Sei perfeitamente o que Cristo fez. Se apenas pudesse aceitar isso e sentir-me satisfeito.
As almas nestas condições podem pensar que sabem o que Cristo fez, mas se realmente compreendessem a natureza de sua obra consumada não falariam desse modo.
Vejamos um caso suposto como ilustração: Um menino quebra o vidro de uma loja na cidade. Ele é preso e lhe exigem pagamento pelo dano causado. Mas o garoto não tem dinheiro { se o caso for adiante, não há outra saída para ele senão a prisão ou o reformatório. Acontece que um parente do lojista assistiu tudo e reconheceu o rapaz como aluno ocasional de uma escola noturna na periferia. Sua mão é posta imediatamente no bolso; algumas palavras de censura branca que quase cortam c coração do jovem e depois a pergunta importante:
Em quanto ficou o prejuízo?
Dez cruzados, é a resposta imediata.
Ei-los aqui. Está satisfeito?
Aceitando o dinheiro oferecido, o dono responde: Perfeitamente.
Agora então o recibo.
O recibo é dado, o lojista ficou satisfeito; e o garoto, o que aconteceu com ele? Tinha ainda de pedir misericórdia? Ficou desejando poder aceitar o que o amigo fez? Nada disso. Ele sabe que o perdão foi recebido e que ele está livre, livre de qualquer acusação. Sabe também que não é ele que deve sentir satisfação, mas diz: "Se aquele cuja vidraça quebrei está contente por que não devo também ficar tranqüilo a esse respeito?"
Se você encontrasse um rapaz nessa situação e lhe perguntasse sobre o ocorrido, ele lhe diria que não lhe era possível pensar em seu ato irrefletido sem ligá-lo à bondade do amigo. Suponhamos que você diga: Como sabe que o lojista não irá pedir que você faça o pagamento um dia?
"Ah! Ele jamais faria isso. Não teria condições de agir desse modo legalmente, seria a resposta. "De fato, ele responde pelo meu perdão junto à pessoa que pagou os dez cruzados. A minha liberdade é devida ao meu amigo!"
Você quer dizer que está dependendo do caráter reto dele?
Claro. Ele é honesto demais para exigir um novo pagamento da mesma dívida.
Há necessidade de aplicarmos o exemplo? Cristo não se colocou na fresta aberta pelo pecado entre um Deus santo e os homens pecadores? Ele não se ofereceu, imaculado, a Deus, para a satisfação de todas as exigências justas de Deus quanto ao pecado? Não foi Ele também o dom do seu amor, o Cordeiro provido por Ele mesmo?
A pergunta não é, portanto: "Você pode aceitar o que Ele fez?" mas, "Pode Deus aceitar esse ato como satisfazendo a exigência infinita de sua própria justiça contra nossos pecados?" Você não crê que Deus aceitou o sofrimento de seu Filho na cruz pelos nossos pecados? Se acredita, comece a louvar imediatamente Aquele que sofreu em seu lugar, e o Deus que o ofereceu com amor para isso.
A aceitação da obra do Substituto por parte de Deus tem sido fartamente provada. O véu rasgado, o túmulo aberto, a glória que desceu para levantar dele o Portador de pecados esquecido, sua posição atual no lugar de maior honra à destra do Pai, a glória que brilha em seu rosto, as coroas que circundam sua testa, tudo nos assegura de que sua obra foi aceita. Além deste coro de testemunho celestial, acham-se as maravilhosas palavra que saíram de seus próprios lábios benditos, ao subir ao Pai, "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer" (Jo 17.4).
Como nos alegra ver que a palavra de Deus estende esta obra ao pecador. "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores" (1 Tm 1.15; veja também Romanos 5.6-8).
Vamos imaginar o caso de um condenado à morte que jaz em sua cela esperando o dia fixado e fatal. Um mensageiro entra com notícias importantes. "Fui enviado para dizer-lhe", afirma, "que alguém lá fora ofereceu-se para morrer em seu lugar."
Como o prisioneiro parece imediatamente louco de alegria! Como suas faces enrubescem! E não é para menos!
"Ofereceu-se para morrer por MIM! Quem, Quem?" gagueja ele. "Quem fez isso?" A seguir vêm as perguntas, uma após outra, rapidamente.
"Ah! Parece bom demais para ser verdade. Você acha que ele pretende mesmo fazer o que prometeu? E se estiver sendo sincero agora, será que não vai mudar de idéia no final?"
"Não tenha medo", disse o mensageiro. É meu privilégio informá-lo de que ele já morreu em seu lugar!
"Mas, e as autoridades do governo? O governador ficou satisfeito?"
"Sim. Seu amigo foi aceito como seu substituto voluntário antes de subir ao cadafalso. Agora que a execução já acabou, Sua Excelência enviou-me para contar-lhe que já não existem barreiras entre você, sua casa, e a liberdade. O perdão e a liberdade, através daquele que morreu por você, lhe são graciosamente anunciados em nome do governador.
Cristo não só ofereceu-se a si mesmo, imaculado, a Deus, por você (veja Hb 9.14; 10,9), mas "Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pe 3.18). Por que foi acrescentado, "para levar-nos a Deus"?
Porque Deus nos queria perto dEle. E agora o Senhor não só declarou-se satisfeito com a obra, duplamente satisfeito, tendo havido satisfação de seu coração amoroso e exigência santas, mas também glorificado.
Isto é da máxima importância, pois de que valeria a morte de alguém para o condenado se o governador não tivesse aceito esse ato de substituição? (A aceitação do substituto por parte do criminoso é naturalmente suposta aqui.)
Ouça agora a palavra de Deus (Jo 13.32),
"Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar".
Isto Ele fez, porque lemos: "Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai" (Rm 6.4).
Ele foi "recebido acima na glória" (1 Tm 3.16).
Ele está "coroado de glória e de honra" (Hb 2.9).
Que provas maiores que essas Deus poderia dar de que estava satisfeito com a obra de Cristo? E se Ele se considera satisfeito, não devemos nós também ficar? Não satisfeitos conosco mesmos ou nossos feitos mesquinhos, mas com Cristo e a obra através da qual Ele glorificou eternamente a Deus, ao assegurar a bênção eterna para o homem.
Espero que o leitor não esteja mais preocupado com seus próprios sentimentos de satisfação, mas possa dizer:
Doce descanso encontro em Sua Luz, Rico louvor que minha alma sustem.
Deus se agradou em Jesus, E Nele eu me satisfaço também.