RESSURREIÇÃO

Assim como a morte (física) é a separação da alma e espírito do corpo (Tg 2:26), a ressurreição é a reunião da alma e espírito com o corpo (Lc 8:55). O túmulo é a custódia temporária do corpo, hades é a custódia temporária da alma e espírito. Todos que morrem, sejam justos ou injustos, irão experimentar a ressurreição. Mas não serão todos ressuscitados simultaneamente. Há duas ressurreições (Jo 5:29; Atos 24:15). A "primeira ressurreição" (Ap 20:4-6) chamada de "ressurreição da vida" (Jo 5:29) ou "ressurreição dos justos" (Lc 14:14) é a ressurreição somente das pessoas justas. Esta ressurreição é referida como a ressurreição "de entre os mortos" (Mt 17:9; Filipenses 3:11; Colossenses 1:18, etc.) porque ela é uma coisa seletiva na qual os justos são tirados de entre os maus. A primeira ressurreição tem lugar em três fases: primeiro, "Cristo as primícias" (1Co 15:23; Mateus 28:1-8), então, "os que são de Cristo na Sua vinda" (1Co 15,23, 1 Tessalonicenses 4:15-18), depois, por último, aqueles que se voltam a Deus durante o período da tribulação e são martirizados (Ap 6:9-11, 15:2) são ressuscitados no fim dos sete anos (Ap 14:13, 20:4). Todos que participam da primeira ressurreição gozarão de uma porção celestial com Cristo e reinarão com Ele sobre a terra (Ap 5:9-10). A segunda ressurreição, chamada de "ressurreição de condenação" (Jo 5:29), ou "ressurreição dos injustos" (Atos 24:15) é a ressurreição das pessoas más que morreram em seus pecados. Eles ressuscitarão juntos depois dos mil anos de reinado (Milênio) de Cristo (Ap 20:7, 11-15) para ficarem diante do "grande trono branco" e receberão sua sentença após o julgamento. Todos que participam desta ressurreição, que é o resto dos mortos, serão lançados no lago de fogo para sempre.

Glória - Ressurreição para o crente é o completo e final aspecto de livramento do todo o efeito e consequência do pecado. Quando a primeira ressurreição tiver lugar na vinda do Senhor (arrebatamento) cada filho de Deus que partiu deste mundo pela morte será ressuscitado com corpos incorruptíveis (1Co 15:51-55 "isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade"; 1 Tessalonicenses 4:15-18). Os corpos dos cristãos passarão por uma transformação quando forem arrebatados para encontrar com o Senhor nos ares (1Co 15:52-54 "isto que é mortal ser revista de imortalidade"). Os corpos dos santos (aqueles que ressuscitaram e os que foram arrebatados) serão glorificados como o corpo do Senhor Jesus Cristo que Ele mostrou aos seus discípulos na ressurreição (Fp 3:21; Romanos 8:17,30; Lucas 24:39-43). Quando glorificados os santos não aparentarão seus defeitos e envelhecimento, etc., mas estarão no "orvalho da mocidade" (compare Salmos 110:3 com Filipenses 3:21). Os santos irão também reconhecer uns aos outros naquele dia, como Pedro, Tiago e João reconheceram Moisés e Elias no monte da transfiguração (Lc 9:28-36). Além de terem corpos glorificados os santos irão também experimentar uma moral permanente em semelhança a de Cristo (1Jo 3:2). A natureza caída e pecaminosa será erradicada para sempre (Hb 11:40, 12:23 "feitos perfeitos"). O apóstolo Paulo fala desse estado glorificado como sendo "revestidos da nossa habitação, que é do céu" (2Co 5:1-2). Também se faz referência a isso como a fase final da salvação dos santos a qual lhes foi dita que esperassem por ela (Rm 5:9, 8:11,19-25, 13:11; Hebreus 9:28; 1Pe 1:5). Assim a morte será "tragada pela vitória" (1Co 15:54). Mais que isto, na aparição de Cristo (depois de sete anos de tribulação), os santos em estado glorificado serão revelados ao mundo como associados com Cristo (2Ts 1:10). Eles viverão e reinarão com Ele sobre a terra no reino Milenar (Ap 20:4-6). Este estado glorificado é eterno (2Tm 2:10).

Frequentemente ouvimos cristão dizerem dos entes queridos que partiram para estar "com Cristo" em um estado intermediário ("despidos") como estando agora na glória. O estado glorificado [4] é aquele em que os santos serão trazidos após a vinda do Senhor (arrebatamento). Cristo está na glória agora (1Pe 1:21; 2Co 3:18) e está aguardando para trazer Seus santos para ali na Sua vinda. Os santos "fora do corpo" estão no presente "com Cristo", mas não glorificados como Cristo ainda.

[4] J. N. Darby, "Collected Writings", vol. 31, p. 179, p. 185.

Inferno, o lago de fogo - Depois que o reinado de mil anos de Cristo (o Milênio) terminar, terá lugar a segunda ressurreição. O restante dos mortos que são os maus (uma vez que os justos ressuscitam na primeira ressurreição), será levantado para ficar diante do "grande trono branco" sobre o qual o Senhor se sentará como Juiz. Os livros serão abertos e suas vidas reveladas. Consequentemente, irão receber a sentença que lhes cabe do julgamento e serão enviados para a perdição eterna no lago de fogo (Ap 20:5,11-15). O lago de fogo é o lugar dos condenados e foi preparado para o diabo e seus anjos, mas todas as criaturas más e não arrependidas, incluindo homens e mulheres responsáveis serão encontradas lá no final (Mt 25:41,46; Ap 20:15, 21:80). A expressão "lago de fogo" é linguagem simbólica descrevendo a punição eterna do perdido. Um lago é um lugar onde rios e correntes de água terminam. Tudo que flui para ele é coletado e confinado lá. Fogo é um símbolo de julgamento nas Escrituras. Assim o lago de fogo é o lugar de confinamento sob o juízo de Deus.

Cada pessoa lançada no lago de fogo será lançada lá viva, pois eles estarão ressuscitados nesse tempo. Seus corpos serão constituídos para durar por eras eternas: nunca morrerão, mas existirão eternamente na segunda morte no lago de fogo. Não haverá crianças ou pessoas mentalmente desabilitadas, pois elas não atingiram a idade de responsabilidade em suas vidas. Deus é fiel e justo em não permitir que qualquer destes "pequeninos" pereça em uma eternidade perdida (Mt 18:10-14; II Sm 12:23, Gênesis 18:25). Eles estão todos sob a proteção do sangue de Cristo mesmo que não sejam inteligentemente aptos para apreciar o valor dele. As pessoas que forem para o lago de fogo serão seres humanos responsáveis que tiveram plena oportunidade para receber e crer no testemunho que Deus lhes deu de Si mesmo, mas conscientemente rejeitaram. Também não haverá ninguém lá no lago de fogo arrependido de seus pecados ou genuinamente pesaroso pelo que fizeram quando em seus corpos aqui na terra. Haverá "choro", mas será em autocomiseração. Haverá também "ranger de dentes", mas será como insultos e maldições lançadas contra Deus (Mt 8:12, 13:42,50, 24:51, 25:30).

"Inferno" e lago de fogo são o mesmo lugar. Será a habitação final e eterna dos perdidos. "Inferno" é a palavra usada para traduzir "Gehena" que é uma palavra grega usada para traduzir as palavras hebraicas "Vale de Hinom". O "Vale de Hinom" é um vale ao sul de Jerusalém para onde se dirigia o esgoto. Nela existia um fogo chamado "Tofete" (2 Rs 23:10, Isaías 30:33) queimando constantemente dia e noite com o propósito de consumir o refugo da cidade (Is 66:24). "Gehena" aparece no NT doze vezes e é corretamente traduzido por "inferno" ou "inferno ardente" [5] (Mt 5:22,29,30, 10:28, 18:9, 23:15,33; Marcos 9:43,45,47; Lucas 12:5; Tiago 3:6). Vai também além do sentindo literal de "Vale de Hinom" referindo-se também ao lugar de eterno juízo.

[5] Há uma grande diferença entre hades e gehena. Embora ambas sejam traduzidas como "inferno" na versão de João Ferreira de Almeida, somente gehena deveria ser traduzida como "inferno". Hades não é o inferno, mas gehena é. Hades é uma condição, gehena é um lugar (onde a pessoa como um todo, incluindo o corpo, é lançada como lemos em Mateus 5:29,30, 10:28, 18:8,9). Hades é temporário (Ap 20:14), gehena é eterno (Mc 9:43). Hades afeta a alma (Atos 2:27,31), gehena afeta ambos, corpo e a alma (Mt 10:28) Ao contrário da crença popular, não há ainda pessoas no inferno (lago de fogo). As primeiras pessoas colocadas lá serão a Besta e o Falso Profeta (Ap 19:20). Pessoas perdidas estão no presente em prisão no hades, sofrendo tormentos, mas estas pessoas irão mais tarde ser consignadas, depois de ressuscitadas, para o inferno para sempre. Para ilustrar a diferença entre a condição temporária do perdido, na prisão do hades, e o lugar final eterno do perdido no lago de fogo, suponha que uma pessoa é pega quebrando a lei e ao ser apreendida é colocada na cadeia municipal (um lugar temporário de confinamento). Ela é mantida lá até o dia de seu julgamento quando for levada diante do juiz e sentenciada por seus maus feitos. Ela é então colocada na penitenciária estadual onde servirá sua pena. A cadeia municipal representaria a prisão no hades e a penitenciária estadual o inferno (lago de fogo).

O diabo e seus anjos que serão confinados no abismo serão também lançados no lago de fogo (Mt 25:41), de modo que toda criatura má e sem arrependimento terá sua parte na eterna perdição.

Eterna perdição (2Ts 1:9; Filipenses 3:19; Mateus 7:13; 2Pe 2:1,12, 3:16, etc.) que será a porção do perdido, não significa o cessar de existência como alguns aniquilistas ensinam. Por exemplo, se você pegou um machado e destruiu uma mesa magnificamente construída o que resta é um material imprestável num monte de entulho no chão na mesma quantidade que havia naquela bela e útil mesa. Uma vez destruída nunca terá mais a utilidade de quando foi feita. O homem foi criado para a glória de Deus (Ap 4:11). Se ele for para a perdição eterna ele não mais serve para o propósito que foi criado. Isto é chamado de perdição "eterna" porque não há recuperação para esta condição. Ela é eterna (Mc 3:29).

Assim, considerando o destino do perdido em eterna separação de um Deus que é luz e amor, sejamos mais solenes ao ver que isso logo será a porção daqueles que não creem em Deus e não obedecem ao evangelho de Cristo.

Bruce Anstey Junho de 1990