Dificuldades Espirituais

Como poderei escapar do castigo pelos meus pecados, desde que Deus é justo e eu pecador?

Esta pergunta é tão antiga quanto o livro de Jó. E toca as próprias bases de todo descanso e paz. "Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher?" (Jó 25.4). Deus não poderia deixar de corresponder ao seu caráter santo e justo. O pecado o coloca no lugar de juiz e da mesma forma que Deus é justo, o pecado precisa ser plenamente castigado. Os homens sentimentalizam o amor de Deus e se esquecem da sua justiça. O Senhor, porém, será tão justo ao levar alguém para o céu através da obra de Cristo, como ao enviar o pecador para o inferno por causa de suas próprias obras perversas.

Quando Ele exaltou Cristo à sua destra na glória, declarou sua própria justiça através desse ato. Quando enviar Satanás ao castigo eterno no lago de fogo, estará conforme essa mesma justiça. De fato, se qualquer pecador for salvo, Deus será tão justo ao fazê-lo quanto o foi ao colocar Cristo na radiância da glória celestial, ou como será ao enviar Satanás para as trevas do juízo eterno.

De que modo então, depois de calar "toda boca" na família humana inteira, e pronunciar "todo homem" culpado diante dele, poderá Deus salvar qualquer um com justiça?

Ouça a resposta abençoada do Espírito de Deus: "Pois é Cristo quem morreu" (Rm 8.34). "Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53.5).

A culpa do pecado recaiu sobre o Cordeiro,segundo os desígnios do próprio Deus. Toda indagação da consciência perturbada quanto à penalidade aplicada ao pecado é respondida por outra pergunta, a qual perdurará por toda a eternidade, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

(Mc 15:34).

Quem poderia responder esse "Por que?" misterioso do Calvário? Vamos fazer uma pausa e investigar.

Os demônios confessaram ser Ele o Santo de Deus. Poderiam os poderes das trevas nos dar uma razão? Impossível. O próprio Satanás viu-se frustrado toda vez que se aproximou daquele que podia dizer, "Porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim".

Os anjos ministraram a Ele depois de sua tentação no deserto. Não sabiam que Deus se agradava dele e que fizera sempre aquilo que dava prazer ao Pai? Seria possível, no entanto, responderem a esta pergunta momentosa? Repetimos, impossível: "para as quais coisas os anjos desejam bem atentar" (1 Pe 1.12).

Seus discípulos viram como a boca dos opositores fora silenciada pelo seu desafio sem resposta: "Quem dentre vós me convence de pecado?" (Jo 8.46) Eles deviam conhecer as palavras de Davi nas escrituras do Velho Testamento: "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão" (SI 37.25). Vemos agora o único Homem absolutamente justo que já pisou nesta terra, "Jesus Cristo, o justo" e Ele foi desamparado! Maravilha das maravilhas! Por que? O homem não tem resposta para essa pergunta; nem mesmo aqueles mais dedicados a Ele.

Deus o Pai, atraíra mais de uma vez a atenção do céu e da terra para o fato de que no Abençoado e Humilde, Ele encontrara perfeita satisfação e prazer. Irá Ele abrir novamente os céus para dar uma resposta a esse "Por que?" misterioso? Não. O bendito portador de pecados é deixado para sentir, como só Ele poderia sentir, em meio às trevas daquelas três horas, o terror dessa palavra: "DESAMPARADO". Outros haviam clamado em tempos idos; suas vozes foram ouvidas, eles foram salvos; mas atente às palavras dEle, enquanto alcançam e ferem nosso coração, em meio àquelas trevas terríveis: "Eu clamo... e tu não me ouves" (SI 22.2). Não existe, portanto, resposta à pergunta? Bendito seja Deus, ela existe, caso contrário, adeus a qualquer esperança de paz para você e para mim. A fé encontrou uma resposta. De onde a tirou? Se os demônios, anjos, homens, não puderam fornecê-la; se Deus não o fez, qual a sua procedência? Ela saiu dos lábios dAquele que fora Esquecido! Ele justificou a Deus por Se esquecer dEle. Quão precioso! Precioso e inconcebível! Repita isso sempre e jamais deixe que essa lembrança se apague. Ele justificou Deus por desampará-lo. Ouça as suas palavras benditas no Salmo 22.3, PORÉM TU ÉS SANTO, o que habitas entre os louvores de Israel". Foi como se dissesse: "Sois tão santo que não poderias fazer menos que isso, em toda justiça, além de voltar as costas ao pecado, mesmo quando teu amado Filho o levava sobre Si". É verdade! Quando se trata de julgar o pecado, não pode haver alívio, nenhuma resposta, até que a taça da condenação se esgote. Quanta solenidade, todavia quanta beleza nisso tudo! Como o pecador perturbado se sente atraído para esse precioso Salvador, enchendo seu coração de paz e fazendo-o transbordar de louvor. Que maior prova podemos ter então de que os pecados dos crentes em Jesus já foram julgados com justiça, julgados na pessoa de seu adorável Substituto? Deus pode ser agora então "justo e justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3: 26) Eles não são justificados pelo fato de nada poder ser dito contra a sua pessoa, mas sim pelo sangue precioso que, de uma vez por todas, satisfez todas as acusações que o próprio Deus poderia fazer contra eles.

Adorai-Lhe, Adorai-Lhe, Sua gloriosa obra consumou Louvai-Lhe e Exaltai-Lhe, Do pecador o juízo tirou E sobre o Filho de Deus o lançou

".Está consumado" clamou em dor na cruz ao morrer por mim Fui culpado e pecador Mas Cristo me salva assim.

Vemos assim que os pecados do crente não escaparam do castigo. O evangelho não fala de um Deus cujo amor foi expresso passando por alto o pecado, mas de um Deus cujo amor pelo pecador só poderia manifestar-se quando seus direitos santos contra o pecado tivessem sido rigorosamente satisfeitos e sua penalidade suportada até o fim.

"Que seja o pecado julgado"

Sobre a cruz está escrito.

"E o pecador libertado"

Oh gozo bendito!