O CHÃO DA CASA
DURANTE uma visita que fiz ao Transvaal, África do Sul, em 1904, fiquei alojado num pequeno casebre em um lugar remoto do interior. À noite, ao me deitar, não pude deixar de notar que o chão do quarto estava extremamente sujo. Parecia que há meses não era esfregado. Resolvi que no dia seguinte chamaria a atenção da dona da casa para isso e lhe sugeriria que o esfregasse.
Na manhã seguinte, porém, notei o que na véspera não me havia chamado a atenção. É que o chão era de tal natureza que, por mais que se esfregasse, era impossível ficar mais limpo. Tinha sido feito de tijolos de barro secos ao sol, e socados até formarem uma superfície uniforme, tão nivelada e lisa como um piso normal. Logo se vê que desisti da minha intenção de pedir à dona da casa que mandasse esfregar aquele chão. Quanto mais se esfregasse, pior se tornaria. Por maior que fosse a quantidade de sabão e água que se lhe aplicasse, nenhum bem resultaria.
Ficará o leitor admirado, se lhe disser que aquele chão representa bem a sua própria condição aos olhos de Deus?
Será que você estará disposto a reconhecer que, perante Deus, você é tão mau, tão imundo, tão corrupto, que lhe é tão impossível melhorar a sua condição, por qualquer forma, como o era limpar o chão daquele quarto, esfregando-o?
Esta é uma verdade que muitas pessoas não são capazes de reconhecer. Investem todos os seus esforços no erro, julgando que, se tão somente se esforçarem bastante, e perseverarem por bastante tempo, poderão tornar-se aptas para a presença de Deus. Tal ideia equivale a pensar que, se tão somente houvesse uma boa escova e bastante sabão e água, seria possível, por fim, melhorar a condição daquele chão. “Pelo que, ainda que te laves com salitre, e amontoes sabão, a tua iniquidade estará gravada diante de mim, diz o Senhor Jeová” (Jr 2:22).
Há multidões de homens e mulheres empenhados numa tarefa inútil desta espécie, e são muitos os vários tipos de escova empregados. Há, por exemplo, a escova do Domínio Próprio. Será que o leitor nunca usou esta escova? Você deve ter se esforçado em dominar o mau gênio, refrear a língua indisciplinada, agir de forma ponderada e reprimir as paixões. Isso é como se estivesse esfregando o chão de terra. Porém tem falhado por completo em conseguir um melhoramento positivo. Continua tão afastado de Deus como antes. O seu coração continua tão perverso quanto antes.
Ou talvez seja com a escova de uma Vida Moral que está procurando fazer a limpeza. Você não xinga e nem procura enganar o próximo, e nem se embriaga. Não fala coisas obscenas. Nunca cometeu qualquer ato que pudesse ser considerado uma malvadeza. No entanto, meu amigo, nada disto altera a sua condição perante Deus. Sua vida, por moral que tenha sido, não terá conseguido transformar a má índole do seu coração. “Quem poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?” (Pv 20:9).
Muitos imaginam que, quando têm falhado todas as demais escovas, então a escova da Religião conseguirá limpar a alma. Leem a Bíblia e fazem orações. Frequentam regularmente os cultos e tomam os sacramentos. Talvez sejam cantores no coro. Podem até ser professores da Escola Dominical, ou catequistas. Mas tudo isso deixa sem alteração sua vida carnal. A capa da religião serve apenas para tapar a imundície interior.
Se a Escova da Religião pudesse limpar alguém, decerto que Saulo de Tarso teria ficado bem purificado por esse processo. Zeloso e inflexível na observância de cerimônias e rituais, muito além de todos os seus contemporâneos, fanático na sua obediência aos sacerdotes, poderia, com razão, intitular-se o homem mais religioso do seu tempo.
No entanto, simultaneamente, reinava no seu coração ódio e amarga raiva contra o Senhor Jesus Cristo. Quando, afinal, se lhe abriram os olhos, e reconheceu quão terrivelmente tinha estado enganado, confessou ser o principal dos pecadores. Apesar de ter sido tão religioso, teve de confessar que, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18).
Não queira você, portanto, fazer da religião uma escova, pois nunca tal coisa poderá limpar o pecador. Nunca poderá lavar as nódoas do pecado. Mas se, de fato, nem o domínio próprio, nem a vida moral, nem a religião, nem qualquer outra escova semelhante, for capaz de purificar você do pecado, há Alguém que pode fazer isso.
Não pelo meu trabalho, meu mal vou expiar; Tão fraco sou e néscio, nem sei onde começar.
Mas sei que quando Cristo à morte Se entregou, Pra mim, por Ele feita, a redenção ficou!
O Senhor Jesus Cristo é o único Salvador. Há poder no Seu precioso sangue para purificar o coração de toda a nódoa imunda. “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7), são as palavras que confrontam cada alma sem Cristo. Foram dirigidas a um homem extremamente religioso. E continuam sendo tão verdadeiras hoje como sempre. O que o leitor precisa é nascer de novo. Nada menos do que isto terá valor.
Confesse o seu estado tão excessivamente pecaminoso. Condene-se a si mesmo, sem reserva, sem procurar atenuar a culpabilidade. Depois, fite seus olhos tão somente em Cristo. “Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados” (Ap 1:5). “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:7). Feliz o coração que possa dizer: Tal como estou, sem esperar, Da alma as manchas poder tirar A Ti, cujo sangue tudo pode limpar, Cordeiro de Deus, venho eu!