A Deidade de Cristo

Tudo no cristianismo é baseado na existência não criada Daquele que criou todas as coisas. Colocar em questão a Deidade do Filho é minar o fundamento sobre a qual toda a bênção para o homem está baseada. Não importa o que os elaborados sistemas religiosos dos homens possam construir, ou quanto possam professar honrar o nome de Cristo, se não estiverem edificando sobre este fundamento tudo se arruinará.

A Deidade absoluta do Filho não é trazida para diante de nós em muitas passagens da Escritura, mas em nenhuma mais impressionantemente do que nos versos iniciais do Evangelho de João. Este Evangelho abre com a sublime afirmação “no princípio era o Verbo [Palavra]”. Todas as coisas criadas, e todos os seres criados no universo tiveram um princípio, mas a Palavra estava no princípio. No princípio de todas as coisas a Palavra estava lá, sem nenhum começo. “No princípio era a Palavra”, é a afirmação formal da existência eterna da Palavra.

Então nos é dito “o Verbo [Palavra] estava com Deus.” Ele era uma Pessoa distinta na Divindade, pois Ele estava “com Deus.” Além disso, lemos “o Verbo [Palavra] era Deus”. Ainda que distinto em Pessoa, não era diferente na natureza, pois era Deus – uma Pessoa divina.

Então temos a afirmação adicional: “Ele estava no princípio com Deus”. A mente do homem poderia argumentar, e de fato fez isso, que embora seja verdade que a Palavra agora é uma Pessoa distinta, contudo Ele não foi sempre assim. Mas esse verso reprova tal pensamento e nos diz claramente que a Sua Personalidade distinta é tão eterna quanto a Sua deidade.

Aqui então temos o fundamento sólido da nossa fé cristã – a glória da Pessoa do Filho – uma Pessoa eterna, uma Pessoa distinta, uma Pessoa Divina, e uma Pessoa eternamente distinta.

Muitas outras passagens são igualmente claras no testemunho da Deidade do Filho, mas mais uma Escritura direta pode ser citada. Em Hebreus 1 o Filho é intitulado como Deus. “Mas, do Filho, diz: O Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos”. Ele é adorado pelos Anjos; no princípio pôs os fundamentos da terra. Ele é tratado como o Deus eterno e imutável – “Tu permanecerás” e “Tu és o mesmo”.

A Escritura deste modo dá um testemunho direto e definido da Deidade absoluta do Filho. Uma dificuldade pode surgir, contudo, na mente de alguns, em razão de certas expressões usadas com relação ao Filho, as quais podem ser resumidamente examinadas: Primeiro lemos do Filho como o Filho unigênito. Poderia se pensar que a palavra “unigênito” necessariamente implica em um nascimento e um princípio. Se a fé é incapaz de satisfazer essa dificuldade ela sabe muito bem que a Escritura não pode contradizer-se, e as afirmações claras dos versos iniciais do Evangelho de João impedem tal interpretação. Mas a Escritura dá alguma luz quanto ao significado da palavra “unigênito” aplicada ao Filho? Ela seguramente dá. A palavra ocorre nove vezes no Novo Testamento, e em cinco dessas ocasiões são aplicadas ao Filho (João 1:14, 18; João 3:16, 18; 1 João 4:9). Uma passagem – Hebreus 11:17 – é especialmente instrutiva quanto a exposição do significado com o qual a palavra é usada. Ali lemos: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito”. É evidente que o termo “unigênito” não pode significar que Isaque foi o único filho nascido de Abraão, pois sabemos que ele teve outros filhos. É igualmente claro que houve um relacionamento especial entre Isaque e Abraão que fosse único, e não pertencesse a nenhum outro filho. Seguramente é essa relação única que o termo “unigênito” é usado para exprimir. Enquanto a Escritura torna muito claro que há Pessoas distintas na Divindade, ela também mostra que as Pessoas da Divindade não são independentes, mas relacionadas. E, assim como com Abraão e Isaque, também com as Pessoas Divinas, a palavra “unigênito” é usada para anunciar o relacionamento que existe eternamente entre o Filho e o Pai. “Vimos”, diz o apóstolo, “a Sua glória, como a glória de um unigênito com um Pai” (João 1:14 N.V.); lemos novamente “do Filho unigênito no seio do Pai” – passagens que trazem para diante de nós a mutualidade do afeto divino e eterno entre o Pai e o Filho. O Pai que se deleita no Filho como um unigênito; o Filho no seio do Pai se alegra no amor do Pai. Bem sabemos que os crentes são amados com o mesmo amor com que o Pai amou o Filho como Homem (João 17:23), mas para sempre haverá afeição especial entre as Pessoas Divinas – Pai e Filho – a qual nenhuma outra pessoa compartilhará, e que é anunciada pela palavra “unigênito”.

Além disso, temos a palavra “gerar” usada com relação ao Filho no Salmos 2 onde lemos: “Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei”. Esta passagem é citada em Atos 13:33, Hebreus 1:5 e Hebreus 5:5. Isso, contudo, não apresenta nenhuma dificuldade já que claramente se refere a Cristo como um homem, o Ungido e Rei de Jeová, em relação a este mundo. As expressões usadas: “o monte Sião”, “os fins da terra” e “hoje”, estão claramente relacionadas com a terra e o tempo, por essa razão confirmam esta compreensão.

Finalmente temos a palavra “primogênito”, usada com relação a Cristo, anunciando a Sua preeminência em relação às pessoas, e coisas, no tempo, assim como “unigênito” anuncia o Seu relacionamento eterno com o Pai antes que existisse o tempo.

Em adição às declarações positivas da Deidade do Filho nas Escrituras diretas às quais foi feita alusão, há outras passagens, e outras formas, ás quais podemos nos referir resumidamente, e que, se em uma forma menos positiva, contudo, talvez, mais movimentada, apresentam a Deidade do Filho para a afeição do Seu povo.

A reivindicação de ser um com o Pai envolve a Sua Deidade. O Senhor pode dizer que: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Ao mesmo tempo os Seus inimigos respondem: “Tu sendo Homem Te fazes Deus”. A verdade de fato é que, sendo Deus se tornou Homem, mas pelo menos eles corretamente reconhecem que Aquele que utiliza tais palavras está reivindicando a Deidade.

A reivindicação de honras iguais com o Pai envolve a Deidade. Ele pode dizer: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou”. (João 5:22, 23).

A reivindicação da preexistência envolve a Sua Deidade. Ele pode dizer: “Antes de que Abraão fosse, Eu sou”. Isso é verdadeiramente uma reivindicação de preexistência, mas é mais, pois o Senhor não diz: “Eu fui”, mas “EU SOU”. Isso é a consciência da existência eterna, bem como a reivindicação da preexistência. Essa é a linguagem Daquele que não conhece passado, e não conhecerá futuro – Aquele para quem o tempo é como se não existisse, que não tem nem começo nem fim – o Eterno EU SOU.

A Sua reivindicação da autoridade absoluta envolve a Sua Deidade. Os profetas abrem as suas declarações inspiradas com: “Assim disse o Senhor”. Eles apelam aos seus ouvintes na autoridade do Senhor. Diferentemente com os dizeres de Cristo os quais são introduzidos com: “Em verdade em verdade vos digo”. Ele não pode fazer nenhuma apelação a uma autoridade mais alta já que Ele é o Senhor.

As reivindicações pessoais do Senhor envolvem a Sua Deidade. Os outros testemunham das dignidades do Senhor. Ele as reivindica para Ele mesmo. Davi pode dizer: “O Senhor é o meu pastor”, mas Cristo pode dizer: “Eu sou o Bom Pastor”. João o Batista pode testemunhar da luz; o Senhor pode dizer: “Eu sou a Luz”. Marta pode dar o seu testemunho da ressurreição, dizendo do irmão morto: “Sei que ele ressuscitará”; o Senhor pode responder: “Eu sou a ressurreição e a vida”.

O fato de que era um objetivo para o céu, proclama a Sua Deidade. Os outros a serem abençoados devem ter um objetivo fora deles; Jesus era o objetivo do céu ao em vez de ter um objetivo lá. Tiago, levantando os olhos, encontra em Jesus um Objetivo glorioso no céu que o apóia naquela última passagem difícil em seu caminho para a glória. Mas o céu olha para baixo para Jesus, e a voz do Pai declara: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me agradado”.

O fato de que congrega a Si mesmo é uma prova de Sua Deidade. Ele pode dizer: “Vinde a Mim”. Isso realmente foi dito, não fosse Ele Deus isso teria sido assustador. Para alguém que fosse apenas um homem usar tais palavras teria sido uma tentativa de transformar os homens em Deus.

As Suas palavras proclamam a Sua Deidade. Quão verdadeiro é o veredicto do mundo: “Nunca um homem falou como este Homem”. Quando ouvimos Jesus ao lado do sepulcro dizendo palavras sensível de conforto ás mulheres com o coração partido, e então, em pouco tempo, passamos ao cenáculo, e ouvimos as palavras elevadas do último discurso, que transportam o nosso coração para além das tristezas da terra para a casa do Pai, percebemos de fato que estamos na presença do Deus de quem está escrito: “Ele sara os quebrantados de coração... conta o número das estrelas” (Salmos 147:3, 4).

Esses são alguns aspectos claros que nos testemunham da glória Divina de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Meditando na Escritura a qual, direta ou indiretamente, fala da Sua Deidade e entra em alguma pequena medida no seu significado profundo, seguramente nos voltamos Àquele de quem ela fala, encantados confessamos: Tu és a Palavra eterna, O único Filho do Pai; Deus manifesto, Deus visto e ouvido, Aquele amado do Céu; Digno, Oh Cordeiro de Deus, Tu és De que todo joelho se dobre a Ti.