“E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência; e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade; e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade.” 2 Pedro 1:5-7
No versículo 5 o apóstolo se volta para a vida prática dos crentes. Tendo lhes dito palavras de conforto e agradáveis a seus corações, disse então que aquilo não era tudo e passou a tratar do lado prático de suas vidas. “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência (ou ‘conhecimento’, segundo algumas versões)”. Pedro sabia como era fácil se deixar levar pela indolência, e assim os exorta à diligência. Virtude é a energia e a coragem da alma que sabe recusar e também escolher, como Moisés que “recusou ser chamado de filho da filha do Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado”, e assim nós lemos, “acrescentai à vossa fé a virtude”. Você tem a fé que o conecta a Deus, e você acredita naquilo que até o momento não vê, mas agora você deve acrescentar a virtude, que é a coragem, que sabe dizer não às mil coisas que nos tentam no dia a dia, e nos pressionam constantemente no caminho que temos diante de nós.
Isto não é uma adição no sentido exato da palavra. O verso 5 deve ser lido assim, “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, em sua fé tenha também a virtude, na virtude o conhecimento, etc”. O pensamento aqui é o de ter todas as qualidades do que é perfeito. Você será perfeito quando não tiver falta de nenhuma dessas qualidades. Uma pessoa pode oferecer uma maçã a um bom conhecedor da fruta para provar, e por este ser um bom conhecedor de maçãs, ao provar diz que ela é boa mas falta doçura. Assim você pode dizer a respeito de um cristão, que ele é agradável, mas lhe falta temperança. A natureza divina em todas as suas qualidades deve ser vista no cristão.
Creio que a palavra 'adição' não dá o sentido dessa passagem. Adicionar apenas dá a entender que algo novo está sendo introduzido. Mas este é outro tipo de adição, pois: Que não falte em você nenhuma das qualidades desta vida divina — a vida de Cristo.
Somos deixados aqui para manifestarmos a Cristo, para refletir o que Ele é. Isso nunca poderia acontecer sem termos sido feitos participantes da natureza divina. Nascidos de Deus, nós recebemos a Cristo. Então, a vida de Cristo deve ser exibida — todas as qualidades da nova natureza devem ser mostradas — nenhum traço do caráter de Cristo deve faltar. Devemos ser epístolas de Cristo, lidas e conhecidas de todos os homens. Em nossa fé nós temos que ter virtude, etc. Essas qualidades devem existir em nós. Deve haver o conjunto completo — nada faltando — todas as graças presentes e sendo exibidas. Certamente nós sentimos quão pouco temos vivido essa vida divina. Podemos encontrar uma pessoa que tenha essa energia, mas que seja um pouco áspera, e assim Pedro diz que há algo faltando a fim de que essa aspereza não apareça. Então, adicionando à virtude o conhecimento de Deus, da mente e das maneiras de Deus, e do que O agrada, pois, o mero conhecimento ensoberbece, temos o que vem de Deus que é o conhecimento que humilha. O homem que quer conhecer a Deus realmente, não pode conhecê-Lo sem estar em Sua companhia, e uma pessoa que esteja próximo de Deus é terno em suas maneiras, embora possa haver energia nele para seguir em frente. Necessitamos da graça do Senhor para isso.
“E ao conhecimento, o domínio próprio”. Não o mero domínio externo, mas o cultivo da história interior da alma dia a dia, governando-nos, mantendo-nos em ordem. E dependemos disso, pois, se não pudermos nos manter em ordem, não poderemos manter nenhuma outra pessoa. Domínio próprio é essa atitude séria e quieta de espírito, de quem é tranquilo em quaisquer circunstâncias, como Cristo, nunca ficando aborrecido ou irritado diante de qualquer prova.
“E ao domínio próprio, a paciência”. O domínio próprio nos impede de dizer ou de fazer uma coisa que possa ferir alguém, e a paciência impede de nos aborrecermos com alguém que quer nos ferir. O domínio próprio é ativo e a paciência é passiva. Se você não tiver conhecimento não saberá como entender os pensamentos de Deus. Se não tiver domínio próprio certamente fará algo que ferirá alguém, e se não tiver paciência ficará aborrecido por algo que alguém possa lhe fazer.
“E à paciência, a piedade” — à semelhança de Deus. Andando neste cenário, e possuindo a natureza divina, cuide para ilustrar isso, ande como exemplo disso! Diga-me com quem andas e eu te mostrarei quem és! Se você permanecer na companhia de Deus será uma pessoa piedosa, porque todos nós nos assemelhamos àquilo com que nos ocupamos. Isso é demonstrado em mil detalhes de nossa vida diária.
Em seguida temos o amor fraternal e a caridade, duas coisas que podem parecer iguais, mas não são. Amor fraternal é algo que pode ser meramente humano, e pode se deteriorar e desaparecer, pois, pode ser que o amor fraternal seja somente amar pessoas amáveis — ele pode ser parcial —; mas quando se trata de caridade, ela é imparcial e infalível — é divina. “O amor (caridade) nunca falha”. Em 1 Coríntios 13 há oito coisas que não devemos fazer e oito que devemos, e isso nunca termina. É exatamente aquilo que nossas almas precisam enquanto atravessamos uma cena onde tudo está contra nós.
Supondo que uma pessoa me rejeite e eu considere o esforço de me aproximar e demonstrar o meu amor apenas como uma intromissão, o amor fraternal talvez dissesse apenas um “Não vou voltar a procurá-la”. Todavia, a caridade, por ser divina, me faz pensar na glória de Deus em conexão ao bem e bênção para pessoa, e assim eu volto atrás e procuro ver se posso ser útil para ela. A caridade não é o amor que minimiza o pecado, mas o amor que procura o benefício das pessoas que são objetos do amor do Deus.
Temos um guia perfeito pelo qual podemos saber se realmente amamos os filhos de Deus: “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos” 1 jo 5:2. Se você amar ao Pai, amará a Seus filhos. Se nós O amarmos nós amamos o Seu povo da mesma maneira, e buscarmos fazer a vontade de Deus, procuraremos a bênção uns dos outros. Devemos agir como quem vai a Deus o mais diretamente possível, dependentes Dele e obedientes a Ele, e devemos, em graça, procurar ajudar uma pessoa, independente da sua condição. Temos a ajuda do Senhor, através da Sua Palavra, para colocar em prática esse amor, e para procurar ter estas qualidades morais encantadoras em nossa fé, pois há muitas consequências agradáveis se agirmos assim.
Se não existir essa abençoada adição é certo que estaremos fazendo um retrocesso, porque não há na vida cristã algo como ficar parado. Se não estivermos progredindo, estaremos regredindo. “Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver, até o que tem ser-lhe-á tirado” Mateus 25:29. O que será se não existir o desejo de avançar, de ir adiante com o Senhor? Haverá somente um retorno às coisas das quais o Senhor nos tirou em dias passados. O Senhor nos conceda ter diligência de coração em tal adição à nossa fé, e em progredir no conhecimento Dele.