Capítulo Quarto - O Mesmo Senhor

1 Tessalonicenses 4

Vemos agora, no capítulo 4, que existem algumas coisas que são marcantes, e que nos são apresentadas conectadas com Sua vinda. A primeira delas é a ambição, ou, como o apóstolo a chama aqui, "paixão de concupiscência" (v.5). Trata-se do coração que não está satisfeito com Deus e com a porção que Ele fornece - ou seja, o esforço constante de se tirar proveito das coisas deste mundo. Isto nada mais é do que o poder do espírito ímpio influenciando o coração separado de Cristo, que ainda procura se satisfazer com as coisas deste mundo, vindo a descobrir, tal qual o jovem da parábola que tentava se alimentar com o alimento dos porcos, que de maneira nenhuma poderá se satisfazer com as bolotas dos porcos. Ele logo se verá na lamentável condição de estar procurando descobrir se existe algo na comida dos porcos que possa lhe fazer bem. Por fim descobrirá que as bolotas são apropriadas somente para o estômago de um porco, e que não há alimento para si.

Então encontramos lamento. O que pode ser considerada uma porção satisfatória? Não encontro nenhuma aqui neste mundo que possa ser considerada como tal. Devo esperar não apenas por um feliz encontro, mas pela Pessoa cujo poder inerente irá se revelar em meio às dificuldades em que encontrará Sua Igreja quando vier buscá-la.

Paulo disse aos tessalonicenses que Deus iria levar Consigo aqueles amigos e parentes que lhes eram mui queridos, os mesmos que eles pensavam ter perdido a chance de estar com Cristo na glória. E estas palavras vêm, desde então, satisfazer os anseios de cada coração que se encontra em uma circunstância semelhante.

Tenho um pensamento e sei que ele me causa uma forte impressão. Penso que aquilo que emana de Cristo é o que nos dá o poder para olharmos para cima. "Não quero, porém, irmãos, quem sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele. Dizemo-vos pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras." (1 Tessalonicenses 4:13-18).

Existe tudo o que é necessário para despertar a atenção na forma como o assunto é introduzido: o mesmo Senhor descerá do céu. Quando? Será que diz isto ali? Não! Não nos é dado saber quando. Mas pensar Naquele sem o qual nada do que foi feito se fez; Naquele em cujas mãos tudo foi entregue por Deus - pensar Naquele Homem que está prestes a descer do céu outra vez!

O fato de existirem pessoas que insistem em afirmar que a morte dos santos é a vinda do Senhor revela a estupidez da mente humana! Se eu morrer hoje à noite, eu irei para o Senhor; o Senhor não desce do céu para que isto ocorra. Quando Estêvão estava morrendo, olhou para o alto e viu o Senhor que esperava por ele no céu; ele não viu o Senhor descendo do céu.

Mas o Senhor irá descer. Ele sairá daquele trono no momento determinado. Ele descerá daquela glória sobre a nuvem. Ele descerá dos céus.

Há tudo o que é necessário, na forma em que nos é apresentado, para cativar a alma, despertando nela indagações; e então, mais além, é prudentemente anunciado: "o mesmo Senhor". Existe apenas um Senhor.

E então, contemplaremos a glória! Oh! e não somente isto mas também a graça! É com a Sua palavra de ordem, com a voz do arcanjo, e com a trombeta de Deus. Nunca leio estas palavras sem que me ocorram certos pensamentos. Sua voz já foi ouvida neste mundo antes deste evento. Seus discípulos ouviram-No orar. No momento em que pediu que vigiassem com Ele, Sua voz se elevou em oração ao Seu Pai, e foi ouvido quanto àquilo que temia. Mas Ele não tomou para Si a direção dos acontecimentos. Ele deixou que Seu Pai fizesse tudo da maneira como desejasse. Pedro, por que você agiu daquela maneira, desembainhando sua espada e arrancando a orelha do servo? O Senhor colocou Sua mão sobre o ferido e imediatamente o curou. O Senhor não poderia ser libertado pois tinha que dar Sua vida por Suas ovelhas. Por outro lado, está claro que Ele tomou a direção dos acontecimentos quando, ocultamente, permitiu que Saulo de Tarso estivesse presente por ocasião da morte de Estevão, e também quando lhe dirigiu o chamado na estrada para Damasco. Foi, por assim dizer, estando "detrás dos bastidores" que Ele falou e conduziu todas aquelas coisas, mas virá o momento, por ocasião da Sua vinda, que Ele irá falar de uma forma bem diferente. O "alarido", trata-se de uma "palavra de ordem" (cf. Versão Atualizada), como o chamado para os soldados apresentarem as armas; e seu som será ouvido, anunciando que o tempo é chegado. Mas será também uma voz agradável! Ele próprio deixará o trono! Ele próprio chamará pelos Seus! Ele é Aquele que conduz todas as coisas! Ele é o Servo perfeito. Ele não sai do trono do Pai antes da hora, mas quando o fizer, será com um grito de chamada.

E então lemos da "voz do arcanjo". O Senhor a faz elevar. O tempo é chegado, e que anjo nos céus não estaria disposto a se sujeitar alegremente a Ele? Lemos também que é soada a "a trombeta de Deus". Deus a faz soar. O Senhor está vindo do trono de Seu Pai; é a ordem que coloca em cena as bênçãos.

Então, além de tudo (até aqui não há nada de novo para nós), há duas coisas que Ele apresenta. Ele diz, "Eu Sou a ressurreição e a vida" (João 11:25). Nós já nos encontramos associados com Ele em vida ressurreta nos lugares celestiais. Ele nos fez conhecer isto, porém irá nos dar uma nova exibição do que se trata.

Acaso você tem estado a imaginar como Cristo está conservando os corpos dos que morreram? Você conhece o coração que Ele possui e, portanto, sabe com que afeição está cuidando deles! Você sabe que Ele conhece exatamente onde se encontra o pó do corpo de Estêvão ou de Paulo, e que o Seu olhar não deixa passar uma partícula sequer! E Ele está pronto para transformar tudo quando o momento chegar. É Ele próprio Quem o fará. Ele não disse que enviaria algum tipo de poder a fim de dar o toque vital. É Ele próprio Quem o faz. Ele declara que os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Oh! que porção de esperança é esta para aqueles que tiveram que batalhar contra a morte; para aquele que teve que tomar algum ente querido e baixá-lo à sepultura! Ausente do corpo, mas presente com o Senhor. Oh, morte! Eu serei sua ruína, diz o Senhor. Ele vem para por fim à disputa, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Ele vem para expor Sua glória quanto à ressurreição. Vindo o Senhor, em todos os lugares o pó devolve os mortos que pertencem a Cristo! Ah, sim! É isto que Ele nos apresenta aqui!

Você gostaria de ver a ressurreição cumprida - cada canto desta Terra abrindo-se para deixar sair do pó aquele que está dormindo? Há amor supremo para os mais fracos e temerosos cujos corpos estejam dormindo no pó.

E então vemos o que sucede para "os vivos"! Isto diz respeito a você e a mim. Se Ele viesse hoje mesmo, derramaria tamanho manancial de vida em nós que não nos sobraria nada a não ser imortalidade.

Costumamos escutar as pessoas citarem Hebreus 9:27 de maneira errada. Costumam dizer: "a todos os homens está ordenado morrerem uma vez". O correto é "aos homens está ordenado morrerem", e não "a todos os homens". Se o Senhor viesse esta noite, não nos seria necessário deixar o corpo.

O apóstolo nos mostra em seguida o conforto que é isto para nós. O que nos traz conforto? A ressurreição e a vida? Não! O que nos traz conforto é o Senhor que é tudo isso para nós!