7) "Separar-se de outros cristãos destrói a unidade do Espírito!"

Para muitos crentes honestos e sinceros parece inconcebível que um cristão venha a se separar de outros cristãos. Principalmente por ser um dos principais conceitos da comunidade cristã que todos fazemos parte de uma grande família onde deve haver unidade e uma feliz comunhão. Na opinião deles, a separação romperia essa unidade (Ef 4:3).

É importante compreender que nenhum cristão sincero e com boas intenções quer se separar de outros cristãos, pois o normal e correto é amarmos a todos os da família da fé (Jo 13:34-35; Romanos 12:9-10; Efésios1:15; Hebreus 13:13). Todavia, o amor ao Senhor Jesus e o desejo de agradá-Lo leva os cristãos sinceros a se separarem daquilo que é uma desonra para o Senhor (2 Tm 2:19-20; João14:15). Mesmo que seja doloroso para nós nos separarmos de irmãos queridos, devemos nos separar daquilo que desonra a Cristo. Tudo o que diz respeito a Ele deve ter a primazia.

O problema dessa ideia de se manter a unidade a qualquer custo está em enxergar apenas um lado da verdade sobre esta questão. Se enxergarmos apenas uma faceta das coisas que falam da unidade cristã, sem vermos o lado que trata da separação do mal, os que são fiéis seriam obrigados a continuar seguindo em frente sem qualquer alternativa. Eles seriam abandonados à difícil situação de enxergarem a ordem de Deus em Sua Palavra, sem poderem colocá-la em prática, já que a unidade exigiria deles que permanecessem com outros cristãos numa posição sem fundamento bíblico. Eles seriam obrigados a continuar em comunhão com aquilo que sabem ser contrário à Palavra de Deus. E para eles este seria um caminho de desobediência, pois "aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado" (Tg 4:17). Consequentemente, para todo cristão que tivesse tal exercício, viver assim seria uma constante aflição para sua alma. Felizmente podemos dizer que se trata de um falso princípio de unidade sacrificar a santidade e a obediência -- e que este nunca é o caminho de Deus.

A verdade é que o princípio divino da unidade só pode ser corretamente praticado em separação do mal. J. N. Darby disse: "O próprio Deus deve ser a fonte e o centro da unidade, e somente Ele pode estar no comando e preeminência. Qualquer centro de unidade fora de Deus será uma completa negação da Sua divindade e glória. Considerando que existe o mal -- sim, é esta a nossa condição natural -- não pode existir uma união da qual o santo Deus seja o centro e o poder, senão por meio da separação do mal. A separação é o primeiro elemento de unidade e união".

Portanto, em nossos dias, quando a ruína e a confusão prevalecem no testemunho público da igreja, as coisas que dizem respeito à unidade só podem ser praticadas em um testemunho remanescente. Este é um princípio bíblico, e é também uma provisão que Deus fez para podermos praticar toda a verdade. Isto pode ser visto ao longo do curso decrescente que encontramos na história do testemunho cristão, do modo como nos é apresentado nas palavras que o Senhor dirige às sete igrejas em Apocalipse capítulos 2 e 3. Há um ponto em que o Senhor já não reconhece a massa da profissão cristã, e a partir daí passa a tratar com um testemunho remanescente. Ele distingue um remanescente ao dizer: "Mas eu vos digo a vós, e aos restantes [ou remanescentes]..." E é neles que o Senhor passa a tratar a partir de então (Ap 2:24-29). A razão disso é que o estado da igreja chegou a um ponto em que já não existe conserto.

A partir daí ocorre uma mudança notória na maneira como o Senhor trata com a igreja. Isto é indicado pela expressão "ouça o que o Espírito diz às igrejas", que passa a vir depois da promessa ao que vencer, ao invés de precedê-la, como tinha sido o padrão até aquele ponto. Nas palavras do Senhor às três primeiras igrejas, a recompensa ao que vencer era colocada diante de toda a igreja, pois o Senhor ainda tratava com ela como um todo. Mas desse ponto em diante já não é mais assim. A expressão "ouça o que o Espírito diz às igrejas" só é dada a um remanescente, pois somente os que fazem parte dele irão ouvir e vencer. Walter Scott disse que a razão dessa mudança é que a grande massa da profissão cristã passa a ser tratada como incapacitada de ouvir, arrepender-se e praticar a verdade. W. Kelly disse: "Desse ponto em diante o Senhor coloca a promessa [ao que vencer] primeiro, e o faz porque é inútil esperar que a igreja como um todo irá recebê-la... apenas um remanescente irá vencer, e a promessa é para os que fazem parte dele; no que diz respeito aos outros, é caso encerrado".

Portanto, já que é assim, não podemos esperar que em nossos dias o princípio divino da unidade seja praticado em meio à massa da profissão pública, mas apenas dentro de um testemunho remanescente.

Na prática, alguém que se une a uma determinada denominação em detrimento das outras, já não tem autoridade para criticar aqueles que querem se separar das denominações, pois foi exatamente o que fez! Ao limitar-se a uma denominação, acabou deixando de lado todas as outras, pois ninguém pode ser Batista e Presbiteriano ao mesmo tempo. Portanto, ao unir-se à denominação de sua escolha, sua atitude o excluiu de todas as outras, deixando assim de guardar a unidade do Espírito. Quem quiser argumentar sobre este ponto precisará primeiro praticar por si mesmo a unidade que espera que os outros pratiquem.