O que devo fazer para ser "mais e mais" cristão?
Não há como ser "mais e mais" cristão. Vejo que ainda associa cristianismo a uma evolução espiritual. Não é isso o que a Bíblia ensina. Obviamente existe a cristandade, que vive segundo uma série de regras e conceitos baseados nos evangelhos, mas não é disto que estou falando. Alguém definiu cristianismo como a neve pura que desce do céu, e cristandade como a lama que ela produz ao entrar em contato com o chão (o mundo).
É bom explicar que o que sou hoje não é a chegada do itinerário que percorri. Eu poderia não ter percorrido itinerário algum e reconheço hoje que fui muito "cabeça dura" e orgulhoso demais para aceitar que a salvação era uma dádiva gratuita, que não dependia de meus esforços, inteligência, boas obras etc. Nada dependia de mim, porque não havia nada em mim que quisesse realmente e sinceramente buscar a Deus. Hoje entendo isso lendo o que Paulo, um intelectual e mestre do judaísmo de seu tempo, afirmou:
"Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus."(Rm 3:11)
"Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum"(Rm 7:18)
Cristianismo real tem tudo a ver com novo nascimento. Ou você é nascido de novo (literalmente, "nascido do alto") ou não é. Se não é, continua morto. Se nasceu de novo, está vivo com a vida que procede de Deus. Uma nova vida, uma nova posição, uma nova perspectiva que vai muito além daquela que nossos olhos ou mente conseguem alcançar. Um dos homens letrados dos tempos do Senhor Jesus foi confrontado com esta questão.
Para entender o que falo, sugiro que leia o capítulo 3 do evangelho de João. A serpente à qual o Senhor se refere ali foi um episódio ocorrido com os israelitas na peregrinação Egito-Canaã via deserto, quando foram atacados por serpentes. Deus ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze e a levantasse na ponta de uma haste. Quem olhasse para a serpente de bronze era curado. Aquilo era um tipo de Cristo, que um dia seria levantado.
O cristão tem um antes e um depois muito claro, assim como dividimos o tempo em AC e DC. Para o cristão, sua vida divide-se em antes da cruz e depois da cruz. Se ler Efésios capítulo 2 vai encontrar uma descrição muito clara da diferença, do antes e do depois e de como passamos de um lado para o outro. Não é um progresso, mas uma mudança imediata e radical, de perdido para salvo, de morto para vivo, de estranho para filho.
No mesmo evangelho de João, cap. 5:23, há um versículo muito bom para entender essa mudança:
"Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas PASSOU da morte para a vida."
Atente para o tempo dos verbos para ver que é uma mudança imediata baseada em apenas uma condição que é crer. Quem ouve (presente) e crê (presente) tem (agora mesmo) a vida eterna. Passa a ser alguém neste mundo com uma vida que não é deste mundo e nem temporal.
Quanto ao futuro, não entrará em condenação algumas versões trazem "juízo" ou “julgamento”, o que põe por terra a ideia infantil de que depois da morte há um julgamento, com uma balança que irá pesar o bem e o mal que fizemos e nos permitir ou não a entrada no céu. Para o incrédulo, sim, haverá o que a Bíblia chama de “juízo final”, mas não se trata de um julgamento no sentido de condenar ou absolver, pois naquela hora não haverá absolvição. Trata-se de um julgamento apenas para sentença. (Ap 20).
Quanto aos que verdadeiramente creram, estes já tinham passado da morte para a vida antes, portanto como Deus iria julgar quem foi perdoado e salvo? O único julgamento (se é que podemos chamar assim) que aparece para o cristão é um julgamento como acontece nos concursos de miss ou de obras de arte. Apenas para classificação daquilo que o cristão fez como tal (depois de salvo), para ver se prestou ou não o que ele fez (não sua pessoa, mas sua obra).