Opiniões Contrárias
Todavia podem existir na assembleia aqueles que não concordam com o curso de ação que a assembleia acredita que deva tomar. Se esses forem homens sérios com peso moral, a assembleia deve esperar, porém se forem amigos e partidários do indivíduo ou indivíduos em questão, não devem ser considerados. Na verdade essas pessoas devem ser repreendidas. Elas não deveriam tentar impedir que a assembleia seguisse adiante em cumprir sua responsabilidade diante do Senhor. William Kelly escreveu: “ Em casos particulares podem existir parentes ou amigos, talvez até mesmo partidários ou cúmplices numa maior ou menor medida, cujas opiniões não devem ser manifestadas e, se manifestadas, devem ser repreendidas e desconsideradas” (W. Kelly, “Bible Treasury”, vol. 11, p. 47).
Um exemplo disso ocorreu no julgamento feito pela assembleia de Nepean, Ontário, Canadá, em 1991. Os líderes e várias pessoas na assembleia em Nepean viram que a assembleia deveria adotar um curso de ação, enquanto um partido formado por apoiadores e simpatizantes do irmão em questão discordou. Estes fizeram tudo o que podiam para impedir a ação: nas reuniões de irmãos, enviando uma carta à assembleia em Perth em busca de ajuda (onde eles sabiam que encontrariam simpatizantes), e até na reunião da assembleia quando a decisão foi tomada. A assembleia em Nepean não considerou a voz desses dissidentes e a decisão foi levada a efeito.
Muitos reagem de maneira errada diante de uma decisão decorrente do julgamento de uma assembleia em particular, ao invés de buscarem conhecer os fatos relacionados ao caso, e procurarem o que é preciso fazer para a glória de Deus. O inimigo procura levantar a poeira para ocultar as verdadeiras questões envolvidas, fazendo com que as pessoas fiquem confusas. Numa situação assim pode existir também algum histórico de problemas pessoais entre irmãos, o que acaba vindo à tona e interfere em nosso julgamento. Todavia, devemos deixar que as coisas sejam decididas pelos princípios divinos, e não pelas falhas e fraquezas dos envolvidos na questão. Às vezes as pessoas podem apontar algo que acreditam ter sido tratado de maneira inadequada e então fundamentam seu julgamento naquilo, esquecendo-se de que na administração da assembleia existe o elemento humano que nem sempre irá tratar tudo com perfeição. Mas a questão que permanece é: Estarão aqueles que atuam na liderança em uma assembleia agindo para a glória de Deus em relação àquela situação? Nossa espiritualidade é colocada à prova por essas questões paralelas.
No caso de ocorrer uma divisão em uma assembleia local no julgamento de uma determinada questão (geralmente uma questão de disciplina), o número de pessoas que ocupa cada lado não é tão importante. Pode haver mais pessoas se solidarizando com a pessoa culpada do que com aqueles que estão julgando, mas mesmo assim a decisão precisa ser tomada e a pessoa ser tratada da forma como deve ser. Alguns poderiam reclamar: “Como poderia ser uma decisão de assembleia quando a maioria da assembleia não concorda com ela?”. A resposta é que os irmãos mais velhos que estão na liderança, que se empenham em cuidar da assembleia e guiá-la, e que atuam sobre os princípios da Palavra de Deus, levam sobre si a maior parcela da consciência da assembleia. Mesmo que sejam em número menor, eles levam o peso moral necessário às decisões da assembleia. Eles são diretamente responsáveis perante o Senhor para que seja adotado, pela assembleia, um curso de ação fundamentado nas Escrituras (Hb 13:17). Os outros devem aquiescer ao julgamento desses, mesmo que não sejam capazes de enxergar do mesmo modo que os anciãos estejam enxergando. Isto preserva a unidade da assembleia.
Vemos este princípio apresentado na forma de tipos no Antigo Testamento, dos quais podemos reunir importantes lições. Por ocasião da revolta de Absalão, ele tinha consigo todas as tribos de Israel (2 Sm 16:15) — a maioria, porém Deus não estava com ele. O Senhor permaneceu com o rei Davi (a liderança em Israel) e Judá, apesar de serem inferiores em número. Aqueles que se identificavam com Davi estavam do lado do Senhor. No final Deus fez com que Absalão fosse derrotado. Também nos dias da divisão entre as duas tribos e as outras dez tribos, vemos ocorrer a mesma coisa. Jeroboão tinha as dez tribos do seu lado — a maioria de Israel, mas ainda assim estava do lado errado, e o Senhor não iria identificar-Se com ele (1 Rs 11:31). Roboão, que era o líder e rei de direito sobre Israel, contava com apenas uma tribo, e mesmo assim Deus permaneceu com ele (1 Rs 11:36). Aqueles que permaneceram com Roboão foram preservados no centro divino. Estas são lições importantes que fazemos bem em aprender.
A grande pergunta é: “Como os líderes na assembleia se posicionam em relação ao assunto?” Não nos referimos aos mais velhos, mas àqueles que assumem a liderança administrativa na assembleia. Pois existem irmãos mais velhos que não se envolvem nas questões habituais da assembleia com regularidade, ou que no passado não tiveram um bom comportamento e, consequentemente, não contam com a mesma confiança que os santos depositam naqueles que se empenharam fielmente no cuidado da assembleia. É para o Senhor Jesus, a Cabeça da igreja, que a assembleia deve olhar em todas as questões, mas em uma situação normal Ele usa esses homens fiéis que Ele levantou por meio do Espírito de Deus, que conhecem os princípios da Palavra, para apresentar à assembleia o pensamento de Deus relacionado àquela questão. A assembleia deve se submeter ao julgamento desses quando precisar tratar de questões difíceis (1 Co 16:15-16). Quando parece existir uma divisão entre os irmãos mais velhos na liderança de uma assembleia, é preciso discernimento para perceber quais são os que verdadeiramente têm peso moral. Como já mencionado, alguns irmãos mais velhos podem não ter necessariamente a confiança dos santos na mesma medida que os outros, ou podem agir com parcialidade. Em 1 Tessalonicenses 5:12 -13 diz: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós”. Esta é a fórmula divina para uma assembleia pacífica e feliz.