CAPÍTULO 23
Este capítulo mostra claramente até que ponto os discípulos são considerados em relação com a nação enquanto povo judeu, embora o Senhor julgue os chefes que seduziam o povo e desonravam a Deus com a sua hipocrisia. Jesus diz à multidão e aos Seus discípulos (verso 2): «Na cadeira de Moisés se assentaram os Escribas e os Fariseus».
Sendo deste modo os intérpretes da lei, deviam ser obedecidos em tudo o que diziam segundo a lei, embora o seu comportamento não fosse senão hipocrisia, O que é importante aqui é a posição dos discípulos, que é efetivamente a mesma que a de Jesus. Estão em relação com tudo o que é de Deus na nação, isto é, com a nação enquanto povo reconhecido de Deus — por consequência com a lei como tendo autoridade da parte de Deus. Ao mesmo tempo o Senhor julga, e os discípulos também deviam na prática julgar o andamento da nação, enquanto representada publicamente pelos seus chefes.
Deviam cuidadosamente evitar o comportamento dos Escribas e dos Fariseus, embora continuando a fazer parte da nação.
Depois de ter reprovado a esses pastores do povo a sua hipocrisia, o Senhor assinala a maneira como eles próprios condenavam os atos dos seus pais — edificando os sepulcros dos profetas que eles tinham assassinado. Eles eram, pois, os filhos daqueles que tinham morto os profetas, e Deus punha-os à prova enviando-Lhes também profetas, justos e escribas; eles encherão a medida da sua iniquidade perseguindo e matando esses enviados—condenando-se assim eles mesmos pelas suas próprias palavras — a fim de que todo o sangue dos justos, derramado desde Abel até Zacarias, caísse sobre essa geração, como se lê nos versos 35-30.
Terrível acumulação de culpas, desde o começo da inimizade que o homem pecador, quando colocado sob responsabilidade, tem mostrado sempre para com o testemunho de Deus; e que aumentava todos os dias, porque a consciência endurecia mais e mais à medida que se obstinava contra esse testemunho. À verdade era tanto mais evidente quanto era certo que as suas testemunhas haviam sofrido. Era um escolho visível a evitar na marcha do povo.
Mas o povo perseverava em fazer o mal, e cada passo em frente nesse caminho, cada ato semelhante, ora uma prova do seu crescente endurecimento. Tudo estava acumulado sobre a cabeça dessa geração reprovada.
Note-se aqui o carácter atribuído aos apóstolos e aos profetas cristãos.
Escribas, sábios, profetas, são enviados aos Judeus — à nação rebelde.
Isto mostra claramente qual o ponto de vista em que eles são considerados neste capítulo. Até mesmo os apóstolos são «sábios», são «escribas» enviados aos Judeus.
Mas a nação—Jerusalém, a cidade bem amada de Deus — é culpada e é julgada. Cristo, como temos visto desde a cura do cego perto de Jerico, apresenta-Se como o Eterno, o Rei de Israel. Quantas vezes quis Ele ajuntar os filhos de Jerusalém, e eles não quiseram! (versos 37-39). E agora a sua casa ia ficar deserta até que, convertidos de coração, se servissem das expressões do Salmo 118, e, em seu desejo, aclamassem a vinda D'Aquele que vem em nome do Eterno, esperando a libertação das Suas mãos e pedindo-Lha— numa palavra, até que clamem: Hosana Àquele que vem. Não veriam mais a Jesus até que, humilhados de coração, proclamassem bendito Aquele que esperavam, e que agora rejeitavam — enfim, até que estejam preparados de coração. A paz virá depois; o desejo precede o Seu aparecimento.
Os últimos três versos mostram-nos claramente a posição dos Judeus, ou de Jerusalém como centro do sistema judaico perante Deus. Desde há muito, e muitas vezes, Jeová o Salvador, quisera ajuntar os filhos de Jerusalém como a galinha ajunta os seus pintainhos debaixo das suas asas, mas eles não quiseram. A sua casa permanecerá abandonada e deserta, mas não para sempre. Depois de terem morto os profetas e lapidado aqueles que lhes tinham sido enviados, os Judeus tinham crucificado o seu Messias, e rejeitado e matado aqueles que Ele lhes tinha enviado para lhes anunciarem a graça, mesmo depois da Sua rejeição.
Por isso não O verão mais até que se arrependam e o desejo de O verem germine em seus corações, de modo que estejam preparados para O bendizerem — e O bendigam em seus corações, e façam confissão desse desejo. 0 Messias, que ia deixá-los não será mais visto por eles até que o arrependimento incline os seus corações para Aquele que nesse momento rejeitavam. Depois, eles O verão. 0 Messias, vindo em nome de Jeová, será manifestado ao Seu povo Israel. Ê Jeová, o seu Salvador, Quem aparecerá, e o Israel, que 0 tinha rejeitado, como tal O verá. O povo entrará assim no gozo das suas relações com Deus.
Tal é o quadro moral e profético de Israel. Os discípulos, como Judeus, eram considerados como fazendo parte da nação, embora como um Remanescente espiritualmente separado dela, e dando testemunho no seu meio.