Se apenas pudesse sentir-me feliz, acho que saberia que meus pecados foram perdoados.
Talvez não exista uma dificuldade mais geral que esta. As almas atormentadas ouvem os cristãos falarem da alegria que experimentaram quando souberam que seus pecados tinham sido perdoados; isto é feito algumas vezes deliberadamente de um modo que pode levar a interpretações erradas. Uma pessoa aflita, ouvindo tais declarações, naturalmente deduz que foi através desse fluxo de alegria celestial que os crentes em questão souberam ter sido perdoados.
O devedor perdoado, que acabamos de citar, nos diria que o fato de sentir-se feliz é que o levou a saber que sua dívida fora cancelada? Não diria ele, em vez disso, que tinha boas razões para sentir-se feliz porque sabia que sua dívida fora cancelada?
Não teria também o mesmo direito de afirmar, que o fato de sentir-se feliz ou não, de modo algum alteraria o valor daquela nota de Cz$ 100 pregada em sua conta?
Mas, o que você pensaria de um vizinho desse homem que, sendo também devedor, diz um dia: "Se pudesse pelo menos sentir-me tão feliz quanto meu vizinho, eu saberia que minha dívida também foi cancelada".
Existe um absurdo igual? Todavia, quantas almas ansiosas estão cometendo justamente esse erro tolo.
Isso é começar pelo lado errado. Você deve começar com Deus em lugar de si mesmo. A satisfação do credor deve ser obtida antes que a mente do devedor possa tranqüilizar-se.
Não se trata também simplesmente de um caso de satisfação justa, embora nada menos que isso traria paz contínua; pois, por trás da grande "transação" do Calvário descobrimos os anseios e a riqueza do amor de Deus. É maravilhoso dizer que o desejo de apagar nossos pecados não se originou em nossos corações, mas no dEle. Nem a obra da cruz foi o meio de atrair o coração de Deus para nós. Ela foi a expressão perfeita, o resultado transbordante do mesmo. Foi "pela graça de Deus" que Ele "provou a morte por todos" (Hb 2.9). "O Pai enviou o Filho." Ele sabia que nada senão o valor infinito do precioso sangue de Jesus poderia expiar o pecado. "É o sangue que fará expiação pela alma", Ele declarara muito tempo antes; e, mais ainda, "Vô-lo tenho dado (o sangue) sobre o altar" (Lv 17.11). Na plenitude do tempo esse sangue foi derramado com a declaração do Espírito sobre o que ele pode realizar, "purifica de todo o pecado" vem a notícia, "Seja-vos, pois, notório . . . que por Ele É JUSTIFICADO TODO AQUELE QUE CRÊ" (At 13.38,39).
Que consolo saber que temos o privilégio de descansar sobre Os pensamentos de Deus e não sobre os nossos. Se me disser que Ele, que é o único a compreender o caráter desesperador do meu caso, o resolveu a seu modo, pelo sangue de Cristo, inclino-me e creio nEle.
Se Ele me der o penhor do que esse sangue pode realizar, eu aceito com gratidão. Se Ele se agrada em declarar o que pensa de todos os que têm fé nesse sangue, simplesmente acredito. Acredito porque foi Deus quem disse e não porque sinto isso. Ou, em resumo, acredito:
1º Nos pensamentos de Deus sobre minha necessidade.
2º Nos pensamentos dEle sobre o sangue dAquele a quem entregou para satisfazer essa necessidade.
3º Nos pensamentos dEle sobre todos os que crêem em seu testemunho a esse respeito.
Não é possível crer no primeiro e segundo itens sem estar "justificado" de todas as coisas. Não é possível crer no terceiro sem se ter certeza disso. Deus diz, "TODO o que crê é justificado de TODAS as coisas". Veja bem, o verbo está no presente e não no futuro: "É" e não "será". Todas as coisas perversas que Deus sabia a respeito dos homens não pesam mais sobre eles; pela melhor das razões, a saber, que foram lançadas sobre Aquele que morreu por eles e ressuscitou. Nada existe aqui sobre sentimentos de felicidade. Como posso ser realmente feliz até saber que fui justificado? E como posso saber isso, a não ser através da melhor autoridade possível? E que melhor autoridade do que o Deus que afirma tal coisa?
Sob a mesma autoridade, o crente tem o privilégio de avançar mais um passo na segurança de sua bênção. Deus declara: "aos que justificou a estes também glorificou" (Rm 8.30).
Se o fato de crer torna a justificação certa no tempo, a justificação torna a glória certa na eternidade; e sei de ambas as coisas mediante a autoridade do próprio Deus.
Há dois anos atrás, o autor viu ao lado da linha da estrada de ferro um enorme anúncio feito de chapa de ferro que caíra evidentemente de um muro onde fora colocado. Ele observou que a alvenaria do muro fora recoberta com uma camada grossa de estuque e o anúncio pregado nessa massa. Quando chegaram as geadas e chuvas do inverno, o estuque desprendeu-se em grandes blocos do muro e ao cair deitou também por terra o anúncio.
Se a chapa de ferro tivesse sido fixada na alvenaria, provavelmente não se despreenderia até que o muro propriamente dito caísse. Esta é uma sugestão valiosa para você, leitor ansioso. Se prender a sua segurança de perdão aos sentimentos alegres de hoje quando estes tiverem desaparecido amanhã, sua certeza também se irá. Mas se quiser uma segurança permanente, você deve fixá-la naquilo que não pode ser derrubado. "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu" (SI 119.89). "A palavra de nosso Deus subsiste eternamente" (Is 40.8).
Davi declarou, "Apego-me aos teus testemunhos"(Sl 119. 31), e se você fizer o mesmo; ou seja, se apegar-se ao testemunho divino, a segurança divina certamente se apegará a você. Não será "envergonhado" nem aqui nem futuramente.