Capítulo 5 - Existe Mais de Um Testemunho Divinamente Reconhecido da Verdade do “Um Só Corpo”?
Já que o desejo de Deus é reunir os Seus santos na terra como se fossem um ao Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sobre o fundamento do “um só corpo ”, surge a questão: Será que Deus tem mais de um testemunho da verdade do “um só corpo”? À luz do que temos apresentado nos capítulos anteriores a partir das Escrituras não cremos que o Espírito de Deus esteja reunindo cristãos em diversas comunhões (federações de reuniões) para expressar tal verdade, sem que esses grupos estejam em comunhão uns com os outros. Como já foi mencionado no capítulo anterior, se o Espírito de Deus estivesse fazendo assim Ele seria o Autor das divisões no testemunho cristão, as quais desonram a Cristo. Não poderia ser assim, pois seria uma contradição à própria verdade que Ele procura apresentar para que os cristãos andem nela. Cristo não poderia ter um só corpo de fato e muitos corpos no testemunho prático. Portanto, estamos bem certos de que só poderia existir um testemunho divinamente reconhecido da verdade do um só corpo.
O exemplo a seguir ajuda a ver a inconsistência de se supor que o Espírito de Deus poderia guiar os Seus a mais de um centro de reunião. “Se pudéssemos voltar ao princípio — ao dia de Pentecostes — quando o Espírito de Deus desceu e uniu aquelas 120 pessoas em um só corpo, e todas elas reunidas ao Nome do Senhor Jesus Cristo, suponha que Pedro tivesse um desentendimento com João e eles decidissem que iriam estabelecer comunhões separadas. A partir daí existiria uma comunhão seguindo a Pedro e outra a João. Será que poderíamos dizer que o Espírito iria guiar alguns a uma comunhão e outros à outra? Será que o Senhor aprovaria as duas igualmente? Não cremos que Ele iria sancionar as duas comunhões com Sua presença em seu meio, pois agindo assim Ele estaria aprovando a divisão prática na igreja. Se o fizesse, Ele seria Autor de confusão.” (“Can Christians be Gathered in Only One Place?” - Notes of Ottawa General Meetings - April 1987 - p. 11-12). Na verdade os homens podem até criar mais de uma expressão desta verdade ao estabelecerem uma mesa em um espírito de divisão, mas não acreditamos que o Espírito de Deus irá guiar os cristãos a agirem assim. “Está Cristo dividido?” (1 Co 1:13).
Cremos, portanto, que as Escrituras ensinam que só poderia existir uma expressão divinamente reconhecida da verdade do um só corpo sobre a terra estabelecida pelo Senhor, e não pelos homens. Se surgissem seitas ou heresias (facções independentes na comunhão), estas seriam decorrentes da vontade da carne (Gl 5:20), e não da vontade de Deus. No princípio todos os santos estavam juntos. Se a profissão cristã está agora toda dividida em inúmeras seitas, isto é obra de homens que, por ignorância ou vontade própria, formam esses grupos independentes.
Paulo mostrou aos Coríntios como essas coisas tinham início. Elas geralmente começam com diferenças de opinião e julgamento. “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer [ou em uma mesma opinião]” (1 Co 1:10). Essas diferenças de opinião levariam a disputas ou “contendas”. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós” (1 Co 1:11). A partir daí, se as contendas não fossem julgadas, elas levariam às “divisões” ou “cismas” (no grego as palavras são as mesmas) entre os santos. “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1:12-13). Essas divisões ou cismas são facções internas entre os santos congregados.
Porém, ainda mais sério do que isto é o que Paulo revela que resultaria das divisões internas entre o povo do Senhor. Se essas coisas não fossem julgadas elas levariam a “heresias” ou “seitas”.
“Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias [seitas], para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1 Co 11:18-19). Uma “seita” ou “heresia” (trata-se da mesma palavra em grego) é uma divisão consumada entre os santos, quando um partido se separa e passa a congregar de forma independente. O que começa como uma diferença de opinião, leva à contenda e acaba produzindo um cisma ou divisão interna entre os santos, a qual, se não for julgada, levará a uma heresia ou seita — uma divisão visível entre os santos.