CAPÍTULO 15 - UM EM CRISTO

(Romanos 15)

O APÓSTOLO diz: "Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos". (Rm 15:1) Por isso, quão ternos devemos ser neste tempo em que todos estão igualmente fracos e débeis. "Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação." (Rm 15:2) Não é algo verdadeiramente belo? Onde é que podemos encontrar isto perfeitamente exemplificado? Oh, há Um, sim, Um só que é perfeito. "Porque também Cristo não agradou a Si mesmo." Ele não procurou justificar-Se a Si mesmo; "mas, como está escrito: Sobre Mim caíram as injúrias dos que Te injuriavam". (Rm 15:3) Seu olhar estava sempre dirigido para o alto, dirigido para o Pai; Ele era a expressão, a revelação do Pai, Deus manifestado. E todas as injúrias que recebeu, sentia serem dirigidas contra Seu Pai. Ele não respondeu; não agradou-Se a Si mesmo, mas Seu inefável prazer estava em suportar tudo, e fazer a vontade dAquele que O enviou.

"Ora o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." (Rm 15:5,6) Que oração esta! Quão necessária em todas as épocas, mas mais especialmente nestes últimos dias de tanta discórdia. Aqui está o modelo perfeito: "segundo Cristo Jesus". Ele nos recebeu na glória de Deus, sim, como objetos de misericórdia em conformidade com as riquezas da Sua graça. Quando recebermos uns aos outros, não nos esqueçamos de como Ele nos recebeu. As passagens são, então, apresentadas para demonstrar como a graça abundou para com os gentios. Isso mostrava aos judeus que não era para eles rejeitarem os gentios. Deve também ser observado que estas passagens terão seu pleno cumprimento no reino milenial. "Uma raiz em Jessé haverá, e naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão." (Rm 15:12) Segue-se, então, outra oração: "Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo". (Rm 15:13) Com que clareza a condição da alma é conectada com a vinda do Senhor, mesmo não sendo este o tema da epístola! Possamos nós conhecer nosso Pai como o Deus de paciência e o Deus de esperança.

Devemos notar, no versículo 14, que não há ali nenhum pensamento acerca de um primeiro bispo de Roma. "Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros." (Rm 15:14) Não é notável que, em toda esta carta inspirada que é endereçada aos santos em Roma, não exista uma única sentença que pudesse reconhecer ou fazer referência, ainda que levemente a um suposto bispo de Roma? Os irmãos estavam capacitados a admoestar uns aos outros; e cada um era responsável, em conformidade com a medida de graça conferida a cada um, como vimos no capítulo 12. O primeiro bispo de Roma e seus sucessores são pura invenção de uma época posterior à epístola.

Se Pedro, ou qualquer outro irmão, tivesse sido O BISPO de Roma, Paulo o teria reconhecido como tal. Ao contrário, Paulo declara seu próprio apostolado como ministro dos gentios (versículos 15-20). Para Paulo era tudo resultado do livre favor de Deus, "pela graça que por Deus me foi dada; que seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios". (Rm 15:15,16) E o resultado de todo esse bendito favor, Paulo podia oferecer a Deus como oferta "santificada pelo Espírito Santo". (Rm 15:16) E então, sendo tudo resultado do livre favor de Deus, ele podia se gloriar. "De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus." (Rm 15:17) Todo jovem crente fará bem em ponderar nestes preciosos princípios divinos de serviço -- de como os gentios tornaram-se obedientes ao evangelho. Foi por meio de poderosos sinais e maravilhas; não por sabedoria ou eloquência humana, mas pelo poder do Espírito de Deus. E que missão aquela aos gentios!

E repare no verdadeiro trabalho deste evangelista, de não construir sobre fundamento alheio. "E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado." (Rm 15:20) Isto é uma coisa das mais importantes. Oh, pense que ainda hoje existem milhares de cristãos nominais nas cidades e vilarejos que nunca ouviram o evangelho. E em muitos lugares há uma verdadeira sede pela simples verdade. É encorajador saber a maneira como Deus, em Sua soberania, está usando os folhetos evangelísticos. Ainda assim, é agradável a Ele que Seus santos não apenas distribuam esses folhetos, pela fé, nos lugares que estão mais além, mas que também o evangelista leve as boas novas a todo lugar "e arredores". (Rm 15:19) Alguns poderão dizer que não são evangelistas. Não, mas vocês podem ajudar os que são; providencie para que tenham sempre um bom suprimento de folhetos e livros: estas coisas ajudam imensamente o evangelista em seu bendito trabalho de ganhar almas para Deus, e em edificá-las quando convertidas. Talvez você possa ajudar mais em oração e em simpatia para com o trabalho do evangelista. Você pode ajudá-lo a conseguir acomodações em alguma aldeia distante. Em suma, se nossos corações estão movidos na simpatia que Cristo tem para com as almas preciosas, Ele nos mostrará uma maneira de sermos auxiliadores nesta obra. Que o Senhor possa dar-nos mais desse anelo pelas almas como o que encontramos nestes versículos.

Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco... e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco." (Rm 15:22,23) Este é um fato importante aqui registrado. O Espírito Santo bem sabia da futura arrogância da igreja professa, e como Roma acabaria sendo a cabeça dessas pretensões. Portanto, o Espírito toma o cuidado de excluir qualquer informação acerca de quem tenha sido o primeiro a pregar a Cristo em Roma. Destas palavras, fica evidente que o apóstolo dos gentios não tinha ainda estado lá. E nem tampouco há qualquer partícula de evidência de que Pedro ou qualquer outro apóstolo tivesse estado ali quando a assembléia foi estabelecida. Ali os irmãos estavam capacitados a edificar uns aos outros. Aprendemos também que esta epístola foi escrita por volta da época em que Paulo subiu a Jerusalém para levar as contribuições aos santos pobres. Isso aconteceu um pouco antes de ele ser enviado a Roma como prisioneiro (Atos, capítulos 20, 21 etc.). O apóstolo não sabia quais os meios que o Senhor usaria para levá-lo a Roma. Possamos aprender disto que o Senhor pode, e quer, cumprir todos os Seus propósitos.

"E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude da bênção do evangelho de Cristo." (Rm 15:29) Sim, e também duros grilhões e prisões, além do terrível vento chamado euro-aquilão o aguardavam como companheiros da viagem a Roma. Todavia seu Senhor não o desapontou. Foi de Roma, e em Roma, que o Senhor usou Paulo na exposição da plenitude do evangelho e na revelação da igreja. E foi dali que Paulo enviou o precioso manancial de verdade aos Efésios, Filipenses e Colossenses. Assim, nas mais severas tempestades da vida, podemos descansar em paciência, assegurados de que Ele tudo faz bem. Nos versículos 30 e 31 vemos como o apóstolo valorizava as orações de santos que nunca tinha visto; e o Senhor acabou respondendo àquelas orações à Sua própria maneira.

Neste capítulo Paulo falou de Deus como "o Deus de esperança" (vers. 13), e "o Deus de paciência" (vers. 5). Agora, "o Deus de paz seja com todos vós. Amém." (Rm 15:33) Portanto, é certo que precisamos conhecê-Lo como o Deus de esperança, paciência e paz. Quão importante é que O conheçamos assim nestes últimos e dificultosos dias em que vivemos.