Sacrifícios Espirituais ou um 'Ministério de Música'?

Consequentemente, os sacrifícios cristãos não são literais e exteriores como no judaísmo, mas sim "sacrifícios espirituais" (1 Pedro 2:5; Hebreus 13:15; João 4:23; Filipenses 3:3). Já que o cristão adora "em espírito e em verdade", ele poderia sentar-se em uma cadeira sem se movimentar, e mesmo assim poderia ser produzido em seu espírito um verdadeiro louvor e adoração a Deus por meio do Espírito Santo que habita nele. Esta é a verdadeira adoração celestial. O cristão não necessita de uma orquestra ou de um coro para extrair adoração de seu coração, como era o caso de Israel no judaísmo.

Adorar com o auxílio de instrumentos musicais é adorar da forma judaica. Misturar o conhecimento e a revelação inerentes ao cristianismo com a ordem judaica de adoração (a qual é essencialmente o que a maioria das assim chamadas "igrejas" fazem) não é cristianismo autêntico. No céu não haverá necessidade de um auxílio mecânico e exterior à adoração a Deus, e os cristãos tampouco precisam deles agora, pois já estão adorando a Deus do modo celestial.

Por esta razão não encontramos no livro de Atos ou nas epístolas qualquer referência de cristãos adorando ao Senhor usando instrumentos musicais. Não existe uma menção sequer nas epístolas do Novo Testamento de uma adoração cristã auxiliada por instrumentos musicais. Os únicos dois instrumentos que os cristãos têm para adorar a Deus são o "coração" (Cl 3:16; Efésios5:19) e os "lábios" (Hb 13:15). No cristianismo tudo o que encontramos é "cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração" (Ef 5:19; Colossenses 3:16). Somos instruídos a oferecer "sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" (Hb 13:15). Mesmo assim a distinção entre a adoração cristã e o judaísmo tem sido ignorada nas denominações. Bandas e até grandes orquestras passaram a fazer parte integral dos "cultos de adoração" de nossos dias. Isso é chamado de "ministério de música", mas o objetivo parece ser mais voltado ao entretenimento da audiência do que ao ministério.

Não somente inexiste qualquer direção na Palavra de Deus para os cristãos adorarem dessa maneira, como a própria história mostra que a música instrumental não teve virtualmente qualquer parte no cristianismo durante os primeiros 1.400 anos! (Há uma total ausência de música instrumental na igreja nos primeiros 700 anos, seguidos de uma ferrenha oposição a ela durante os próximos 700 anos). Foi somente nos últimos séculos que a música instrumental passou a ser aceita e usada na adoração e na atividade evangelística. A questão é: Se o chamado "ministério de música" é tão importante para a vida da assembleia, como a igreja hoje a considera, por que o apóstolo Paulo não exortou as assembleias às quais escreveu a adotarem um "ministério de música" em suas reuniões? E por que não existe qualquer menção disso no Novo Testamento? Cremos que o uso de instrumentos musicais na adoração -- além de muitas outras coisas inventadas pelo homem que acabaram sendo introduzidas -- é uma evidência do distanciamento que as Escrituras nos alertam que ocorreria com a igreja. À medida que as coisas no testemunho cristão foram se afastando da ordem dada por Deus, a música instrumental foi pouco a pouco conquistando um lugar (porém não sem oposição), até acabar sendo aceita como normal para a adoração cristã. Ela pode ter sido até introduzida com boas intenções, mas mesmo assim não tem lugar na adoração cristã.

Não queremos com isso dizer que o cristão não possa tocar música instrumental, mas apenas que ela não tem lugar na adoração cristã. J. N. Darby escreveu: "Se eu puder fazer um pobre pai enfermo dormir com música, tocarei a música mais bela que puder encontrar; mas ela irá estragar qualquer adoração ao introduzir o prazer dos sentidos naquilo que deveria ser fruto do poder do Espírito de Deus".