CAPÍTULO 2 - O INEVITÁVEL JUÍZO DE DEUS

(Romanos 2)

A CONSCIÊNCIA deixa o homem inescusável. Há no homem um senso de responsabilidade e, devido à queda, um conhecimento do bem e do mal. O fato de um homem julgar o outro é uma prova disto: "Porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo". (Rm 2:1) E quão verdadeiro é isto, tanto acerca de judeus e gentios, como de cristãos professos! E o homem não pode enganar a Deus. "E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?" (Rm 2:2,3) Que questão solene! Podemos julgar e punir a outros por suas más ações neste mundo, mas se formos colocados, com todos os nossos pecados, diante do juízo -- e o juízo certamente virá, e será "segundo a verdade" -- como poderemos escapar? A punição do mal em todas as nações prova que admitimos que o mal deva ser punido. Do mesmo modo, o justo governo de Deus exige que haja um julgamento após a morte. Preste atenção nisto. Leitor: Será que você pensa ser capaz de escapar do juízo de Deus? "Ou desprezas tu as riquezas da Sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?" (Rm 2:4) Quantos são os que estão agindo assim? No entanto, a maneira como o arrependimento é pregado tende a levar os homens a desprezarem e ignorarem completamente a maravilhosa graça de Deus. Muitos pregam o arrependimento como se fosse uma obra para a salvação, como se precedesse a fé nas riquezas da bondade de Deus. Mas é por conhecermos, e crermos na bondade de Deus em ter enviado Seu Filho amado para morrer por nossos pecados, que somos levados ao arrependimento. É isto que produz arrependimento em nós. Na verdade, é só pelo conhecimento das profundezas às quais Ele teve que descer para nos salvar, que podemos conhecer as profundezas de nosso pecado e culpa.

Desta forma, a bondade de Deus nos leva a uma completa mudança de atitude; a um completo juizo de nós mesmos, em profunda aversão aos nossos pecados e total confissão deles a Deus, produzindo em nós, ao mesmo tempo, uma completa mudança de pensamento acerca de Deus. Assim, a diferença entre verdade e erro é esta: Não é nosso arrependimento que nos leva à bondade de Deus, ou a torna válida para nós, mas é a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento; que produz arrependimento em nós. Oh, cuidado para não desprezar a graça de Deus e acabar entesourando "ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus". (Rm 2:5) Note bem que, ou é a bondade de Deus agora, e arrependimento aqui, ou então o justo juízo de Deus naquele dia reservado para a ira.

Alguns têm dificuldade para compreender o capítulo 2.6-29; outros distorceram estas afirmações como se ensinassem a salvação por obras. Se assim fosse, estaria em total contradição a todo o ensino da epístola. Então, o que é que aprendemos aqui? Primeiro, a justiça de Deus, em recompensar tanto o judeu sob a lei, como o gentio sem lei. Isto é clara e distintamente afirmado. Então, em segundo lugar, vem a pergunta: Acaso existe qualquer judeu ou gentio que atenda a estes requisitos de Deus para que possam ser, deste modo, recompensados?

Começamos, então, com a certeza de que, no dia da ira e revelação do justo juízo de Deus, Ele "recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra e incorrupção..." (Rm 2:6,7) Do mesmo modo, naquele dia, "tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que obra o mal..." (Rm 8:9) É esta, portanto, a base do justo juízo no qual Deus irá agir: "No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho". (Rm 2:16) A polícia sai às ruas e prende os homens, levando-os a julgamento por seus crimes públicos; mas porventura não é igualmente verdade que a Morte sai pelas ruas como um policial de Deus, para levar homens que, após a morte, terão julgados todas as coisas que fizeram em segredo? Poderá você enfrentar uma julgamento assim? Deus julgará em justiça. "Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que obra o mal." (Rm 2:9) E tudo revelado -- até as coisas ocultas!

É bom que se tenha isto em mente: Por ocasião daquele justo juízo não haverá como se escapar. Quando o homem é deixado à sua própria sorte, acaba afundando cada vez mais na prática do mal. Como já vimos, todo o mundo gentio afundou no mais grosseiro pecado. O que dizer, então, do judeu, o homem religioso? Sim, o que dizer do homem religioso; não seria ele superior em todos os aspectos? Ele repousa na lei, gloria-se em Deus -- no único Deus verdadeiro.

Ele conhece a vontade de Deus, é instruído e é um instrutor: um confiante guia de cegos. Se ele conhece a vontade de Deus, e a faz; e tem a lei, e a guarda, será que isto não dará a ele ousadia no dia do justo juízo? Mas, e se ele não for alguém que faça o bem, mas sim um que transgride a lei, que vantagem terá em comparação com o gentio que não tem lei? Nenhuma; pelo contrário, sua situação é ainda pior. Então, como é que o judeu sob a lei pode se encontrar com Deus em juízo?

Leitor, se for esta a sua posição -- um homem religioso sob a lei, desejando com toda a sinceridade guardá-la e, ainda assim, transgredindo-a; sabendo a vontade de Deus, e não a cumprindo -- como é que você poderá encontrar-se com Deus em justo juízo e, não importa o quão religioso você tenha diante dos homens, ter todos os seus segredos expostos para serem julgados? Acaso todos os seus esforços dão a você qualquer confiança para olhar de cabeça erguida para aquele dia de inevitável juízo? Todavia, o judeu tinha uma grande vantagem.