“Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude. Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.” 2 Pedro 1:3-4
Veja como de modo tão belo temos o poder divino no versículo 3 e a natureza divina no versículo 4. No versículo 3 somos os objetos do poder divino, uma operação divina que trabalha em nós dando-nos todas as coisas que pertencem à vida e à piedade. A vida eterna é uma vida que tem prazer em Deus e é própria de Deus, e a piedade é um caráter que é como o de Deus em todos os nossos caminhos aqui, uma semelhança moral a Ele. A vida eterna é uma vida que vem Dele e nunca se ocupa com qualquer outra coisa senão com Ele próprio, e depois vem então a piedade, ou seja, a semelhança com Deus.
“Pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude”. Trata-se de uma profunda familiaridade com o bendito Ser, o qual deu às nossas almas um claro chamado, e se há uma coisa de que somos inclinados a esquecer é nosso chamado ou vocação. Não nos esquecemos de nossos dons, nossas bênçãos, mas estamos prontos a nos esquecermos de nosso chamado, e o que é o nosso chamado? Deus nos chamou para a glória! Somos chamados ao céu no primeiro capítulo da primeira carta, e aqui Pedro diz que o Deus da glória se revelou e nos chamou.
O contraste entre o cristão e seu chamado, e Adão na sua inocência, é bem distinto. Na inocência, Adão era responsável por obedecer a Deus e ficar no Éden onde estava, mas nossa responsabilidade não é ficarmos onde estávamos, pois estávamos no mundo, e o pecado e a paixão constituem nossa natureza. Todavia Deus nos chamou para sairmos dessa esfera pela sua glória e virtude. Abraão foi chamado para ser peregrino; Moisés, para entregar a lei e Josué para ser um líder. Nosso chamado é para a glória. Veja, diz o apóstolo, que você tenha seu rosto dirigido para lá.
A glória é a meta e o que temos para manifestar e expressar é o que ele chama de virtude, energia espiritual. Não há dificuldade maior na nossa vida do que manifestar essa energia, pois isso nos obriga a recusarmos a carne e o mundo. Como Moisés: “Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado” (Hebreus 11:24, 25).
O homem que possui essa energia espiritual sabe dizer “não” às mil coisas existentes nele e em torno dele, ou seja, aos apelos da carne. Costumamos desistir com muita frequência. Nos falta essa energia, e o resultado é que caímos com frequência. Moisés recusou a terra e seus prazeres, recusou o lugar mais elevado neste mundo, disse “não” aos fascínios da carne e do mundo, e tomou seu lugar com os desprezados escravos que pertenciam ao povo de Deus. E para agir como Moisés é preciso virtude e coragem. Ele recusou aquilo que a natureza escolheria — o palácio, o trono e a coroa de Egito — e escolheu o que a natureza recusaria, ou seja, estar na companhia de escravos fazendo tijolos! Mas ele viu que eles eram o povo de Deus e isso fez toda a diferença.
Como necessitamos dessa coragem para recusar o mundo em todas as suas formas e nos estreitarmos a nós mesmos com essa pequena companhia dos que amam o Senhor e são unidos a Ele.
Não há nada mais difícil do que romper com velhos hábitos que fazem parte da vida da maioria das pessoas, pois o poder que as tradições têm sobre nós é espantoso, e é preciso coragem para nos mantermos longe delas. Os judeus convertidos, aos quais as cartas de Pedro foram endereçadas, tinham se separado de sua religião, seu templo, suas ordenanças, suas práticas e de tudo aquilo que sua nação e seus antepassados tinham guardado e, saindo do arraial, tinham simplesmente ido a Jesus. E por terem saído para enfrentar o desprezo e o escárnio, Pedro os encoraja de forma generosa.
Se nós não mantivermos vivas em nossas almas essa coragem e energia — o poder em nós — retrocederemos para as coisas que uma vez deixamos.