quando você disse que segue uma religião. Há uma diferença enorme entre seguir uma religião e seus preceitos e seguir a Cristo. Na primeira, você tem um compromisso com algo que os homens criaram, ainda que tenham criado dizendo-se dirigidos por Deus, que ouviram uma voz, que tiveram uma revelação, etc. A maioria das religiões e denominações que estão por aí começaram assim e você nunca estará segura se seguir esse tipo de "revelação" sem conferir tim-tim por tim-tim na Palavra de Deus.
Uma vez um judeu me disse que se Cristo fosse realmente o Messias, os mestres de sua religião teriam ensinado assim. Mas como os tais mestres não ensinavam assim, ele continuava no judaísmo. Como se a única responsabilidade recaísse sobre os tais mestres (esses tem responsabilidade maior), mas a responsabilidade por crer é individual. É a alma individual que está em jogo.
É complicado explicar a você em quê eu creio, porque você está bastante condicionada a associar fé com um lugar, um templo, uma congregação. Eu continuaria crendo igual mesmo que fosse o único cristão na face da terra, porque o fato de me reunir com outros cristãos é só isso, uma reunião de comunhão e adoração, não uma associação que crie ou mantenha um dogma para ser crido por todos sob seu teto.
Tanto é que na maioria dos lugares onde irmãos assim se reúnem, o fazem na casa de alguém, numa escola ou (como acontece numa localidade no Egito, onde reuniões cristãs são proibidas) num barco no meio do Nilo. Não existe uma organização, apenas pessoas que se reúnem num lugar, portanto não enxergue isso como uma religião que eu siga ou uma igreja da qual eu seja membro.
Para mostrar a você que a salvação nada tem a ver com alguma religião da qual a pessoa se faça membro, gostaria de lembrar que Deus é o Criador de todas as coisas, e sem ele seria impossível nós existirmos. Dependemos dele continuamente. E o mais maravilhoso de tudo é que Deus, sendo nosso Criador, desejou ter comunhão com as suas criaturas. Você pode imaginar o que é termos comunhão com aquele que criou todo este universo, com suas incontáveis estrelas? Maravilhoso, não é mesmo?
E Deus não apenas quis se revelar ao homem, mostrando o seu poder na imensidão das coisas criadas, como também nos legou a sua Palavra, a Bíblia, escrita por cerca de 40 homens inspirados por Deus, ao longo de aproximadamente 1.600 anos; homens estes que viveram em três continentes diferentes, vieram de origens desde a mais simples até a mais elevada, e nos legaram este livro escrevendo partes em Aramaico, outras em Hebraico e outras (a maior parte do Novo Testamento) em Grego. E neste mosaico de línguas, costumes, eras e origens destes escritores, encontramos uma harmonia e continuidade que só fazem demonstrar que um grande Maestro esteve por trás dessa singular orquestra.
Mas Deus não parou aí. Não se contentando em nos revelar a sua Palavra, ele mesmo se fez Homem e desceu a este mundo, vindo para os que eram seus. Jesus Cristo, Deus feito homem; o ÚNICO homem perfeito, o ÚNICO sem pecado. Mas, aquele que devia ser recebido com honras e total sujeição por parte de todos, foi o mais humilhado e desprezado dos homens, chegando a ser entregue, inocente que era, para morrer como um vil criminoso numa cruz (que era a pena de morte para ladrões e criminosos).
Porém, por trás de tudo havia o propósito de Deus, que havia criado o homem para com ele ter comunhão, mas que viu sua criatura desejar seguir seus próprios caminhos e seus próprios pensamentos. O homem caiu em pecado, que é em suma o desejo de viver independente de Deus, tendo tudo dirigido por suas próprias ideias e pensamentos. Rebeldia, enfim. Deus nos revela que ao longo dos séculos tentou de todas as maneiras trazer o homem para junto de si, sempre em vão pois seus profetas eram mortos e aqueles que o seguiam eram desprezados. Até que o Filho de Deus se fez carne, na Pessoa de Jesus Cristo, em quem o desprezo humano chegou ao seu ápice.
Aquilo que poderia parecer a ruína completa, Deus transformou em vitória, pois na cruz Jesus Cristo tomou sobre si o pecado de todos os que nele creem, morrendo ali como um réu condenado no lugar do pecador. Foi assim satisfeita a justiça. O pecado, que era uma afronta contra Deus, foi julgado na Pessoa de um substituto do pecador. E de ora em diante, todo aquele que crê em Jesus Cristo e o aceita como Salvador, é perdoado de todos os pecados e tem sua entrada assegurada no Céu.
Como pode ver, até aqui não falei de nenhuma religião, e nem falarei, pois não pertenço a nenhuma. Pertenço a Cristo e isto é o que importa. Não basta ir a alguma igreja, ou mesmo ter tido um nascimento em um lar cristão para entrarmos no reino de Deus. O Senhor Jesus afirmou, dirigindo-se a Nicodemos que era um homem extremamente religioso e zeloso de agradar a Deus, "não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos e nascer de novo. Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo 3:3,7). Trata-se, evidentemente de um nascimento espiritual. Nicodemos queria saber como receber esse novo nascimento, ao que o Senhor respondeu: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
Há pessoas que acreditam que apenas uma religião leva a Deus, porque o que acreditam na verdade não é no poder do sangue derramado na cruz, mas na capacidade do homem em obedecer a uma lista de leis e regras (diferem entre as religiões). O raciocínio é simples. Se a religião tal tem a lista de regras mais correta, obviamente essa é a religião de Deus e só será salvo quem estiver ali, já que entre as regras listadas está a regra de estar ali. Parece familiar a você?
Fazer isso é um terrível pecado, é usurpar a Deus o direito de salvar com base na suficiência completa do sacrifício de seu Filho na cruz. É dizer que Cristo não seria suficiente para salvar se não existisse a religião tal. É também dar ao ser humano uma participação no crédito de sua própria salvação. Se for eu quem seguiu direitinho as regras, então palmas para mim e algumas para Cristo. É negar que nossa natureza seja tão vil que ainda poderíamos encontrar algo nela capaz de seguir regras e mandamentos. É dividir a glória de Deus com os homens e, o que é mais perverso, fechar o caminho a Cristo para alguém que não tem acesso a uma determinada religião. Você coaduna com um pensamento assim? Uma religião que estabeleça algum fundamento de salvação além do próprio Cristo — seja esse fundamento uma lista de regras ou a necessidade de ser membro da tal religião — não é de Deus.
(1 Co 3:11) — "Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que JÁ ESTÁ POSTO, o qual é Jesus Cristo.".
Quando foi posto o fundamento sobre o qual você alicerçou sua fé? Se foi há dois mil anos, é o mesmo sobre o qual cristãos convertidos ao longo dos séculos colocaram sua fé. Se é um que teve uma data de fundação posterior, não é um fundamento colocado por Deus, porque NINGUÉM pode estabelecer outro.
Há ainda pessoas que pensam que todas as religiões levam a Deus. O Senhor Jesus afirmou: "EU SOU o caminho, a verdade e a vida. NINGUÉM VEM AO PAI, SENÃO POR MIM" (Jo 14:6). Na realidade nenhuma religião leva a Deus, pois o Senhor afirmou que NINGUÉM vai ao Pai a não ser por intermédio dele. Só o Senhor Jesus é o caminho; só ele é a verdade; só ele é a vida. Pelo menos foi isso o que disse. E os que creem nele devem crer também nas suas palavras.
Precisamos da salvação porque somos pecadores, e não nos tornamos pecadores quando prejudicamos a alguém. Prejudicamos alguém PORQUE SOMOS PECADORES. E somos pecadores porque herdamos uma natureza pecaminosa assim como alguém recebe uma herança e não fez nada para ganhá-la. Deus afirma em sua Palavra: "TODOS pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3:23). Isso inclui você e eu.
Tenha em mente que não é o que achamos a nosso respeito, mas o que Deus diz em sua Palavra. Isto é o que conta. Se eu estacionar meu carro em local proibido, de nada adiantará dizer ao guarda que não vi a placa de proibição. A placa estava lá, o guarda tem autoridade suficiente para me considerar um transgressor da lei, e serei castigado com uma multa quer goste, quer não. E se Deus diz em sua Palavra que TODOS pecaram, devemos baixar nossa cabeça e em temor e tremor dizer convicto: Sou um pecador. Quer sinta isso, quer não. Ele declarou; devo aceitar.
Certa vez um conhecido pregou o evangelho para algumas pessoas e depois um homem se aproximou dele dizendo que havia gostado da mensagem e que gostaria de receber a vida eterna. Ele então lhe perguntou: "Você é pecador?" ao que o homem respondeu que não, que sempre havia sido honesto, trabalhador e nunca fizera mal a ninguém. “Então não há salvação para você”, foi a resposta que ouviu. “Por que não?” “Porque Deus diz: Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar PECADORES (1Tm 1:15); Se você não é pecador, não há salvação, pois ele veio salvar pecadores!”
Há ainda os que acreditam que são salvos pela fé, mas se mantém salvos pelas obras, pelo seu andar e obediência a uma lista de preceitos. Enquanto não confiaram em si mesmos para entrar na salvação, acabam vivendo em confiança própria na hora de mantê-la.
Em João 3:16 lemos: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". O que diz aí? ... para que todo aquele que não faz tal e tal coisa não pereça? Certamente que não é assim que está. Diz apenas "para que todo o que nele (em Cristo) CRÊ!”.
O apóstolo Paulo escreveu uma carta aos crentes da Galácia, os quais afirmavam que para ser salvo era necessário não apenas crer em Cristo, mas também guardar a Lei, ou seja, praticar determinadas obras. A eles Paulo responde: "Ó insensatos gálatas... Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?" (Gl 4:9-10).
Só Cristo pode nos salvar, pois morreu na cruz sendo castigado por Deus Pai no lugar do pecador. Todo aquele que nele crê tem a vida eterna, está salvo eternamente. E isso não depende do que fazemos ou deixamos de fazer, mas do que Cristo fez; "e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2:8). Portanto, a nossa salvação depende EXCLUSIVAMENTE de Cristo e de sua obra; não depende de nós pois se dependesse de nós, a glória seria nossa. Mas, graças a Deus, não depende de nós que somos pecadores e sempre propensos a pecar.
Quando um pecador vem a Cristo, arrependido de seu estado pecaminoso, isto só acontece por obra do Espírito Santo em seu coração, pois é o Espírito quem nos convence do pecado (Jo 16:8). Então, pela fé, o pecador crê que Cristo tomou o seu lugar na cruz carregando o seu pecado (do pecador).
Quando o pecador assim crê, Deus lhe dá a salvação que é completa; Deus lhe dá o perdão que também é completo e esta pessoa nunca mais perderá a salvação, pois é um dom de Deus (Ef 2:8) e nunca lhe será tirada por Deus "porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento" (Rm 11:29). Deus não "tira” a salvação do crente, e ninguém mais pode fazê-lo "porque estou bem certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!” (Rm 8:38,39) Se leu o texto “NUNCA!” que lhe indiquei, terá visto isso.
Bom, acho que escrevi demais. Minha preocupação é sincera, creia-me. E pondere isso à luz da Palavra de Deus (não à luz do que eu ou outra pessoa disser), pedindo que Deus mesmo esclareça a você. Talvez ele o faça como fez comigo, quando participava de uma denominação (batista) algum tempo após minha conversão. Os absurdos ditos por um pastor enviado para me demover da ideia de que devia crer apenas na Palavra de Deus e não na denominação, foram as mesmas coisas que Deus usou para mostrar que não devia estar ali.
(1 Co 14:29) — "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem."
Outra vez, não deixe o cérebro na porta. Deus ordenou que o que for falado seja julgado e o padrão que temos para tal julgamento é a Palavra de Deus e seu Santo Espírito que habita no crente.