O cristão deve impor sua cultura e costumes?
O cristão não deve impor sua cultura e costumes neste mundo por uma razão muito simples: somos estrangeiros. Um brasileiro que se mudar para o Japão não vai querer influenciar o governo Japonês para adotar o cristianismo como religião oficial ou querer estabelecer o domingo como um dia de descanso e adoração, ou fazer os japoneses pararem de tocar sua música para fazer batucada. O brasileiro não vai fazer isso porque lá ele é estrangeiro. Não faz sentido interferir.
Acredito que se fôssemos João Batista ou se vivêssemos em sua época, deveríamos tentar mudar as coisas neste mundo e cultura, pois foi o que ele fazia com sua pregação. Ele interferia até na vida privada do rei. Ele tinha um ministério que não é o nosso, quer dizer, ele anunciava o reino a ser estabelecido neste mundo. Quando o Rei foi rejeitado e condenado à morte, o reino ficou postergado para a volta do Rei em glória. Não faz sentido, portanto, arrumar um mundo maduro para o juízo. Seria como reformar e pintar aqueles navios que a marinha usa de alvo em exercícios militares.
Por outro lado, vemos o Senhor e seus discípulos agindo de modo bem diferente, andando como estrangeiros que somos. Se tiveram qualquer influência, foi por suas vidas, pela fragrância e não pelo discurso; pela luz e não pelo fogo; e pelo sal e não pelo vinagre.
Achar que a cultura cristã pode arrumar as coisas em um mundo de incrédulos é tentar estabelecer o reino, como aqueles que professam a Teologia do Domínio tentam fazê-lo (há um livro sobre isso, "The Road to Holocaust"). Não há evidência na Palavra de Deus de que o cristão deva cristianizar o mundo. Ele deve pregar o evangelho para “tirar” pessoas do mundo e transformá-las em estrangeiras rumando para o céu. O Império Britânico tentou cristianizar o mundo e vimos os resultados. Não é muito diferente da doutrina Bush de hoje. Seus métodos são os mesmos da ideia islâmica de conquista pela espada.
Do ponto de vista humano, o mundo pode viver muito bem sem os cristãos ou sem princípios cristãos, pois foi o que fez por séculos. Toda tribo ou povo tem seu próprio código de bem e mal, do tipo faça isto e não faça aquilo. Até nossa legislação é baseada no direito romano e não no cristianismo. E os romanos copiaram muita coisa dos gregos, que copiaram dos egípcios, que copiaram dos babilônicos e assim por diante. Muito das leis que temos pode ser encontrada no código de Hamurabi que viveu 1.800 anos antes de Cristo.
Portanto não temos que nos preocupar com o bem-estar deste mundo, pois até os povos pagãos tem suas maneiras de proteger a propriedade, respeitar uns aos outros e muitas outras coisas que são comuns a muitas culturas não cristãs ou cristãs.
O problema é que quando falamos em interferir como cristãos neste mundo, lemos Gálatas 5:22 como se estivesse impresso em negativo:
"O fruto do Espírito é... NÃO-adultério, NÃO-prostituição, NÃO-impureza, NÃO-lascívia, NÃO-Idolatria, NÃO-feitiçaria, NÃO-inimizades, NÃO-porfias, NÃO-emulações, NÃO-iras, NÃO-pelejas, NÃO-dissensões, NÃO-heresias, NÃO-Invejas, NÃO-homicídios, NÃO-bebedices, NÃO-glutonarias"
É claro que você não irá encontrar um incrédulo que esteja louco para entrar nessa vida de "NÃO". Todavia, se lermos da maneira certa, e mostrar dessa forma ao mundo, aí ser cristão pode fazer sentido até para um incrédulo, pois irá parece algo que ele busca como se fosse um vislumbre do “Horizonte Perdido” de James Hilton.
"Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança."
Coisas assim são até ensinadas pelos Recursos Humanos das empresas de hoje, pois todo mundo quer viver e trabalhar com pessoas assim. Mesmo que elas não queiram mostrar bondade, mansidão ou temperança vão querer viver com quem seja assim.
Quanto ao cristão ler ou usar coisas da cultura deste mundo, seria bom dar uma olhada neste versículo de Atos 17:23-28 que mostra como Paulo conhecia a cultura e a usava. Ele usa a cultura grega como ponto de partida de seu discurso e podia até se lembrar das palavras dos poetas gregos:
"Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO... Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração".