CAPÍTULO 4
PERGUNTA: Por que é tão errado alguns dentre os “santos reunidos” frequentarem as denominações de seus amigos cristãos? Afinal, eles também amam o Senhor!
Quem faz esta pergunta não compreende a posição que assumimos em separação da confusão eclesiástica existente na cristandade. Isto nos faz indagar por que, se pensam assim, estão entre os “santos reunidos”. Não me julgue mal, ficamos felizes e grato por todos os que assumiram seu lugar à mesa do Senhor, mas realmente precisamos entender a razão de estarmos ali, e a pergunta deixa claro que alguns não entendem.
RESPOSTA: Existem diversas razões pelas quais não faz sentido que aqueles que estão congregados ao nome do Senhor frequentem cultos em uma igreja denominacional.
- Seria hipocrisia apoiar algo que somos contra.
Antes de qualquer coisa, precisamos entender a posição que assumimos como congregados ao nome do Senhor "fora do arraial” (Hb 13:13). H. E. Hayhoe escreveu que “Trata-se de um protesto bíblico e prático contra a falta de fundamento bíblico da ordem denominacional na cristandade”, e há uma citação semelhante feita por W. Potter. Se uma pessoa se une àqueles que assumiram esta posição, há de se esperar que ela concorde com tal posição. A conclusão óbvia a respeito de alguém que tenha assumido esta posição, como separado da ordem sem fundamento bíblico que são as denominações, e volte a frequentar seus cultos é que tal pessoa é hipócrita. Paulo fala deste princípio em Gálatas 2:18, quando diz: "Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor". Como judeu convertido, ele havia assumido a posição cristã fora do judaísmo. Ele estava ativamente engajado em encorajar outros, que haviam assumido a mesma posição, a reterem "firmes a confissão da nossa esperança" (Hebreus 10:23). Para ele, retornar àquilo de onde sua consciência o havia tirado faria dele um "transgressor". Enquanto Gálatas 2:18 faz referência ao judaísmo, o princípio é o mesmo com respeito à ordem denominacional na cristandade.
Participar de uma assim chamada "igreja" depois de termos assumido uma posição de protesto contra isso seria hipocrisia. William Kelly escreveu algo no sentido de que seria pecado ele retornar àquilo de onde sua consciência o havia tirado, e qualquer pessoa que insistisse para que ele fosse contra sua própria consciência estaria, na verdade, encorajando-o a pecar contra Deus.
- Seria aprovar a ordem denominacional que não tem base bíblica.
Em segundo lugar, ao frequentarmos uma denominação estaríamos assim tendo comunhão com ela, e portanto sancionando e aprovando as coisas feitas nesse lugar que está claramente fora da Palavra de Deus. Podemos ter certeza de que o Senhor não ficaria contente conosco se agíssemos assim.
Existe uma figura no Antigo Testamento que ilustra bem este ponto. Vamos ler a passagem em 1 Reis 13, pois acredito que podemos aprender algo dela.
"E eis que, por ordem do SENHOR, veio, de Judá a Betel, um homem de Deus; e Jeroboão estava junto ao altar, para queimar incenso. E ele clamou contra o altar por ordem do SENHOR, e disse: Altar, altar! Assim diz o SENHOR: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti. E deu, naquele mesmo dia, um sinal, dizendo: Este é o sinal de que o SENHOR falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele está, se derramará. Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei a palavra do homem de Deus, que clamara contra o altar de Betel, Jeroboão estendeu a sua mão de sobre o altar, dizendo: Pegai-o! Mas a sua mão, que estendera contra ele, se secou, e não podia tornar a trazê-la a si. E o altar se fendeu, e a cinza se derramou do altar, segundo o sinal que o homem de Deus apontara por ordem do SENHOR. Então respondeu o rei, e disse ao homem de Deus: Suplica ao SENHOR teu Deus, e roga por mim, para que se me restitua a minha mão. Então o homem de Deus suplicou ao SENHOR, e a mão do rei se lhe restituiu, e ficou como dantes. E o rei disse ao homem de Deus: Vem comigo para casa, e conforta-te; e dar-te-ei um presente. Porém o homem de Deus disse ao rei: Ainda que me desses metade da tua casa, não iria contigo, nem comeria pão nem beberia água neste lugar. Porque assim me ordenou o SENHOR pela sua palavra, dizendo: Não comerás pão nem beberás água; e não voltarás pelo caminho por onde vieste. Assim foi por outro caminho; e não voltou pelo caminho, por onde viera a Betel. E morava em Betel um velho profeta; e vieram seus filhos, e contaram-lhe tudo o que o homem de Deus fizera aquele dia em Betel, e as palavras que dissera ao rei; e as contaram a seu pai. E disse-lhes seu pai: Por que caminho se foi? E seus filhos lhe mostraram o caminho por onde fora o homem de Deus que viera de Judá. Então disse a seus filhos: Albardai-me um jumento. E albardaram-lhe o jumento no qual ele montou. E foi após o homem de Deus, e achou-o assentado debaixo de um carvalho, e disse-lhe: És tu o homem de Deus que vieste de Judá? E ele disse: Sou. Então lhe disse: Vem comigo à casa, e come pão. Porém ele disse: Não posso voltar contigo, nem entrarei contigo; nem tampouco comerei pão, nem beberei contigo água neste lugar. Porque me foi mandado pela palavra do SENHOR: Ali não comerás pão, nem beberás água; nem voltarás pelo caminho por onde vieste. E ele lhe disse: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do SENHOR, dizendo: Faze-o voltar contigo à tua casa, para que coma pão e beba água (porém mentiu-lhe). Assim voltou com ele, e comeu pão em sua casa e bebeu água. E sucedeu que, estando eles à mesa, a palavra do SENHOR veio ao profeta que o tinha feito voltar. E clamou ao homem de Deus, que viera de Judá, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porquanto foste rebelde à ordem do SENHOR, e não guardaste o mandamento que o SENHOR teu Deus te mandara, Antes voltaste, e comeste pão e bebeste água no lugar de que o SENHOR te dissera: Não comerás pão nem beberás água; o teu cadáver não entrará no sepulcro de teus pais” (1 Rs 13:1-22).
Bem, o restante da história todos nós já conhecemos: um leão o encontrou no caminho e o matou. Que triste final para sua vida! Existem algumas lições valiosas que podemos aprender disto. No capítulo 12, Jeroboão havia estabelecido dois altares rivais ao altar do Senhor em Jerusalém.
Eles negavam a unidade de Deus por existirem dois bezerros para representarem o único Deus de Israel. "Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR" (Dt 6:4).
Eles negavam a verdade do único centro de reunião para ofertas e sacrifícios, ao fazerem de Betel e Dã lugares alternativos de adoração. "Então haverá um lugar que escolherá o SENHOR vosso Deus" (Dt 12:11).
- Eles dividiam o povo de Deus, o qual Deus queria que estivesse unido como um só povo. "...e elas se farão uma só na minha mão" -- este era o desejo original de Deus (Ez 37:15-19).
Como resposta Deus levantou um testemunho contra aqueles falsos centros de adoração e sacrifício. "Um homem de Deus" foi enviado de Judá (onde estava o centro de Deus) para protestar contra a falsa posição estabelecida por Jeroboão em Betel. Ele foi "por ordem do Senhor”, o que demonstra que o testemunho contra a falta de fundamento nas Escrituras para aqueles falsos altares vinha de Deus. De um modo similar, a posição de separação de tudo o que não é bíblico -- que é a que os santos reunidos ao nome do Senhor assumem na cristandade -- é na realidade um protesto bíblico vindo de Deus.
É significativo que o homem de Deus "clamou" contra o altar, mas "suplicou" pelo rei e pelo povo que oferecia seus sacrifícios ali (vers. 2, 6). Do mesmo modo, este protesto bíblico dos santos reunidos ao nome do Senhor não é contra os queridos crentes que adoram em suas igrejas denominacionais, mas sim contra o sistema no qual estão envolvidos. Não criticamos nossos queridos irmãos que estão nas igrejas denominacionais; nós os amamos e oramos pelo bem deles e para que sejam abençoados. O fato de o rei ter estendido sua mão contra o profeta demonstra que existem reprovação e perseguição conectadas à posição de separação que assumimos, e precisamos estar preparados para isso. "Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério [opróbrio ou vergonha]" (Hb 13:13).
Depois que a mão do rei foi restaurada, aqueles que estavam em Betel fizeram uma dupla tentativa de envolver o homem de Deus em uma falsa associação com eles naquele lugar. Houve a oferta de um presente da parte do rei para que ele ganhasse alguma vantagem neste mundo, e também um convite para que fosse até a casa do rei para se recompor da viagem. Tratava-se de uma evidente tentativa de desviar o servo de Deus do caminho de obediência à Palavra de Deus. A tentativa foi frustrada pela obediência do homem de Deus àquilo que lhe havia sido dito "pela palavra do Senhor" (vers. 7-10). Isto nos ensina que, quando somos provados, devemos nos agarrar aos princípios que nos foram ensinados pela Palavra de Deus e nos deixarmos guiar por eles.
Tendo fracassado em sua primeira tentativa, o inimigo atacou o homem de Deus de uma maneira muito mais sutil. O "velho profeta em Betel” aproximou-se do homem de Deus e disse a ele uma grande mentira para tentar fazê-lo voltar e ter comunhão consigo naquela falsa posição. Para convencer o profeta mais jovem, o velho profeta usou daquilo que alegou ser "a palavra do Senhor". É triste ter de admitir, mas seu estratagema funcionou e o homem de Deus foi engando para que retornas-se a Betel para comer pão com ele (vers. 11,32). Isto nos ensina que devemos permanecer em guarda contra nossos conservos que distorcem a Palavra de Deus para nos persuadir a trilhar o caminho errado. Muitos cristãos sinceros têm sido persuadidos por seus irmãos a agirem sobre algum falso princípio no que diz respeito à comunhão, e assim acabaram sendo desviados da mesa do Senhor para alguma falsa posição. Fiquemos alerta contra isso.
Você irá reparar que o velho profeta de Betel se esforçou bastante para comprometer o homem de Deus e convencê-lo a ter comunhão consigo em sua falsa posição. Ele queria desesperadamente fazê-lo comer e beber naquele lugar, o que expressa comunhão. Evidentemente o velho profeta tinha consciência de estar em uma posição sem fundamento nas Escrituras e queria que outros estivessem ali com ele para aliviar o fardo em sua consciência.
O homem de Deus fracassou por não partir do "lugar" contra o qual ele havia sido enviado para testificar (vers. 16). Ele caminhou uma pequena distância e então se sentou sob uma árvore, mas ainda estava em Betel. Talvez o velho profeta não o alcançasse se ele tivesse continuado caminhando. Sua demora em sair dali permitiu sua queda. Fica muito claro desta passagem o que Deus pensa daqueles que estão em Seu divino centro e mantêm comunhão com os que estão em uma falsa posição eclesiástica. Creio que isto responda à pergunta se os “santos congregados” deveriam frequentar uma igreja denominacional.
Resumindo, ocorreram três coisas como consequência de o homem de Deus ter voltado para comer e beber com o velho profeta de Betel. Ao fazer isso ele: Colocou sua aprovação naquele lugar de sacrifício que não tinha a aprovação do Senhor.
Colocou sua aprovação na infidelidade do velho profeta que ocupava aquela falsa posição.
Anulou seu próprio testemunho contra a falta de fundamento do falso centro, e assim encerrou sua história de testemunho do único lugar escolhido por Deus.
- Perderíamos nosso poder como testemunhas da verdade da assembleia.
Uma terceira razão de precisarmos andar em separação das igrejas denominacionais é que se nos juntarmos a elas perderemos nosso poder como testemunhas da verdade da assembleia. No caso do profeta que voltou a Betel para comer pão com o velho profeta, quando desobedeceu a Palavra do Senhor e comeu naquele lugar, um leão o matou e aquele foi o fim de sua história como uma testemunha para o Senhor.
O Senhor disse a Jeremias: "Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles" (Jeremias 15:19). O ponto que veremos aqui é que, se Jeremias permanecesse separado da corrupção que havia em Judá, ele continuaria a ser usado como a “boca” do Senhor. Se ele voltasse e se juntasse ao povo, perderia seu poder como um testemunho. Do mesmo modo, se permanecermos na posição eclesiástica em que estamos por termos nos separado, poderemos e seremos usados para levar um testemunho da verdade em meio à confusão e, em certo sentido, sermos a “boca” do Senhor. Seremos um "vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra" (2 Tm 2:21). Aqueles que permanecem na confusão dos sistemas denominacionais podem ser usados pelo Senhor para algumas obras, mas não para “toda a boa obra”. Eles não podem ser usados para ensinar a verdade da assembleia e a ordem adequada a ela -- ao menos com poder, já que tal verdade condena a posição em que se encontram. E se nós retornarmos àquilo de que nos separamos, perderemos nosso poder de testemunhar.
- Estaríamos associando a mesa do Senhor com a ordem sem base bíblica existente nas igrejas.
Uma quarta razão pela qual aqueles congregados ao nome do Senhor devem ser cuidadosos quanto a terem comunhão com as igrejas no cristianismo denominacional é que, ao frequentarmos seus cultos, iremos associar a mesa do Senhor com a ordem existente nelas, para a qual não há base bíblica. O apóstolo Paulo fala deste princípio em 1 Coríntios 10:14-22. Ele demonstra que, seja no cristianismo, judaísmo ou paganismo, existe uma identificação. Em cada caso, a participação em uma determinada ordem religiosa é a expressão da comunhão de alguém com o que existe ali.
Com respeito ao cristianismo, Paulo disse: "Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?" (1 Co 10:16). O ato de partirmos o pão (participando da ceia do Senhor) é a expressão de nossa comunhão com aqueles com quem partimos o pão. O mesmo princípio vale no que diz respeito a Israel. Ele disse: "Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar?" (1 Co 10:18). Alguém que participasse dos sacrifícios feitos no altar do judaísmo estaria identificado com tudo que aquele altar representava. Paulo mostrou também que o mesmo princípio vale para a idolatria e o paganismo. Ele disse: "Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios." (1 Co 10:20). Neste caso aqueles que participassem do "cálice dos demônios" estariam em comunhão com os demônios por detrás dos ídolos.
O ponto levantado por Paulo aqui é muito claro: nosso ato de participar em uma comunhão religiosa qualquer -- judaica, pagã ou cristã -- nos identifica com tudo o que acontece ali. O princípio se aplica às mesas dos homens existentes na ordem de igrejas denominacionais. Se participarmos com eles, e eles ensinarem má doutrina, estaremos em comunhão com essa má doutrina. Se eles estiverem engajados em práticas de adoração incorretas segundo as Escrituras, e participarmos com eles, estaremos também em comunhão com essas práticas. Eu sei que isto é terrivelmente impopular, mas permanece o fato de que quando nos associamos com qualquer ordem sem base bíblica no cristianismo denominacional -- quer concordemos com suas práticas ou não -- mesmo assim estaremos identificados com elas. E o que é mais importante, se partirmos o pão à mesa do Senhor, o nosso ato de termos comunhão com uma ordem sem fundamento bíblico na cristandade faz com que estejamos associando isso à mesa do Senhor. Certamente isto não pode ser do agrado do Senhor.
- Existe o perigo de acabar sendo levado para dentro das igrejas denominacionais
Uma quinta razão pela qual precisamos ser cuidadosos em nossas associações com as igrejas denominacionais é que existe o perigo de nos deixarmos levar por elas. Existe uma possibilidade real de adquirirmos má doutrina -- especialmente opiniões eclesiásticas. O princípio que eu aplicaria neste caso é "Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si" (Rm 14:7). Ele mostra que somos afetados pelo meio. As ideias errôneas daqueles com quem nos associamos nesses grupos eclesiásticos acabarão sendo passadas para nós. Pode levar algum tempo, mas é um fato. "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). Em Ageu 2:10-14 lemos: "Ao vigésimo quarto dia do mês nono, no segundo ano de Dario, veio a palavra do SE-NHOR por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes, acerca da lei, dizendo: Se alguém leva carne santa na orla das suas vestes, e com ela tocar no pão, ou no guisado, ou no vinho, ou no azeite, ou em outro qualquer mantimento, porventura ficará isto santificado? E os sacerdotes responderam: Não. E disse Ageu: Se alguém que for contaminado pelo contato com o corpo morto, tocar nalguma destas coisas, ficará ela imunda? E os sacerdotes responderam, dizendo: Ficará imunda. Então respondeu Ageu, dizendo: Assim é este povo, e assim é esta nação diante de mim, diz o SENHOR; e assim é toda a obra das suas mãos; e tudo o que ali oferecem imundo é" (Ag 2:10-14). Talvez você discorde e argumente: “Mas esses cristãos não são maus!” No que diz respeito à vida pessoal deles isto pode ser verdade, mas é de suas opiniões errôneas acerca do que é a igreja que estamos falando aqui, ou seja, apenas dos princípios aos quais eles estão conectados. Nas Escrituras há muitos exemplos que demonstram que precisamos tomar cuidado com as pessoas com quem nos associamos.
Talvez alguém possa estar perguntando: "Existe algum problema em as irmãs congregadas ao nome do Senhor participarem de estudos da Bíblia para mulheres promovidos por essas organizações?" Entendo que a pergunta se refira a reuniões que não sejam feitas dentro do prédio de uma igreja, portanto você estaria dizendo que participar de reuniões assim não seria o mesmo que frequentar as igrejas denominacionais. Não há nada de errado em irmãs se reunirem para ler a Palavra, e devemos encorajá-las neste sentido. Mas eu creio que não exista fundamento bíblico para estudos entre mulheres voltados ao ensino. Em 1 Coríntios 14:35 lemos que "se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos". Nas Escrituras você não encontra uma organização para-eclesiástica criada para ensinar mulheres. Talvez seja difícil aceitar tal ideia, pois nesses grupos as pessoas estariam fazendo algo bom e correto -- afinal, que mal pode existir em se estudar as Escrituras?
Todavia, é possível fazer a coisa certa do jeito errado, e é isto que estou tentando mostrar aqui. Este versículo que acabo de citar eu tirei das Escrituras, e lembrem-se de que no início eu disse que procuraria responder às dúvidas com as Escrituras. O que eu disse pode não ser muito popular, mas está nas Escrituras.
A réplica usual neste caso é: "Mas e se uma irmã não tem marido?". A palavra traduzida como “maridos” nesta passagem tem um significado mais amplo do que apenas homens casados; ela se refere a homens de uma maneira geral. A mesma palavra grega é traduzida como "homens" várias vezes no Novo Testamento (Atos 1:16, 29, 37; 3:2; 7:2; 9:2; 13:15; 15:7 etc.). Creio que era assim que ela deveria ter sido traduzida neste versículo. O ponto que Paulo está querendo frisar é que as irmãs podem perguntar aos homens (irmãos) em casa, isto é, no ambiente doméstico, se quiserem entender alguma coisa que foi falada na assembleia. Volto a repetir que entendo que isto seja o mesmo que jogar um balde de água fria naquilo que alguns gostariam de ouvir, mas é isto que as Escrituras dizem, e não somos mais sábios que a Palavra de Deus.
O foco de nosso assunto, que é o perigo de sermos afetados por nossas associações, é bem real. Como já foi mencionado, existe a possibilidade de nos deixarmos levar pelas ideias das igrejas denominacionais através da comunhão com cristãos conectados a esses sistemas. Alguém me contou que em uma assembleia congregada ao nome do Senhor havia sete irmãs que passaram a participar de um estudo bíblico para mulheres organizado por pessoas de uma igreja denominacional, e poucos anos depois apenas duas delas continuavam congregadas. Portanto não devemos achar que esse tipo de comunhão não cause um efeito nas pessoas. Uma das consequências de alimentar-se do ministério que tem suas raízes no arraial é ser arrastado para o arraial. E no arraial você não encontrará um ministério que leve a pessoa para "fora do arraial" -- para o lugar correto designado para o cristão (Hb 13:13). Eu odiaria ver um grupo de jovens ser levado por algo assim. Não seria a primeira vez que isto aconteceria.
Anos atrás, quando eu era jovem e faminto por aprender a verdade, tínhamos em nossa assembleia uma situação ideal. Havia muitos mestres bem dotados ali -- os irmãos Clark, Coleman, Graham, e também, dentre aqueles menos atuantes, tínhamos meu pai, meus tios Stan e Jim, e o irmão Keating. Todos tinham boas bibliotecas de sã doutrina e nos ensinavam uma boa parcela da verdade nas reuniões semanais, pelo que sou muito grato. Quando íamos a uma reunião de leitura, nós nos sentávamos ali tomando notas e bebendo tudo aquilo. Muito do que hoje sei eu aprendi com aqueles homens.
De qualquer modo, em meio a tudo isso havia uma irmã na assembleia que costumava frequentar regularmente um estudo bíblico para mulheres organizado por uma igreja da cidade. Quando alguém lhe perguntava a razão de frequentar aquele grupo de estudo ela respondia que não estava recebendo alimento nas reuniões! O que?! Como assim? Lá estávamos nós anotando em um ritmo febril a maravilhosa verdade que saía da boca daqueles homens e ela dizendo que não estava sendo alimentada?! Nem preciso dizer que aquela irmã não está mais congregada ao nome do Senhor; hoje ela frequenta uma igreja denominacional.
Que triste estado este em que nos encontramos! Antigamente, há uns 150 anos, essas igrejas denominacionais costumavam procurar os irmãos congregados ao nome do Senhor para aprenderem a verdade; agora nós precisamos ir a eles para sermos alimentados! Isto me faz lembrar os filhos de Israel, que desciam aos filisteus para terem seus implementos agrícolas afiados por eles (1 Sm 13:19-22). Não estou querendo dizer que nossos irmãos nas igrejas denominacionais sejam como os ímpios filisteus; estou apenas triste pelo fato dos santos congregados acharem que precisam ir a esses em busca da verdade quando deveria ser o contrário.
Talvez o problema tenha duas faces. Isto poderia apenas ser um sintoma de um espírito inquieto e insatisfeito em busca de algo diferente. Mas, por outro lado, precisamos perguntar a nós mesmos por que alguém em nossa assembleia local iria querer participar de um estudo bíblico em uma denominação. Por que uma irmã acharia que não está sendo alimentada nas reuniões da assembleia? Talvez fosse um problema com a condição dela, mas poderia ser também por não estarmos dando aos santos o alimento necessário. Precisamos pensar nisto. Creio que parte do problema é culpa daqueles que têm a responsabilidade de ensinar na assembleia. Será que estamos alimentando como deveríamos? Será que estamos ensinando a verdade aos santos? Quando nos reunimos, será que ficamos procurando algo para dizer apenas para preencher aquela hora, ou estamos trazendo algo realmente significativo? Não estou tentando apontar culpados entre os que ensinam; o que desejo é ser exercitado neste sentido. Mas se não tivermos empregado algum tempo aprendendo a verdade para nós mesmos, ela não sairá como em um passe de mágica quando estivermos nas reuniões de estudo; precisamos ser diligentes durante a semana em nossos estudos pessoais para termos certeza de podermos trazer algo para as reuniões no sentido de alimento para as almas. Então, talvez as pessoas fiquem contentes por estarem nas reuniões da assembleia e deixem de procurar por algo em outros lugares.
RESUMINDO: Alguém que esteja congregado ao nome do Senhor -- em separação da ordem sem base bíblica das igrejas denominacionais -- e que frequente um culto denominacional estará sendo inconsistente com a posição que assumiu, pois:
1) Estará sendo hipócrita ao apoiar algo contra o que protestamos.
2) Estará sancionando algo que está claramente em desacordo com a Palavra de Deus.
3) Perderá poder como testemunha da verdade da assembleia.
4) Estará conectando a mesa do Senhor com uma ordem sem fundamento bíblico que é a das denominações.
5) Estará se colocando em uma posição em que poderá receber má doutrina e ser afastado da mesa do Senhor.