CAPÍTULO 11 - A FIDELIDADE DE DEUS
"DIGO POIS: Porventura rejeitou Deus o Seu povo? De modo nenhum." (Rm 11:1) O próprio Paulo era uma prova disto, pois ele era um israelita. "Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu." (Rm 11:2) Não foi Deus que rejeitou Seu antigo povo: "Todo o dia estendi as Minhas mãos a um povo rebelde e contradizente." (Rm 10:21) É importante que se veja este lado da verdade -- a perfeita prontidão de Deus para que Israel -- sim, até mesmo para que todos os homens -- fosse salvo. O homem é o que é rebelde, o transgressor da lei, e, agora, o que rejeita da misericórdia de Deus. Vem, então, o outro lado da questão. Israel se rebelou de tal maneira contra Deus, ao ponto de Elias haver dito que só ele havia ficado. Ele disse: "Senhor, mataram os Teus profetas, e derribaram os Teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma". (Rm 11:3) Temos aqui a profunda e universal rejeição e ódio do homem contra Deus. Trata-se do homem no pleno exercício de sua vontade própria. Mas, acaso Deus abandonou todos os homens à sua própria livre escolha e ao seu ímpio caminho?
"Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal." (Rm 11:4) Deus não diz que eles tenham merecido, ou que tenham se resguardado; não, o que Ele diz é: "(Eu) reservei". O mesmo que já vimos no capítulo 9, e se Deus não tivesse feito assim, todos eles teriam se tornado como Sodoma e Gomorra.
"Assim pois também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça." (Rm 11:5) Sim, nessa mesma ocasião ninguém poderia negar que a nação, como tal, estava enlouquecida em sua ira contra Cristo. O próprio Saulo era uma prova do excessivo ódio dos israelitas contra Cristo. Mas, como aconteceu nos dias de Elias, houve então uma eleição de graça, de livre e imerecido favor de Deus. Querido jovem crente, você será imensamente tentado a rejeitar este abundante e gratuito favor de Deus que elege. Nos dias de hoje há poucos que crêem nisto de coração. Gostaríamos que você abraçasse isto de toda a sua alma. Será que não ficou evidente que tanto Israel como os gentios são tão maus, são grandes rejeitadores da graça de Deus, que se não fosse por Sua eleição, em livre graça e favor, ninguém teria sido salvo? Todos, todos eles teriam sido como Sodoma. Sim, a completa ruína do homem, e a eleição de Deus, são coisas que, ou permanecem juntas, ou caem juntas. Você não pode verdadeiramente tomar posse de uma e rejeitar a outra. Repare que estas passagens demonstram que não há má vontade da parte de Deus, mas o homem não quer receber a graça de Deus. Quando isto é enxergado, quão precioso é, para o crente, a bendita verdade da eleição da graça! "Mas se é por graça, já não é pelas obras: de outra maneira, a graça já não é graça." (Rm 11:6) Isto é evidente. A salvação por obras, de qualquer tipo que seja, necessariamente coloca de lado o livre favor de Deus. Porventura você permanece no livre, pleno e eterno favor de Deus; ou está procurando alcançá-la por meio das obras?
Era exatamente isto o que Israel estava fazendo, porém "o que Israel buscava não o alcançou". (Rm 11:7) Com toda a sua ira contra Deus, como foi revelada em Cristo, eles estavam, ao mesmo tempo, sendo zelosos da lei, e procurando justiça pelas obras. Rejeitando o livre favor de Deus, nunca poderiam obtê-la pelas obras. Por isso sua cidade foi destruída e eles foram dispersos ou mortos. "Mas os eleitos o alcançaram" (Rm 11:7), ou seja, o livre favor de Deus no qual permaneceram. Quanto ao restante, aqueles que rejeitaram o livre e imerecido favor, foram tornados cegos. E as Escrituras estão cheias de passagens para demonstrar que isto aconteceria assim como está escrito nos versículos 8 ao 10. Existem agora dois fatos. Os profetas previram que esses rejeitadores seriam entregues à cegueira judicial, e foi isto o que aconteceu ao longo de muitos séculos. Se alguém, que se considere um que rejeita da verdade da eleição da graça, estiver lendo isto, oh, você corre o risco de também ser abandonado por Deus à cegueira e endurecimento de coração. Há quanto tempo Deus estende Suas mãos, pronto para receber você? E será que você é ainda um daqueles que, como Israel em sua justiça própria, continua a rejeitar? Deus poderá, em Seu justo juízo, abandonar você à dureza de coração, e às trevas que rapidamente estão se espalhando.
Mas será que a atual rejeição da graça de Deus por parte de Israel, e sua consequente cegueira, levam Deus a alterar Seus propósitos e Sua promessa? Devemos agora olhar cuidadosamente para o lado dispensacional desta questão. Deus transformou a queda deles em grande bênção para os gentios. E, se assim foi, quão maior não será a bênção da sua plenitude? (Rm 11:12.) O mundo gentio foi abandonado à crassa idolatria, como vimos no capítulo 1. Mas agora, se a rejeição de Israel como nação resultou na "reconciliação do mundo" (Rm 11:15), o que será quando Deus os receber,senão vida dentre os mortos? O apóstolo não está falando aqui da vocação, ou privilégios celestiais, da igreja, mas de privilégios terrenos. Quando Deus chamou Abraão, e o separou de entre as nações, este tornou-se a oliveira de bênção e promessa sobre a Terra. Sua descendência veio a ser aquela árvore de privilégios, da qual Abraão era a raiz. Portanto, não é uma questão de ramos em Cristo, mas de ramos da oliveira da promessa ou dos privilégios. Trata-se, também, da questão da santidade relativa, ou separação do mundo. Alguns dos ramos naturais foram quebrados, mas não todo o Israel; alguns apenas. E, levando adiante esta figura, os gentios foram enxertados nesta oliveira de privilégios.
Todavia os gentios não podem se gloriar, pois "não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti". (Rm 11:18) E, note bem, foi por causa da incredulidade que foram quebrados. Não foi porque Deus quis quebrá-los, mas por causa de sua própria incredulidade. E os gentio permanecem pela fé. "Então não te ensoberbeças, mas teme." (Rm 11:20) Houve juízo, com severidade, contra Israel, que caiu em razão de sua incredulidade; mas houve benignidade para com os gentios -- "se permaneceres na Sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado". (Rm 11:22) Deus é capaz de enxertar Israel outra vez.
Trata-se de algo totalmente contrário à natureza enxertar a oliveira brava na boa. Na natureza, é sempre a boa oliveira, a boa macieira, que é enxertada na brava. Mas Deus tomou o pobre gentio, a planta "brava", e o enxertou na boa árvore abraâmica do privilégio. E mais ainda, o apóstolo não os deixa ignorar esta verdade dispensacional, de que "o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito, de Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades". (Rm 11:25,26) Deste modo, o período do "não há diferença" (Rm 10:12) chegará ao fim; o propósito de Deus em tirar para Si um povo de entre os gentios deverá se cumprir; então todo o Israel será salvo, conforme está escrito. Aí, então, todas as promessas que cabem a eles se cumprirão. Toda a nação de Israel, outrora dispersa, será reunida em sua própria terra, e serão então nascidos de Deus, conforme está escrito. É este o propósito de Deus, embora sejam eles os inimigos mais acirrados no tempo presente; Deus escolheu fazer assim. "Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento." (Rm 11:29) Ele nunca muda. Nem um jota ou til de Sua Palavra poderá falhar. A tradução literal dos versículos 30 a 31 é importante: "Porque assim como vós também antigamente não crestes em Deus, mas agora fostes objetos de misericórdia pela desobediência deles, assim também estes agora não creram na misericórdia a vós demonstrada, para também serem feitos objetos de misericórdia". Isto é algo maravilhoso, e demonstra o seguinte princípio: Ele terá misericórdia (ou "Se compadece") de quem tiver misericórdia (ou "Se compadecer"). Os gentios não tinham nenhum direito à salvação; estavam mortos em seus pecados, em incredulidade. Deus mostrou, para com eles, pura misericórdia. Israel não poderia crer em tal misericórdia e perderam o direito a todos os privilégios por sua incredulidade, a fim de que Deus possa, no final, salvá-los como nação, ainda que como objetos de Sua misericórdia. "Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia." (Rm 11:32) "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!" (Rm 11:33) Ninguém mais, a não ser aqueles que foram salvos como objetos de Sua misericórdia, será encontrado na igreja nas alturas, ou no reino de Deus sobre a Terra. Em ambos os casos o livre favor de Deus reina, assim, triunfante. Uma palavra mais, um solene aviso antes de terminarmos este capítulo. Se a cristandade gentia não permanecer em Sua benignidade, também ela será quebrada. Será que houve antes uma época em que a benignidade de Deus, o Seu livre favor, tenha sido mais evidentemente rejeitada do que no presente momento? Nunca antes, desde os dias dos apóstolos, a livre graça de Deus foi pregada tanto, e nunca também foi tão rejeitada. Há pouco tempo visitamos uma grande cidade onde foi construído um bom e amplo salão para a pregação do puro evangelho da graça de Deus. Estava fechado. Um outro grande edifício estava ocupado por aqueles que, como Israel na Antiguidade, procuram alcançar a justiça pelas obras, pelos rituais, e, disfarçadamente, pela missa. O local estava lotado, com pessoas, sentadas e em pé. Será que Deus irá suportar isso para sempre? Certamente o fim está próximo. Os ramos gentios devem ser quebrados. Foi assim que o Espírito explicou acerca deste período de "não há diferença" nestes três capítulos, Romanos 9, 10 e 11. Depois de seu fim haverá a dispensação do reino de Cristo, como foi anunciado pelos profetas. E nesse tempo todo o Israel será salvo, como objeto de Sua misericórdia. "Glória pois a Ele eternamente. Amém." (Rm 11:36) Com isto termina a parte doutrinária desta maravilhosa revelação da justiça de Deus, em Seu proceder para com o homem. A leitura desta epístola de nada valerá se não for validada pelo Espírito Santo em nossos corações. Será que Ele, como vimos nas maravilhosas páginas desta epístola, tem usado assim a Sua Palavra? Será que reconhecemos verdadeiramente que somos pecadores ímpios e tão arruinados? Será que aprendemos que nunca houve, e nem pode haver, qualquer coisa boa na carne? Será que cremos em Deus que ressuscitou Jesus nosso Senhor de entre os mortos, O qual foi entregue por nossas ofensas? Será que nós, individualmente, já nos conscientizamos dessas ofensas e as reconhecemos como tendo sido transferidas para nosso santo Substituto? Será que posso dizer que Ele ressuscitou de entre os mortos para a MINHA justificação? Se assim for, certamente estamos justificados pela fé, e temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. E agora, permanecendo neste livre e abundante favor de Deus, como devemos andar? Sim, depois de completamente libertos, e possuindo o Espírito de vida, qual deveria ser o fruto disso? Os capítulos que restam dão a resposta a estas questões.