Como posso estar "sempre confiante" se meu estado de espírito varia tanto?

Nossas almas jamais se aquietam enquanto não percebemos que nossa disposição variável nada tem a ver com a nossa aceitação diante de Deus.

Quando Abel levou sua oferta ao Senhor, "os primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura", lemos que "E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta". Não foi a excelência pessoal de Abel que Deus observou ao considerá-lo justo, mas a excelência do sacrifício apresentando e sua fé nele. Quando alguém leva um cheque ao banco, recebe o total da quantia escrita no cheque. Não receberia mais se tivesse um bom caráter, ou menos caso este fosse mau. Não se trata de uma questão do que o portador vale, mas do valor do cheque que possuía. Foi assim com Abel e será com todo pecador que se aproxima de Deus através de Cristo. Deus computa na conta de todo crente o total do valor da obra de Cristo.

Ela é perfeita?

Sim.

É perfeita eternamente?

Sim.

A aceitação do crente é portanto comparável, a isto. Lemos então, "Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados", i.e., os que têm fé nEle. (Veja Hebreus 10.14 e At 26.18). Tome nota, não se trata simplesmente de ser "perfeito". Não há intermissão, ruptura ou intervalo quando não é assim.

Há poucos anos, o autor, em companhia de outros cristãos, viajou da cidade de Penzance na Cornualha até Land's End. Sentado junto ao motorista, este chamou sua atenção para uma igreja à distância. Vamos passar por essa igreja, disse ele, e me contaram que entre este ponto da estrada e até chegarmos à igreja vamos perdê-la de vista nove vezes. Isto levou o escritor a desejar fazer um teste da declaração feita por ele. Logo descemos uma pequena colina e perdemos a igreja de vista. Subimos depois até o cume da lombada seguinte e o prédio ficou perfeitamente em nosso raio de visão. De novo afundamos no vale e a igreja desapareceu, chegamos a um cimo e vimos outra vez a igreja. Continuamos viajando, algumas vezes perdendo de vista e outras conseguindo vê-la, até que chegamos a poucos metros da antiga construção, com suas cruzes peculiares, etc., bem à nossa frente. Como o motorista avisara, havíamos perdido de vista o velho prédio nove vezes naqueles poucos quilômetros.

Mas, por que está contando isso? o leitor talvez pergunte. Só com o propósito de fazer-lhe uma pergunta sugestiva.

Quantas vezes você acha que a igreja subiu e desceu naqueles cinco ou seis quilômetros?

"A igreja para cima e para baixo?" diz você. Nem uma vez. "Os altos e baixos aconteciam com você e não com a igreja."

Exatamente. E queremos acrescentar que nas condições variáveis da alma de que você fala, os altos e baixos são seus e não de Cristo. Não existe variação no conceito divino sobre o valor pessoal de Cristo ou de seu sacrifício; e se Ele aceita você nessa base, não podem haver altos e baixos na sua aceitação. Aquele que está no alto não muda. Ele é o mesmo "ontem, e hoje, e eternamente" e Deus "nos fez agradáveis a si no Amado" (Ef 1.6).

Se você quiser saber o que Deus pensa do crente, deve contemplar Cristo; "porque, qual ele é, somos nós também neste mundo"(1 João 4.17).

Um pregador nosso conhecido, que passara muitos anos no empreendimento inútil de alcançar alguma forma de perfeição na carne, libertou-se finalmente e declarou: eu costumava pensar que tinha de ser bom o bastante a fim de obter aprovação, mas vejo agora que Cristo ê que é suficientemente bom para ser aceito e Deus me aceita nEle. Se nosso comportamento tivesse algo a ver com nosso direito de aceitação, uma falha de comportamento iria significar então necessariamente um demérito nesse direito. Mas, graças a Deus, a verdade é que nossa atitude deriva do conhecimento de nosso lugar de aceitação diante do Pai; ou seja, a nossa aceitação não se baseia em nosso comportamento. Somos "santos chamados", i.e., constituídos santos pelo chamado de Deus e solicitados depois a andar "como convém a santos". Somos chamados a observar o amor que nos é concedido, a ponto de sermos chamados seus filhos e instruídos a "andar em amor" como "filhos amados" (1 Co 1.2; Ef 5.3; 1 João 3.1, Ef 5.1). Para usar uma ilustração, Deus primeiro enche a carteira e depois nos ensina como gastar o que Ele nos deu.