Primeira Carta

Blackheath, janeiro de 1875.

Meu amado irmão,

Sua carta era tão cheia de protestos suaves e amorosos, e nossa amizade foi tão próxima, que lhe devo uma explicação detalhada da razão de eu mudar minha posição. Uma vez que muitos outros também perguntaram por que eu, que escrevi um panfleto contra os chamados “irmãos”, mudei tanto de opinião ao ponto de me identificar com eles, espero que você não se oponha à minha intenção de responder através destas cartas endereçadas a você.

Antes de tudo, deixe-me lembrar de nossa associação no passado. Há cerca de seis anos nossa amizade foi formada, a qual continuou e cresceu mais profundamente com o tempo, provando que a bênção do Senhor estava sobre ela. O início dessa amizade já era uma previsão de sua natureza e caráter, pois ela surgiu a partir da comunhão que na época parecia ser a verdade. Nominalmente, éramos ministros Batistas, mas em espírito e na prática, estávamos tão fora da denominação batista que não éramos vistos com bons olhos.

Por quê? Porque tínhamos sido libertados das restrições da teologia e simplesmente valorizado as Escrituras como a verdadeira Palavra de Deus. Depois de termos aprendido algo das verdades dispensacionais, da posição distinta da Igreja de Deus, e tendo ensinado sobre a posição perfeita que o crente desfruta diante de Deus por meio da morte e ressurreição de Cristo, da natureza divina de nosso chamado, da morada pessoal do Espírito Santo no crente, do retorno do Senhor para os Seus santos antes do milênio, e do glorioso reino milenar do Messias (1000 anos) etc., encontramo-nos fora de harmonia com nossos colegas ministros, ao ponto de ficarmos receosos de convidá-los para pregar em nossos púlpitos, para evitar que viessem a contradizer nosso próprio ensino.

Em uma honesta discordância de todo denominacionalismo, não podíamos apoiar nossas sociedades, e por isso nos mantivemos longe dos procedimentos políticos de grande parte das reuniões da denominação. A consequência foi que você e eu, quando presentes, estávamos sozinhos nessas reuniões, e sobre nós pesava fortemente a suspeita de uma tendência ao “brethrenism”*. Nossa posição era bem conhecida e nosso isolamento quase total.

[*N. do T.: Referência ao movimento dos irmãos congregados somente ao nome do Senhor.]

Como resultado, nos entregamos mais plenamente à obra do Senhor, nos esforçando em proteger nosso povo tanto quanto fosse possível das “influências denominacionais”, para treiná-los a estudarem por si mesmos as Escrituras e edificá-los com a verdade de Deus. O Senhor graciosamente abençoou nosso trabalho. Ele nos incentivou por meio de muitas provas da Sua graça. De fato, até o final de 1872, eu e você tínhamos muitos motivos para agradecer, pois raramente passava um mês sem que pessoas fossem levadas a Cristo pela pregação do evangelho.

Quantas vezes nós derramamos nossos corações diante do Senhor em gratidão por Sua grande misericórdia em nos usar para a Sua glória! Em todas as nossas orações nosso único desejo era o de sermos transformados em “vasos para honra, santificados e idôneos para uso do Senhor, e preparados para toda a boa obra, e aptos para o uso do Mestre” (2 Tm. 2:21). Nossas preces foram ouvidas, pois vejo a resposta para nossos clamores nas experiências dos dois últimos anos. Nosso desejo era o de continuar com o nosso povo e termos maior bênção sobre nós e sobre o nosso trabalho em seu meio. Oramos para uma maior dedicação, mas estávamos fechando os olhos para o fato de que a nossa posição não estava de acordo com a vontade de Deus (e havia coisas em meu ensino que também não estavam de acordo com as Escrituras). Portanto, se as nossas orações deviam ser respondidas, isso só poderia acontecer se nós nos separássemos de tudo aquilo que era mau aos olhos do Senhor, seja na posição ou no ensino. Ele nos respondeu de acordo com seus próprios pensamentos de amor, e não conforme a nossa própria vontade.

Em Cristo, carinhosamente seu, Edward Dennett