CAPÍTULO 25
Os professos, durante a ausência do Senhor, são apresentados aqui como virgens que saem ao encontro do Noivo para O alumiarem no Seu caminho até casa. Nesta passagem Ele não é o Noivo da Igreja.
Ninguém mais vai ao Seu encontro para as Suas bodas com a Igreja no Céu.
A noiva não aparece nesta parábola. Se ela tivesse sido introduzida, teria sido Jerusalém sobre a Terra. A Igreja, como tal, não está em cena nestes capítulos.
Trata-se aqui da responsabilidade individual (1) durante a ausência de Cristo, O que caracterizava os fiéis nesta época é que eles saíam do mundo, do Judaísmo, de tudo, até da religião em relação com o mundo, para irem ao encontro do Senhor que vem.
(1) Quanto aos servos, no capítulo 24, trata-se de responsabilidade coletiva.
O Remanescente judaico, pelo contrário, espera Jesus no lugar onde se encontra.
Se esta expectativa fosse real, o pensamento daquilo que será necessário para Aquele que vem — a luz, o azeite — caracterizava o que é governado por ele. Por outro lado, bastará ao coração esperar na companhia dos professos e levar lâmpadas com eles. No entanto, as virgens tomam todas, a sua posição; saem; deixam a casa para irem ao encontro do Noivo. Ele demora. É isto o que tem acontecido.
Todas adormecem (verso 5). Toda a igreja professante perdeu o pensamento do regresso do Senhor — até mesmo os fiéis que têm o Espírito. Devem ter ido também a qualquer lado para dormirem comodamente — a um lugar de repouso para a carne. Mas à meianoite, subitamente, ouve-se o clamor: «Aí vem o Esposo; saí-Lhe ao encontro!» (verso 6). Mas, ai! Ainda temos necessidade da mesma chamada, como no princípio- Ainda devemos sair para irmos ao Seu encontro. As virgens levantara-se e espevitara as suas lâmpadas. Há tempo bastante entre o clamor da meia-noite e a chegada do Noivo para, verificar o estado de cada uma. Ora, havia virgens que não tinham azeite nas suas vasilhas. As suas lâmpadas tinham-se apagado (1).
(1) A palavra significa antes; Tochas. Elas tinham, ou deveriam ter azeite nas suas vasilhas para alimentar a chama.
As prudentes tinham azeite, mas era-lhes impossível partilhá-lo com as outras. Somente as que o tinham entraram com o Noivo para tomarem parte nas bodas (versos 7-10). O esposo recusa reconhecer as outras. Que tinham elas que fazer ali? As virgens deviam iluminar com as suas lâmpadas.
Não o tinham feito. Porque haviam então de partilhar da festa? Tinham falhado naquilo que lhes garantia ali um lugar. A que título teriam elas agora o direito de ali entrarem? As virgens que estavam na festa eram as que acompanhavam o Noivo. Aquelas não o tinham feito. Também não entrariam na festa. Mas até mesmo os Cristãos fiéis têm esquecido a vinda de Cristo! Adormeceram! ...
Mas, pelo menos, possuíam o que era essencial para essa vinda. A graça do Noivo faz com que o clamor seja ouvido (verso 6), proclamando a Sua chegada. O clamor desperta as virgens; elas têm azeite nas suas vasilhas; e a demora, que dá lugar a que as lâmpadas das infiéis se apaguem, dá tempo às fiéis para se prepararem e estarem no seu lugar; e, por muito esquecidas que possam ter sido, entram com o noivo para a festa nupcial (1).
(1) Note-se aqui que o despertar é produzido pelo grito. Ele desperta tudo. Ê suficiente para provocar em todos os praticantes uma atividade necessária, mas tem por efeito pô-los todos à prova, e separá-los. Não eia o momento de obter azeite ou socorros de graça daqueles que eram já praticantes; a conversão não 6 o tema desta parábola. Não duvido de que a questão do se procurar azeite não está ali senão para mostrar que não era o momento de o fazer.
Passemos agora do estado de alma ao serviço. Porque, na verdade (verso 14), isto é como um homem que, tendo de se ausentar de sua casa — porque o Senhor habitava em Israel — confia os seus bens aos seus servos antes de partir. Temos aqui os princípios que caracterizam, os servos fiéis, ou o contrário. Não se trata agora da espera pessoal, individual, e da posse do azeite necessário para ter um lugar no cortejo glorioso do Senhor; também não se trata da posição pública e geral daqueles que estavam ao serviço do Mestre, caracterizada no seu conjunto como uma posição, e assim designada por um só servo; mas o que encontramos aqui é a fidelidade individual no serviço, como antes na expectativa do Noivo. O Mestre, no Seu regresso, regulará as Suas contas com cada um, individualmente.
Ora, qual era a posição dos servos? Qual é o princípio que produzirá a fidelidade? Note-se em primeiro lugar que não se trata de dons providenciais, de bens terrestres. Não são “os bens” que Jesus confiou aos Seus servos quando Se ausentou. Eram dons que os preparavam para o labor no Seu serviço enquanto Ele estivesse ausente. O Mestre era soberano e sábio. Deu diferentemente a cada um, e a cada um segundo a sua capacidade. Todos eram aptos para os serviços que lhes eram confiados, e eram-lhes concedidos os dons necessários para a sua realização. Fidelidade no seu desempenho era a única coisa que estava em questão. O que distinguia os fiéis dos infiéis era a confiança no seu Mestre.
Tinham bastante confiança no Seu bem conhecido caráter, na Sua bondade, no Seu amor para trabalharem sem outra autorização além do conhecimento que eles tinham do Seu caráter pessoal e da inteligência que essa confiança e esse conhecimento produziam. Que necessidade havia de lhes dar importantes somas de dinheiro, se não fosse para negociarem com elas? Acaso Ele se havia enganado quando lhes concedeu esses dons? A dedicação que resultava do conhecimento que eles tinham do seu Mestre contava com o amor d'Aquele que eles conheciam. Trabalhavam e eram recompensados.
Este é o verdadeiro caráter e o motivo do serviço na Igreja. Alas era isto o que faltava ao terceiro servo. Não conhecia o seu Mestre — não confiava n'Ele.
Nem sequer soube fazer o que era consequente com os seus próprios pensamentos (versos 24-27). Esperava uma autorização que lhe desse segurança contra o caráter que o seu coração atribuía falsamente ao seu Mestre. Aqueles que conheceram o caráter do seu Mestre entraram no Seu gozo.
Existe uma diferença entre esta parábola e a de Lucas 19:12-27. Nesta, cada servo recebe uma mina; a responsabilidade é a única coisa que está em causa. Portanto, aquele que ganhou dez minas é estabelecido sobre dez cidades. Na primeira trata-se da soberania e da sabedoria de Deus, e aquele que trabalha é guiado pelo conhecimento que possui do seu Mestre e os desígnios de Deus em graça são cumpridos. O que tem a maior parte recebe ainda mais (versos 20,21 e 29), A recompensa é, ao mesmo tempo, mais geral. Aquele que ganhou dois talentos e o que ganhou cinco entram ambos e de igual modo no gozo do Senhor que serviram (versos 21 e 23). Conheceram-No sob o Seu verdadeiro caráter; entram no Seu pleno gozo. Que o Senhor nos conceda a todos a mesma graça! Mas há mais que isso na parábola das virgens. Refere-se mais direta e mais exclusivamente ao caráter celestial dos crentes. Não se trata da Igreja propriamente dita, como corpo, pois os fiéis saíram para irem ao encontro do Noivo, que voltava para as todas. O reino dos céus, quando o Senhor voltar para executar o Julgamento, tomará o carácter de pessoas saídas do mundo e mais ainda do Judaísmo — de tudo o que pertence à carne sob a forma de religião; de toda a forma mundana estabelecida — para não terem de tratar senão com o Senhor que vem, e para irem para Ele.
Este era o caráter dos fiéis desde o princípio, como tendo parte no reino dos céus, se compreendessem a posição em que a rejeição de Cristo os tinha colocado. As virgens, é verdade, entraram de novo, e isso falseava o seu caráter; mas o clamor da meia-noite repô-las no seu verdadeiro lugar. Por isso elas entram com o Noivo, e não se trata de julgar nem de recompensar, mas de estar com Cristo.
Na primeira parábola e na de Lucas o assunto é o regresso de Jesus à Terra, e a recompensa individual — resultado, no reino, do seu comportamento durante a ausência do Rei (1).
(1) Na parábola dos talentos, em Mateus, temos, sem dúvida, o estabelecimento «sobre muito»; é o Reino, mas há um sentido mais completo na expressão: Entra no gozo do teu Senhor; e a bênção é ali uniformemente derramada sobre todos aqueles que têm sido fiéis no serviço, grandes ou pequenos.
Não se trata disso na parábola das virgens. As que não têm azeite não entram de modo nenhum na festa de núpcias. Isto basta. As outras tem a sua bênção em comum; entram com o Noivo para a festa. Não se trata de recompensa particular, nem de diferença de comportamento entre elas. Era a expectativa dos seus corações, embora a graça tivesse de as restaurar. Qualquer que tivesse sido o lugar do serviço, o galardão estava certo. Esta parábola diz respeito e limita-se à parte celestial do reino como tal. É uma semelhança do reino dos céus.
Podemos notar aqui que a demora do Mestre é igualmente assinalada na terceira parábola (verso 19): «E muito tempo depois». A fidelidade e a constância dos servos eram assim postas à prova. Que o Senhor nos conceda a graça de sermos achados agora no fim dos tempos, fiéis e dedicados, para que possa dizer-nos: «Bem está, servos bons e fiéis!». Uma coisa digna de nota, é que, nestas parábolas, os servos, ou os que saíram no princípio, são os mesmos que se encontram no fim.
O Senhor não mantém a suposição da demora além de «nós, os que ficarmos vivos» (1).
(1) É assim a respeito das igrejas no Apocalipse. O Senhor fala as igrejas que existiam, embora essas assembleias sejam — não duvido— urna história completa da Igrejas.
Lágrimas e ranger de dentes são a porção daquele que não tem conhecido o seu Mestre, e que O tem ultrajado com os pensamentos que alimentou acerca do Seu caráter.
A história profética, interrompida desde o fim do verso 31 do capítulo 24, é retomada no verso 31 do capítulo 25.
Vimos o Filho do homem aparecer como um relâmpago e em seguida juntar o Remanescente de Israel dos quatro ventos da terra. Mas não é tudo. Se Ele aparece assim de maneira súbita e inesperada, estabelece igualmente o Seu trono de Justiça e de glória sobre a Terra. Se destrói os Seus Inimigos, que encontra sublevados contra Si, assenta-Se também no Seu trono para julgar todas as nações.
Este é o Julgamento sobre a Terra dos vivos.
Encontram-se aqui quatro partes diferentes: O Senhor, o próprio Filho do homem—os irmãos, as ovelhas e os bodes. Creio que os irmãos aqui são os Judeus, esses Judeus que Ele tinha empregado como mensageiros para pregarem o reino durante a Sua ausência. O Evangelho do reino devia ser pregado como testemunho a todas as nações; e então viria o fim do século. Ora, isto tinha já tido lugar na época de que se fala aqui. O resultado disso será manifestado perante o trono do Filho do homem sobre a Terra.
O Senhor chama, pois, a esses mensageiros «Seus irmãos». Tinha-lhes dito que seriam maltratados, e eles o foram. No entanto havia homens que tinham recebido o seu testemunho.
Ora, era tal a afeição do Senhor pelos Seus fiéis servos, era tal o caso que fazia deles que julgava aqueles a quem o testemunho era enviado conforme a maneira como eles tinham recebido esses mensageiros, quer em bem quer em mal, como se eles tivessem feito essas coisas a Si próprio.
Que encorajamento para as Suas testemunhas, durante esses tempos de tribulação, onde a atividade da sua fé será posta à prova! Ao mesmo tempo fazia-se moralmente justiça àqueles que eram julgados; porque tinham rejeitado o testemunho, fosse quem fosse aquele que o tinha prestado.
Em seguida a Palavra de Deus dá-nos as consequências do comportamento, quer de uns, quer de outros, é o Rei — porque este é o caráter que Cristo tomou agora sobre a Terra—que pronuncia o Juízo; e chama «as ovelhas» (aqueles que tinham acolhido os mensageiros e tinham simpatizado com eles nos seus sofrimentos e nas suas perseguições) para herdarem do reino que lhes tinha sido preparado desde a fundação do mundo; pois tais tinham sido as intenções de Deus a respeito desta Terra. Deus tinha sempre em vista o reino. Eles eram os benditos de Seu Pai (do Pai do Rei). Não se tratava de filhos que compreendessem a sua própria relação com o Pai; mas eram o objeto da bênção do Pai do Rei deste inundo. Além disso eles deviam entrar na vida eterna; porque tal era, por graça, o poder da Palavra que eles tinham recebido em seus corações.
Possuidores da vida eterna, eles serão abençoados num mundo abençoado também (verso 34).
Aqueles que tinham desprezado o testemunho e as testemunhas, tinham, por essa mesma razão, desprezado o Rei que os tinha enviado; irão para os tormentos eternos (versos 45-46).
Assim, todo o efeito da vinda de Cristo, em relação com o reino e Seus mensageiros durante a Sua ausência, é desenrolado perante os nossos olhos: A respeito dos Judeus, até ao verso 31 do capítulo 24; a respeito dos Seus servos, durante a Sua ausência, até ao fim do verso 30 do capítulo 25, incluindo o reino dos céus no seu estado atual e os galardões celestiais que serão concedidos; e em seguida, acerca das nações abençoadas sobre a Terra aquando do Seu regresso, desde o verso 31 deste capítulo 25 até ao fim.