As Razões Ocultas

Gostaríamos de pensar que aqueles que se recusam a se submeter a uma decisão da assembleia pudessem estar sinceramente enganados a respeito dos princípios que regem a assembleia, mas às vezes existem razões ocultas. Devemos nos lembrar de que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9). Além disso, “o que confia no seu próprio coração é insensato” (Pv 28:26). Podem existir razões ocultas em nosso coração que sequer detectamos. Parece ser este o caso de Absalão. Quando seu irmão Amnom cometeu incesto no reino, a lei Levítica determinava que ele devia ser executado (Lv 18:9, 29). Vendo que o Rei Davi nada fez, Absalão decidiu tomar a questão em suas próprias mãos e liderou um grupo de homens para matar Amnom. Para os “simples” e “que nada sabiam daquele negócio” (Rm 16:18; 2 Samuel 15:11) aquilo talvez tenha sido visto como um ato de justiça, retidão e piedade. Aos olhos desses Absalão provavelmente parecia ser um homem fiel agindo em favor da glória de Deus, e não poupando sequer seu próprio meio-irmão. Mas Absalão não se importava nem um pouco com a glória de Deus e nem tinha aversão por aquele pecado, e isso acabou ficando claro quando também cometeu incesto com as concubinas de seu pai — dez vezes mais que Amnom (2 Sm 15:16; 16:22). Além do ódio natural de Absalão pelo que Amnom fizera à sua irmã Tamar, havia uma razão mais profunda para querer matá-lo, e esta era sua sede de poder. Ele queria reinar no trono de Israel, e seu irmão Amnom, que era mais velho e o primeiro na sucessão ao trono, precisava ser eliminado. O pecado de Amnom foi apenas a desculpa para tirá-lo de cena. Do mesmo modo, nas questões relacionadas à assembleia, alguns podem ser levados por outros motivos na hora de escolher de que lado querem ficar em relação a alguma decisão.

Há quem chegue a agir de forma contrária ao próprio bom senso. Quando você olha para a situação na superfície, pode se espantar com a posição assumida por este em relação a uma determinada questão. Porém, mais tarde pode vir à tona o fato de existir nele uma indisposição antiga contra alguém, a qual estava ali oculta há anos e nunca foi julgada e erradicada. E quando uma pessoa contra a qual esse nutria maus sentimentos vinha a ser acusada de alguma falha, aquela raiz de amargura acabava brotando e ele assumia uma posição contrária à pessoa. Um exemplo disso é visto em Aitofel (2 Sm 15:12). Ele era o avô de BateSeba e, ape-sar de não demonstrar, nunca se convenceu de que Davi tinha recebido a punição merecida por seu adultério e pelo assassinato do marido de BateSeba (2 Sm 11). Quando um levante dentro do reino ameaçou o trono de Davi, aquela má disposição que existia em Aitofel veio à tona e ele se posicionou contra Davi. Ao ler a história daquela revolta você pode ficar sem entender como Aitofel poderia tomar tal posição, mas a razão era que ele nunca tinha julgado sua disposição maligna contra Davi.