CAPÍTULOS 5-7
Duas coisas são então postas em evidência na narrativa do Evangelho.
A primeira é o poder que acompanha a proclamação do reino, fato anunciado em dois ou três versos (1), sem qualquer outro pormenor. 0 reino é proclamado com atos de poder que chamam a atenção de todo o país, de todo o t em tório do antigo Israel. Jesus aparece diante deles investido desse poder.
Segunda (capítulos 5 a 7), é o caráter do reino, anunciado no sermão da montanha, assim como o caráter das pessoas que deverão ter parte nele (sendo revelado ao mesmo tempo o nome do Pai).
(1) Podemos notar aqui, com já fizemos- anteriormente, que Ele deixa os Judeus e Jerusalém, e o Seu lugar natural, por assim dizer, que Lhe dava o Seu nome — Nazaré — e toma o Seu lugar profético. A prisão de Jacó era o sinal da Sua própria rejeição. João era também ali o Seu precursor, como, na sua missão, o tinha sido do Senhor (ver capítulo 17:2). O testemunho de Jesus c o mesmo que o de João Batista.
Quer dizer, o Senhor tinha anunciado a vinda do reino, e, com o atual poder de bondade, tinha vencido o adversário; mostra então quais eram as verdadeiras características segundo as quais o reino seria estabelecido, quem entraria nele, e como. Não se fala aqui de redenção, mas sim do caráter e da natureza do reino, e de quem nele poderia entrar. Isto mostra claramente a posição moral que este sermão ocupa no ensino do Senhor.
É evidente que, em toda esta parte do Evangelho, o assunto do ensino do Espírito Santo é a posição do Senhor, e não os pormenores da Sua vida. Os pormenores vêm depois para mostrar plenamente o que Ele era no meio de Israel, as Suas relações com o povo e a Sua carreira no poder do Espírito que conduziu à rotura entre o Filho de Davi ô o povo que deveria tê-Lo recebido. Despertada deste modo a atenção de todo o País pelos Seus atos de poder, o Senhor põe diante dos discípulos — mas aos ouvidos do povo—os princípios do Seu reino.
Podemos distinguir neste discurso as seguintes partes (1): (1) A divisão que damos pode ajudar de maneira prática à aplicação do sermão da montanha. Quanto aos assuntos que este discurso encerra, poder-se-ia, talvez, embora a diferença não seja muito grande, dividi-lo ainda melhor assim: O capítulo 5:1-16 contém o quadro completo do caráter e da posição do Remanescente, que recebe as instruções do Senhor, a posição desse Remanescente tal como ela d o í a ser segundo os propósitos de Deus. Isto é completo em Si.
Os versos 17-48 do capítulo 5 estabelecem a autoridade da lei que deveria ter regulado o comportamento do fiel até à introdução do reino, lei que eles deveriam ter cumprido, assim como as palavras dos profetas, a fim de que eles (o Remanescente) fossem colocados sobre esse novo campo; todo aquele que fosse culpado do desprezo dessa lei seria excluído do reino.
Mas, estabelecendo assim a autoridade da lei, retoma os dois grandes elementos do mal, tratados somente nos atos exteriores da lei, violência e corrupção, e julga o mal no coração (capítulo 5, versos 22 e 28); é preciso, custe o que custar, que o homem se livre do mal e de toda a ocasião de o fazer, mostrando assim como deveria ser o comportamento dos Seus discípulos e o estado da sua alma — o que deveria caracterizá-los sob esse aspecto.
O Senhor considera então certas coisas toleradas por Deus em Israel e ordenadas segundo o que Ele podia suportar. Traz em seguida, à luz de uma verdadeira avaliação moral, o divórcio — sendo o casamento a divinamente estabelecida de todas as relações humanas — é os juramentos ou voto»; a ação da vontade do homem em relação com Deus, depois o suporte do mal e a plenitude da graça, quer dizer, o seu caráter abençoado que trazia com ele o título moral do Que era o seu expressivo lugar — filhos do Pai que estava nos Céus.
Em lugar de enfraquecer o que Deus exigia, sob a lei. Ele queria não só que se observasse a lei até ao seu cumprimento, mas também que os Seus discípulo? fossem perfeitos como perfeito é o Pai que está nos céus.
Isto Junta à revelação do Pai o comportamento moral e o estado espiritual que convinha ao caráter dos filhas, tal como era revelado em Cristo.
No capítulo 6, temos os motivos, o alvo, que devem governar o coração fazendo o bem, levando uma vida espiritualmente sã. Os olhos dos discípulos deviam estar postos no Pai. Isto é individual.
O capítulo 7 ocupa-se essencialmente do que convém aos discípulos de Jesus quanto às suas relações cora os outros — não julgar os seus irmãos e ter cuidado com os profanos (versos 1-6). Em seguida o Senhor exorta os Seus a confiarem no Pai, pedindo que o que lhes fizer falta; ensina-lhes a agir para com os outros segundo essa mesma graça que gostaríamos de ver posta em prática para conosco mesmo.
Isto é fundado no conhecimento da bondade do Pai (versos 7-12).
Enfim, o Senhor exorta os Seus à energia que os fará entrar pela poria estreita e tomar, custe o que custar, o caminho de Deus (porque muitos gostariam de entrar no reino, mas não por essa porta).
Adverte-os a respeito daqueles que haviam de procurar enganá-los, pretendendo possuir a Palavra de Deus. Não é só o nosso próprio coração, e o mal propriamente dito, que são de temer quando se trata de seguir o Senhor, mas também as ciladas e os agentes do Inimigo.
Mas estes revelar-se-ão pelos seus próprios frutos.
O caráter e a posição daqueles que estarão no reino (capítulo 5:1-12).
A sua posição no mundo (capítulo 5:13-16).
Às relações dos princípios do reino com a lei (capítulo 5:17-48) (1).
(1) É no entanto, importante notar que não há espiritualização da lei como frequentemente se pretende. Trata-se de dois grandes princípios de imoralidade entre os homens (violência e má cobiça), aos quais se juntam os juramentos voluntários. Há nisto um contraste entre as exigências da lei é o que Cristo requeria.
O espírito em que os discípulos de Jesus devem fazer as boas obras (capítulo 6:18).
A separação do espírito do mundo e dos seus anseios (capítulo 6:19-34).
O espírito das relações dos discípulos com os outros homens (capítulo 7:1-6).
À confiança em Deus que lhes convinha (capítulo 7:7-12).
A energia que deve caracterizá-los para entrarem no reino; não meramente para ali entrar — muitos procurariam fazê-lo — mas para entrarem segundo aqueles princípios que tornam a entrada difícil ao homem, para ali entrarem segundo os princípios de Deus —pela porta estreita; mas também os meios para discernirem aqueles que procurarão enganá-los, bem como a vigilância necessária para não se deixarem enganar (capítulo 7:13-23).
Finalmente, obediência verdadeira e prática às palavras do Senhor, a verdadeira sabedoria dos que escutam as Suas palavras (capítulo 7:24-29).
Existe outro princípio que caracteriza este discurso: é a introdução do nome do Pai. Jesus coloca os Seus discípulos em relação com Seu Pai, como sendo o Pai deles; revela-lhes o nome do Pai, para que eles estejam em relação com Ele, e para que possam atuar segundo o que Ele é.
Este discurso apresenta os princípios do reino, mas supõe a rejeição do Rei; apresenta a posição em que essa rejeição conduziria aqueles que são Seus e que devem esperar um galardão celestial. Deviam ser um aroma divino em que Deus era conhecido e atuava, e seriam um espetáculo para o mundo inteiro. Era este, aliás, o objetivo de Deus. O seu testemunho devia ser tão claro que o mundo teria de atribuir as suas obras ao Pai. Deviam agir, por um lado, no tocante ao mal que atingia o coração e os motivos; e, por outro lado, segundo o caráter do Pai em graça, confiarem-se à aprovação do Pai, que vê em tudo o que é secreto, em tudo onde o olhar do homem não pode penetrar.
Deviam ter absoluta confiança n'Ele para todas as suas necessidades.
A Sua vontade era a regra mediante a qual se entra no reino.
Podemos ver como este discurso está relacionado com a proclamação do reino como estando próximo; e que todos estes princípios de conduta são dados como características do reino e como condições para entrada nele. Sem dúvida, resulta daí que eles convêm àqueles que ali entraram. Mas o discurso é pronunciado no meio de Israel (1), antes de o reino ser estabelecido, e como estado prévio para nele entrai e para estabelecer os princípios fundamentais do reino em relação com esse povo, e em contraste moral com a ideia que Israel dele tinha feito.
(1) É preciso lembrar sempre que, enquanto Israel tem, de maneira dispensacional, uma grande importância como centro do governo de Deus neste mundo, era moralmente no homem que iodos os caminhos e todas as relações de Deus tinham sido desenvolvidos, de maneira a revelar o que o homem era. O Gentio era o homem entregue a si próprio, quanto aos caminhos especiais de Deus e, por isso, não era manifestado. Cristo era uma luz (eis apocalupstn ethnôn) que revelava os Gentios.
Examinando as bem-aventuranças, descobriremos que esta parte do discurso nos dá em geral o caráter do próprio Cristo. Estas bemaventuranças supõem duas coisas: a posse futura da terra de Israel pelos simples; e a perseguição do Remanescente fiel, verdadeiramente justo em seus caminhos e que afirmava os direitos do verdadeiro Rei (o Céu foi apresentado a esse Remanescente como esperança para manter o seu coração) (1).
(1) É preciso notar, embora de passagem, os caracteres que sua verdadeiramente abençoados. Eles supõem o mal no mundo o no meio do povo de Deus, Primeiramente não procura grandes coisas para si mesmo, aceitando um lugar inferior, desprezado, no meio de uma cena contrária a Deus, Eis porque são caracterizados pelas aflições e pela complacência, por uma vontade que não se eleva contra Deus ou que não defende a sua posição ou os ssii5 direitos. Sente-se então o desejo de um bem positivo, porque não o possuímos ainda; estar dele faminto e sequioso tais são quer o estado inferior quer a atividade do espirito. Manifesta-se então a graça para com os outros, do mesmo modo como a pureza do coração e a ausência de tudo o que poderia excluir a Deus c aquilo que Lhe está sempre ligado; a paz e tudo o que a procura. Creio que é nesses versos uma progressão moral, um conduzindo sempre ao outro, como sendo um o efeito do outro. Nos dois últimos vemos as consequências da manutenção de uma boa consciência e da relação com Cristo num mundo de pecado. Há, como em 1 de Pedro, dois princípios de sofrimento: Pela Justiça e por amor de Cristo.
Esta será, com efeito, a posição do Remanescente nos últimos dias antes da introdução do reino. Moralmente, era assim em relação com Israel no tempo dos discípulos do Senhor, estando suspensa a parte terrestre do reino. Em vista do Céu, os discípulos são considerados como testemunhas em Israel; mas—embora fossem o único meio de preservar a Terra — eram um testemunho para o mundo.
De modo que os discípulos são encarados em relação com Israel, mas, ao mesmo tempo, como testemunhas da parte e Deus no mundo (o reino estava à vista, mas ainda não estava estabelecido). A relação com os últimos dias é evidente; contudo o testemunho dos discípulos tinha então moralmente este caráter. Somente o estabelecimento do reino terrestre foi suspenso, e a Igreja, que é celeste, foi introduzida. O capítulo 5:25 faz evidentemente alusão à posição de Israel no tempo de Cristo. De fato Israel fica cativo, em prisão, até que tenha recebido o seu pleno castigo; depois será libertado.
O Senhor fala e atua sempre como homem obediente, movido e guiado pelo Espírito Santo; Mas vê-se, da maneira mais notável, neste Evangelho, quem é Aquele que assim atua; é o que dá ao reino dos Céus o seu verdadeiro caráter moral. João Batista podia anunciá-lo como uma mudança de dispensação, mas o seu ministério era terrestre.
Cristo podia igualmente anunciar esta mesma verdade (e essa mudança de dispensação era importantíssima), mas havia n'Ele algo mais do que isso. Ele era do Céu, o Senhor que vinha do Céu. Falando do reino dos céus, falava do profundo e divino sentimento do Seu coração. Ninguém havia estado no Céu, senão Aquele que do Céu havia descido, o Filho do homem, que estava no Céu (João 3:13).
Portanto, falando do Céu, Jesus dizia o que sabia e dava testemunho do que tinha visto. Esta verdade, como é apresentada no Evangelho segundo S. Mateus, reaii2a-se de duas maneiras.
Já não se tratava de um governo terrestre, segundo a lei; Jeová, o Salvador, Emanuel, estava presente. Poderia ser diferente no Seu caráter celestial, no espírito, nos princípios essenciais de toda a Sua vida? Além disso, quando Cristo começou o Seu ministério público e foi ungido com o Espírito Santo, o Céu abriu-se sobre Si. Foi identificado com o Céu como homem selado com o Espírito Santo na Terra.
Assim, Ele era a expressão contínua do espírito, da realidade do 'Céu.
Não existia ainda o exercício do poder judicial que manteria este caráter aos olhos de todos os que se lhe opunham. Era a manifestação desse caráter em paciência, não obstante a oposição de todos em redor d'Ele e da incapacidade dos Seus discípulos para O compreenderem.
Por isso encontramos no sermão da montanha a descrição do que convém ao reino do Céu, e até mesmo da certeza do galardão para aqueles que sofrerem na Terra por amor do Seu nome. Esta descrição, como vimos, é essencialmente do caráter do próprio Cristo... E assim que um coração celestial se exprime sobre a Terra. Se o Senhor ensinava estas coisas, é porque as amava, porque as encarnava e nelas se deleitava. Sendo o Deus do Céu, cheio, como homem, do Espírito Santo, sem medida, o Seu coração estava perfeitamente em harmonia com um céu que Ele conhecia perfeitamente. Por conseguinte, concretiza o caráter que os Seus discípulos deviam assumir com estas palavras: «Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus». Todo o seu comportamento devia, pois, estar em relação com o Pai celeste (ver 5:48).
Quanto mais compreendemos a glória divina de Jesus e a maneira como Ele estava em relação com o Céu como homem, tanto mais entendemos o que era para Jesus o reino dos céus, sob o ponto de vista do que convinha a esse reino. Quando esse reino for estabelecido mais tarde cm poder, o mundo será governado segundo esses princípios, embora não sejam, propriamente falando, princípios do mundo.
O Remanescente dos últimos dias, estou certo, vendo que tudo ao redor de si é contrário à fidelidade, e notando que toda a esperança Judaica se desvanece aos seus olhos, será forçado a olhar para cima, e cultivará mais e mais este caráter, que, se não é celestial,6t pelo menos, muito semelhante a Cristo (1).
(1) Aqueles que sofreram e morreram, subirão ao céu como testemunham Mateus 5:12 e Apocalipse, Os outros, tomados semelhantes a Cristo, estarão com Ele no Monte Sião; aprenderão o cântico cantado no Céu e acompanharão o Cordeiro para qualquer parte que Ele vá (neste mundo).
Poderemos ainda fazer notar aqui que nas bem-aventuranças promessa da Terra é feita aos mansos (capítulo 5:5), e cumprir-se-á à letra nos últimos dias. No verso 12 do mesmo capítulo há a promessa de uma recompensa nos céus para aqueles que sofrerem por Cristo, promessa verdadeira para nós Aflora, e verdadeira de qualquer modo para aqueles que forem mortos por amor de Jesus nos últimos dias, que terão o seu lugar no Céu, muito embora tenham feito parte do Remanescente Judeu e não da Igreja. Encontra-se o mesmo tema cm Daniel 7; simplesmente, é preciso notar que são os tempos e a lei — e não os santos — que são entregues nas mãos da Besta.
Há duas coisas que se ligam à presença das multidões, no verso 1.
Primeira, o momento exigia que o Senhor desse uma verdadeira ideia do caráter do Seu reino, visto que já atraía após Si a multidão.
Fazendo-se sentir o seu poder, importava tornar conhecido o seu caráter. Por outro lado, essa multidão que seguia a Jesus representava uma armadilha para os Seus discípulos; e o Senhor faz-lhes compreender o perfeito contraste que existia entre o efeito que essa multidão podia produzir sobre eles, e o verdadeiro espírito que devia governa-os. Assim, cheio Ele próprio do que era realmente bom e apresenta imediatamente o que enchia o Seu próprio coração. Este era o verdadeiro caráter do Remanescente, que, em geral, se assemelhava a Cristo nisso. É muitas vezes assim nos Salmos.
O sal da Terra é algo muito diferente da luz do mundo.
A terra, creio, representa aqui o que já fazia profissão de ter recebido a luz da parte de Deus — o que estava em relação com Ele em virtude dessa luz — tendo revestido perante Ele uma forma definida. Os discípulos de Cristo eram o princípio de preservação na Terra. Eram a luz do mundo, que não possuía essa luz. Esta era a posição deles, quer quisessem quer não. Era o propósito de Deus que eles fossem a luz do mundo, e não se acende uma luz para a esconder.
Tudo isto supõe a possibilidade do estabelecimento do reino neste mundo, se a maioria dos homens a ele se não opusesse. Não se trata da questão da redenção do pecador, mas da realização do caráter que era próprio a um lugar no reino de Deus; lugar que o pecador devia procurar enquanto se encontrava no caminho com a sua parte adversa, para não ser entregue ao juiz — o que, na realidade, aconteceu ao Judeu.
Ao mesmo tempo, os discípulos são colocados individualmente em relação com o Pai—o segundo grande princípio do discurso, como consequência da presença do Filho —e Jesus apresenta-lhes algo mais excelente do que a sua posição de testemunho do reino. Deviam atuar em graça, do mesmo modo como o Pai agia, e deviam orar por uma ordem de coisas em que tudo correspondesse moralmente ao caráter e a vontade do Pai. «Santificado seja o teu nome; venha o teu reino» (1); quer dizer que tudo corresponda ao caráter do Pai, a fim de que tudo seja o efeito do Seu poder. «Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu»; é a perfeita obediência (capítulo 6:9-30). A sujeição universal a Deus no céu e na terra será, até certo ponto, conseguida pela intervenção de Cristo no milénio; e absolutamente realizada quando Deus for tudo em todos.
(1) Quer dizer, o do Pai. Comparar Mateus 13:43.
Entretanto a oração exprime a dependência diária, a necessidade de perdão, a necessidade de se ser guardado do poder do inimigo, o desejo de se não ser por ele joeirado, como ato disciplinar de Deus, como no caso de Jó ou de Pedro, e de se ser guardado do mal.
É ainda uma oração em relação com a posição do Remanescente; ultrapassa a dispensação do Espírito, e até mesmo o que é próprio do milénio como reino terrestre, a fim de exprimir os justos desejos do Remanescente, e falai" do seu estado e dos seus perigos, até que venha o reino do Pai. Muitos destes princípios são sempre verdadeiros, porque estamos no reino, e devemos manifestar em espírito os seus sinais; mas a aplicação especial e literal desta passagem é mesmo aquela que acabo de dar. Os discípulos são postos em relação com o Pai na realização do Seu caráter, que devia manifestar-se neles em virtude dessa relação, promovendo neles o desejo do estabelecimento do Seu reino e ultrapassarem as dificuldades dum mundo inimigo, guardando-se das ciladas do "Diabo, e cumprindo a vontade do Pai.
Jesus concedia-lhes tudo isso.
Assim Jesus passa da lei (1), reconhecida como vindo de Deus, ao cumprimento dessa lei, quando ela for, por assim dizer, absorvida na vontade d'Aquele que a deu, ou cumprida nos seus propósitos por Aquele que somente Ele podia fazê-lo fosse em que sentido fosse.
(1) A lei é a regra perfeita para um filho de Adão, a regra ou a medida do que ele deve ser, mas não da manifestação de Deus em graça, como o era Jesus Cristo, que é o nosso modelo nisso—é um justo convite a amar a Deus e a andar no cumprimento do dever em relação com Ele, mas não uma imitação de Deus, andando no amor, como Cristo nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós.