Capítulo 4 - O Terreno Bíblico de Reunião: Mateus 18:20

Mt 18:20

Para que ninguém fique confuso quanto ao que seja exatamente “a assembleia”, o Senhor a define em Mateus 18 como os santos reunidos ao Seu Nome. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. O “porque” neste versículo faz a conexão com os versículos precedentes que falam da assembleia local. Este versículo mostra que a assembleia recebe a autoridade judicial para agir em questões administrativas do próprio Senhor em seu meio, o qual sanciona suas decisões. (“Letters of J. N. Darby”, vol. 2, p. 132).

Todavia, em uma época de divisões, nem todos os que reivindicam para si a promessa deste versículo estão necessariamente sobre este fundamento. Um exame cuidadoso do versículo irá demonstrar que há uma série de condições entre o “onde” e o “aí” que devem ser atendidas antes que um grupo de cristãos reunidos para adoração e ministério possam ser reconhecidos como estando no terreno bíblico da assembleia congregada para o Seu Nome. O Senhor apresenta aqui princípios muito importantes que são vistos ampliados nas epístolas. Precisamos ler esta passagem cuidadosamente e em oração para não perdermos de vista sua importância.

“Onde”

Muitos cristãos acreditam que quando o Senhor disse “onde” Ele estaria querendo dizer “seja onde for”. Eles pensam que o Senhor estava dizendo que um grupo de crentes poderia se reunir da maneira que achasse melhor, quando e onde bem entendessem, e com isso desfrutariam automaticamente da garantia da promessa feita pelo Senhor a eles. Eles imaginam que se alguns cristãos saírem para tomar um café ou praticar um esporte juntos, eles podem reivindicar a promessa deste versículo, de que o Senhor estará no meio deles. Isso nada mais é do que tirar esta preciosa passagem das Escrituras completamente fora de seu contexto. É bem verdade que o Senhor está com todos os crentes, o tempo todo, não importa onde eles possam estar individualmente (Mt 28:20; Hebreus 13:5), mas não é este o contexto do versículo 20 de Mateus 18. Conforme já foi mencionado, este versículo tem a ver com a presença do Senhor no meio de uma assembleia divinamente reunida para sancionar as decisões administrativas dessa assembleia. Podemos chamar esta presença do Senhor como coletiva; enquanto as outras seriam a Sua presença individual . As duas não devem ser confundidas. Existe uma diferença entre Ele estar com os cristãos, e os cristãos terem a Ele no meio de suas reuniões da assembleia (“Can Christians be Gathered in Only One Place?” - Notes of General Meetings in Ottawa - 1987 - p. 9). A presença do Senhor neste sentido coletivo é o que sanciona a existência daquele grupo de pessoas que Ele reuniu pelo Espírito. Isto não se aplicaria a quaisquer grupos de cristãos formados por homens, pois se o Senhor garantisse esta Sua presença em todos esses grupos, Ele estaria sancionando as divisões no testemunho público da igreja, as quais são uma desonra para Deus. Cremos que Ele não faria tal coisa.

Também não devemos confundir a presença de Cristo e a presença do Espírito Santo. A presença do Espírito de Deus é também conhecida de duas maneiras. Ele está tanto “nos” crentes como “com” os crentes (Jo 14:17; Atos 2:1-4). Primeiro, Ele habita em cada crente (Jo 14:17, Romanos 8:9, 11, Ef 1:13, 4:30, 1 Tessalonicenses 4:8, Tiago 4:5, 1 Jo 3:24, 4:13). Segundo, Ele habita na casa de Deus onde existem tanto crentes como incrédulos (Jo 14:17, Atos 2:2, Ef 2:22). Se um incrédulo se juntar aos crentes onde o Espírito Santo habita, esse incrédulo poderá “participar” do Espírito de Deus mesmo estando em sua condição de perdido. Essa participação, no sentido de provar dos privilégios que os crentes desfrutam (Hb 6:4-5), seria evidentemente apenas exterior, e não o desfrutar completo da comunhão que é privilégio apenas do crente. Isto é indicado pelo uso da palavra “metecho” em grego, que implica participação, sem contudo especificar o grau dessa participação. Significa que até mesmo um incrédulo pode desfrutar dos privilégios exteriores do cristianismo, se estiver na casa de Deus onde o Espírito de Deus estiver agindo.

Incluímos aqui uma passagem do livro “Help & Food” (“ Auxílio e Alimento”) que fala da presença do Espírito de um modo geral na casa de Deus: “Estar reunido ao Seu Nome significa que o Seu Nome constitui o Centro de união. O que nos une é a verdade daquilo que Ele é. Onde Ele encontrar um povo para o qual essa ligação é suficiente, ali Ele promete a bênção de Sua presença pessoal no meio deles. Tal presença deve ser distinguida da presença do Espírito Santo nos santos ou na assembleia como a casa de Deus de uma forma genérica. O Espírito Santo está sempre nos santos e na assembleia de Deus de um modo geral, independente dos princípios sobre os quais estejam reunidos, e a Sua presença, portanto, não sanciona a reunião do modo como ela é. Isto deveria ser da maior clareza e importância para nós, pois demonstra como Deus pode fazer a Sua graça agir em meio a toda a confusão da Cristandade, sem necessariamente sancionar os princípios discordantes e sectários que prevalecem nesse meio. Por outro lado, a presença de Cristo no meio é uma sanção, não, evidentemente, do estado da assembleia, mas de suas decisões, considerando que a expressão ‘tudo o que ligardes na terra será ligado no céu’ está conectada a isso”

(“The True Church” — citações de vários autores — compilado por M. W. Smith, p. 12).

O “onde” do versículo (20) indica que o Senhor tem um lugar onde Ele colocou o Seu Nome na terra, e Ele está ali no meio daqueles que Ele reuniu pelo Espírito em torno de Si. É este o terreno dos princípios do Novo Testamento sobre o qual os cristãos estão congregados para exercitarem ações administrativas (que é o contexto da passagem), e incluiria a adoração coletiva, o ministério e a adoração. Os irmãos têm chamado a isso de divino terreno de reunião.