Fora do Arraial
A ideia do “seja onde for”, ou como os homens costumam dizer, “Vá à igreja que mais lhe agrade”, faz do lugar algo de nossa escolha. Todavia, o “onde ” mostra o lugar da escolha do Senhor, o lugar indicado por Ele. O lugar não é um centro geográfico, como era Jerusalém no judaísmo, mas um terreno espiritual de princípios sobre os quais os cristãos são congregados pelo Espírito. Os cristãos assim congregados podem estar congregados em diferentes lugares do mundo, porém ocupam um terreno singular e estão em comunhão uns com os outros. Os vários grupos podem estar congregados localmente em uma simples sala, em uma cozinha ou barracão — o que importa é onde o Espírito de Deus os reuniu ao Nome do Senhor Jesus Cristo.
Aprendemos de Hebreus 13:13 que este lugar onde o Senhor está no meio fica fora do “arraial”, uma expressão que significa o judaísmo com todos os seus princípios e práticas. Os cristãos costumam perder de vista este ponto, trazendo para seus lugares de adoração muitas coisas conectadas à adoração judaica. Eles ignoram o claro ensino das Escrituras que dizem que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual agora temos acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Porém os cristãos acabaram usando o tabernáculo como um padrão para suas organizações eclesiásticas e sua adoração. Fazendo assim, construíram grandes catedrais e “templos feitos por mãos de homens” e literalmente emprestaram muitas coisas do Antigo Testamento para sua adoração. Perderam de vista do fato de que o verdadeiro terreno cristão de reunião e adoração é algo novo e completamente diferente e com uma nova ordem de achegar-se a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24, Hebreus 10:19-20). Portanto, sabemos que este terreno de reunião para cristãos é totalmente livre de judaísmo e fora dele. Qualquer um que procurasse encontrar este lugar da escolha do Senhor teria de virar as costas para todos os lugares existentes na cristandade, independente de ser a Catedral de São Pedro em Roma ou uma simples capela evangélica, já que em todos os casos existem armadilhas de judaísmo mescladas com os seus assim chamados cultos de adoração cristã.
O princípio de reunião no cristianismo é, como um todo, completamente diferente do judaísmo. O Senhor revela o contraste entre eles em João 10, ao se referir ao terreno judaico de reunião como “aprisco” e ao terreno cristão de reunião como “rebanho” (Veja a tradução de J. N. Darby em João 10:16). O aprisco, que é um lugar fechado (ou curral), denota a maneira legalista usada pela lei para manter as ovelhas reunidas. As forças ou comandos externos da lei, que necessariamente os separavam das nações, mantinham os israelitas unidos. Por outro lado, um rebanho é uma reunião de ovelhas sem uma cerca. As ovelhas estão reunidas, não por uma influência externa, mas por ter ocorrido nelas um trabalho que faz com que sejam atraídas ao Pastor em seu meio. Não há necessidade de cerca para mantê-las unidas; elas querem estar ali por terem um mesmo polo de atração: o Pastor. F. C. Blount comparou o primeiro caso a uma circunferência sem um centro, e o segundo um centro sem circunferência. A fim de indicar a transição do judaísmo para o cristianismo o Senhor falou de levar Suas ovelhas para fora do “aprisco”, guiando-as na forma de um “rebanho”.