“Estiverem Reunidos”
O Senhor continuou dizendo “estiverem... reunidos”. Repare que Ele não diz “se reunirem” como aparece em algumas traduções modernas. A razão disto é que o terreno divino de reunião não é uma associação voluntária de crentes. É verdade que deve existir um exercício e uma iniciativa pessoal da parte daqueles que estão congregados para comparecerem onde Cristo está no meio, mas o tempo passivo do verbo — “estiverem... reunidos” — assinala o fato de que existe um poder reunidor externo às próprias pessoas, o qual foi responsável por reunir sobre aquele terreno. O divino Reunidor é o Espírito Santo. Isto é mostrado em Lucas 22:7-20, onde o Espírito de Deus é visto na figura de “um homem, levando um cântaro de água” guiando os discípulos até o lugar escolhido pelo Senhor onde eles estariam com Ele para a ceia. Nas Escrituras a palavra “água” costuma se referir à Palavra de Deus (Ef 5:26). Aprendemos disso que o Espírito de Deus utiliza os princípios da Palavra de Deus para assim guiar os crentes para o lugar escolhido pelo Senhor. O nome do homem não é mencionado, o que nos faz entender que o objetivo do Espírito de Deus não é o de chamar atenção para Si (Jo 16:13-14). Isto também está relacionado ao fato de o Espírito de Deus não ser diretamente mencionado em Mateus 18:20, embora a Sua obra seja percebida ali. Ele não assume um lugar de proeminência no cristianismo, mas trabalha nos bastidores guiando as almas exercitadas a esse terreno estabelecido em princípios bíblicos, onde Cristo está no meio daqueles assim congregados.
Ao longo dos anos a verdade da obra do Espírito representada pelas palavras “estiverem... reunidos” também tem sido veementemente contestada. Alguns tentam alegar que são apenas os irmãos de anos mais recentes que ensinam que “estiverem... reunidos” se refere à obra do Espírito Santo. Com isso querem dizer que se trata de uma invenção moderna dos irmãos. Tal hipótese não é verdadeira. Os escritos de C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A. Trench e outros, e evidentemente os de muitos do século 20, ensinam enfaticamente que a expressão “estiverem... reunidos” realmente se refere à obra do divino Reunidor, o Espírito Santo. Em sua tentativa de discordar, essas pessoas nem sequer procuraram verificar o significado da palavra no grego. Ocorre que a palavra grega aqui é sunago e tem o sentido de “colocar juntos”. Isto mostra claramente que existe um poder exterior àqueles que estão assim reunidos que os colocou juntos naquele terreno. A quem mais o Senhor confiaria a missão de reunir o Seu povo ao Seu Nome além do Espírito? Os homens mais bem intencionados têm procurado reunir o povo do Senhor e só causaram confusão. Eles desviaram os santos para seitas e grupos denominacionais, aconselhando-os a irem “à igreja de sua própria escolha”. O resultado foi que os santos de Deus acabaram espalhados em cerca de 1500 diferentes divisões. Com certeza essa não foi uma obra do Espírito Santo.
Se acharmos que todos os cristãos que se reúnem para adoração e ministério da Palavra estão reunidos ao Nome do Senhor pelo Espírito no sentido coletivo de Mateus 18:20, então estaremos dizendo que o Espírito de Deus é o culpado pela desonra que as divisões na igreja trouxeram a Cristo. Se assim fosse, o Espírito teria guiado os santos a se reunirem divididos uns dos outros! Se existisse mais de uma comunhão de irmãos à qual o Espírito de Deus levasse os santos, então Ele seria Autor de divisão. Todavia, nenhum cristão sóbrio culparia o Espírito de Deus pela triste e dividida condição em que se encontra o testemunho da igreja. Não, o Espírito de Deus só poderia guiá-los a um lugar — uma única comunhão dos santos — um único terreno de reunião.