PARÁBOLAS DE MATEUS 13

Parábolas de Mateus 13 representa o comentário sobre o mesmo capítulo do Evangelho e é parte do livro Lectures on The Gospel of Matthew escrito por William Kelly e publicado pela primeira vez em 1868: Na impossibilidade de publicarmos, no momento, o livro na sua íntegra, procuramos trazer aos leitores ao menos uma pequena parte que, temos certeza, será de grande valor a todo aquele que se alegra em conhecer um pouco mais da Palavra de Deus.

Ao terminar o capítulo 12 do Evangelho de Mateus, vemos que o Senhor se desfaz de todos os vínculos naturais que o conectavam com Israel. Estou me referindo simplesmente ao fato de Ele haver demonstrado isto como um aspecto do Seu ensino, pois sabemos que, historicamente, o momento para o real e derradeiro rompimento com Israel aconteceu na cruz. Porém, quanto ao Seu ministério, se podemos dizer assim, o rompimento ocorreu na passagem do capítulo 12 para o 13 do Evangelho de Mateus. Ele Se valeu de uma alusão feita à Sua mãe e irmãos para dizer qual era o Seu verdadeiro parentesco, ou seja, não mais com aqueles que estavam conectados com Ele pela carne, mas, a única família que Ele pode reconhecer a partir de então são aqueles que fazem a vontade de Seu Pai que está nos céus. Ele não reconhece nada além do vínculo que é formado pela Palavra de Deus quando recebida no coração e obedecida adequadamente.

O Espírito Santo continua este assunto registrando uma série de parábolas que estavam conectadas a isto, e que tinham a intenção de mostrar a fonte, o caráter, a conduta e os filhos desta nova família, ou pelo menos daqueles que professavam pertencer a ela. É este o assunto de Mateus 13: Um exemplo surpreendente está na maneira clara como o Espírito Santo moldou os materiais na forma como hoje os vemos, pois sabemos que o Senhor proferiu mais parábolas do que estas que são dadas neste capítulo. Comparando-o com o Evangelho de Marcos, encontramos uma parábola que difere, na sua essência, de qualquer uma das que aparecem em Mateus. Em Marcos é uma pessoa que semeia, dorme e se levanta, de noite ou de dia, esperando pela germinação, pleno crescimento e amadurecimento do grão, saindo, ele próprio, para colhê-lo. Isto diverge consideravelmente de todas as parábolas do Evangelho mais antigo, embora saibamos, por meio de Marcos, que a parábola em questão foi proferida no mesmo dia. “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender. E sem parábolas nunca lhes falava; porém tudo declarava em particular aos seus discípulos... E, naquele dia, sendo já tarde, disselhes: Passemos para a outra banda.” (Marcos 4:33,34).

Da mesma maneira que o Espírito Santo seleciona certas parábolas que são incluídas em Marcos, enquanto outras são deixadas de fora (o mesmo acontecendo em Lucas), assim também aconteceu no caso que vemos em Mateus. O Espírito Santo está expressando plenamente a mente de Deus acerca do novo testemunho conhecido como cristianismo ou cristandade. Dessa maneira, já no princípio deste capítulo nos prepara para o novo cenário. “Tendo Jesus saído de casa naquele dia, estava assentado junto ao mar.” (vers. 1) Até este momento a casa de Deus estava conectada com Israel. Dentro daquilo a que se pode referir em relação à terra, era ali que Deus morava e reconhecia como Sua habitação. Mas Jesus saiu da casa e sentou-Se à beira-mar. Todos nós sabemos que o mar, na linguagem simbólica do Antigo e Novo Testamento, é utilizado para representar as multidões que vagam de um lado para o outro, alheias ao governo estabelecido por Deus. “E ajuntou-se muita gente ao pé dele, de sorte que, entrando num barco, se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia.” (vers. 2) A própria maneira de agir de nosso Senhor, que é indicada ali, mostrava aquilo que viria a ser um testemunho de grande amplitude. Até mesmo as parábolas não ficam limitadas à esfera daquilo com que havia Se ocupado até então, mas passam a ter um alcance muito mais amplo do que qualquer coisa que Ele houvesse dito em ocasiões anteriores.

“E falou-lhe de muitas coisas por parábolas.” (vers. 3) Não é essencial que tenhamos todas as parábolas que nosso Senhor proferiu, mas o Espírito Santo nos apresenta, neste capítulo, sete parábolas interligadas, todas apresentadas juntas e agregadas em um único bloco, conforme procurarei demonstrar. O Espírito Santo está exercendo, de maneira clara, uma certa autoridade no que diz respeito às parábolas aqui selecionadas, pois todos sabemos que sete é o número que, nas Escrituras, representa aquilo que é completo em si mesmo. Quer falemos de bons ou maus espíritos ─ seja de uma forma ou de outra ─ o sete é o número normalmente utilizado. Quando é utilizado o número doze como símbolo, ele expressa a plenitude, não espiritual, mas naquilo que tem a ver com o homem. Quando a administração humana é colocada em evidência para levar adiante os propósitos de Deus, aí, então, aparece o número doze. Daí termos os doze apóstolos, os quais tinham um relacionamento peculiar com as doze tribos de Israel. Mas quando é a igreja que está para ser apresentada, voltamos a encontrar o número sete ─ “sete igrejas”. Seja qual for a razão, temos aqui sete parábolas, algo colocado em ordem por Deus com o propósito de apresentar um relato completo da nova ordem de coisas que estava por começar ─ a cristandade e o cristianismo, tanto o verdadeiro como o falso.

A primeira pergunta que então ocorre é: Por que temos, então, esta série de parábolas aqui e em mais nenhum outro lugar? Algumas delas estão em Marcos e outras em Lucas, mas em lugar algum, exceto em Mateus, encontramos a série completa. A resposta é esta: Não poderia haver lugar melhor ou mais adequado para elas estarem do que no Evangelho que apresenta Jesus como o Messias para Israel, e revela, com Sua rejeição, o que Deus traria a seguir. O que mais poderia ser de tão profundo interesse para os discípulos, quando suas esperanças se desvaneciam, do que conhecer a natureza e o fim desse novo testemunho? Se o Senhor iria enviar a Sua Palavra para os gentios, qual viria a ser o resultado? Sendo assim, o Evangelho de Mateus é o único que nos dá um esboço completo do reino dos céus, como também nos indica que o Senhor iria fundar a igreja. É somente no Evangelho de Mateus que temos ambas as coisas reveladas. Este assunto, porém, pode ser deixado para outra oportunidade, mas o que devemos observar aqui é que o reino dos céus não é a mesma coisa que a igreja. O reino dos céus é a esfera onde a autoridade de Cristo é reconhecida, mesmo que o seja só exteriormente. Todo cristão professo está no reino dos céus. Isto exclui, evidentemente, aqueles que são muçulmanos, judeus ou pagãos. Toda pessoa que tenha feito uma confissão de fé em Cristo, mesmo que tenha sido apenas como um ritual exterior, já não é meramente um judeu ou gentio, mas encontra-se no reino dos céus. Isto é bem diferente de alguém ser nascido de novo e ser batizado pelo Espírito Santo no corpo de Cristo. Quem quer que leve sobre si o nome de Cristo pertence ao reino dos céus. Ainda que ele seja apenas um joio ali, esta será a sua posição. Isto é algo muito solene. Onde quer que Cristo seja confessado publicamente, existe uma responsabilidade maior do que aquela que recai sobre o restante do mundo.