O QUE DIZER DE 1 CORÍNTIOS ACERCA DO DOM DE LÍNGUAS?

A única epístola que fala do dom de línguas é 1 Coríntios. Ali nos é dito que aos Coríntios não faltava nenhum dom, e ainda assim eram cristãos carnais (1 Coríntios 1:7; 3:1). Uma vez que "os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento" (Romanos 11:29), Deus não retira um dom que tenha sido dado a uma pessoa, mesmo que ela não o esteja utilizando em conformidade com a Sua vontade revelada em Sua Palavra. É possível usar um dom dado por Deus de maneira errada, ou fazê-lo apenas para exibição e exaltação própria. Além disso é importante notar que nem todos os crentes em Corinto tinham o dom de línguas (1 Coríntios 12:30), mas alguns, que haviam recebido esse dom, não o estavam usando em amor e nem para proveito, razão pela qual Paulo os exorta a não agirem como meninos que gostam de se exibir (1 Coríntios 13:11; 14:20). Quando ele fala das línguas dos homens e dos anjos, o faz no mesmo sentido em que fala de anjos pregando um outro evangelho (Gálatas 1:8), pois podemos estar certos de que os anjos são capazes de falar qualquer língua deste mundo, e que os anjos eleitos são espíritos ministradores cuidando de todos os filhos de Deus, independente de sua nacionalidade (Hebreus 1:13-14).

Não existe aqui nenhum pensamento acerca da, assim chamada, "língua celestial", pois como poderia uma língua desconhecida a qualquer pessoa ou nação deste mundo ser um testemunho para incrédulos? Pois as Escrituras nos demonstram, conforme já mostramos, que as línguas foram dadas como um sinal para os incrédulos. As línguas não serão necessárias quando "vier o que é perfeito" (1 Coríntios 13:8-10), portanto cessarão na glória vindoura. Note aqui que não diz "o dom de línguas", mas simplesmente que as "línguas" cessariam. Nos céus a profecia não será necessária, o conhecimento não será mais em parte e, já que todos serão de um mesmo parecer e falarão a mesma linguagem, então as línguas (ou idiomas) cessarão. As diferentes línguas começaram com a torre de Babel quando o homem, em seu orgulho, procurou erguer uma torre de tijolos cujo topo alcançaria os céus. Agora Deus está construindo uma casa espiritual, da qual todos os crentes fazem parte como pedras vivas, não importa que língua falem ou a que nacionalidade pertençam. Mais uma vez vemos a sabedoria de Deus em apresentar esse algo novo por meio do dom de línguas. O uso desse dom sem amor e para pura exibição não estava nos propósitos de Deus.

Mais adiante, no capítulo quatorze de 1 Coríntios, o apóstolo continua tratando deste assunto e dá as regras para o seu uso em assembléia. Nas ocasiões anteriormente registradas em Atos elas não eram usadas na assembléia, quando estavam reunidos, mas apenas como um sinal para cumprir o propósito para o qual Deus lhes havia dado. Já que era um dom dado por Deus o seu uso não era proibido, a não ser quando não houvesse um intérprete. O dom seria, quando usado adequadamente, uma lembrança à assembléia da graça de Deus em operar entre as nações em bênção, reunindo-os num só corpo em Cristo. Mesmo em nossos dias podemos ser propensos a esquecer, em uma assembléia onde todos falem a mesma língua, que Deus está salvando almas de toda tribo, língua, povo e nação, e dando a elas o Espírito Santo como membros do único corpo. Com freqüência, quando alguém que fala outra língua nos visita, e temos que interpretá-la para os demais, somos lembrados de como, no dia de Pentecostes, cada um ouviu das grandezas de Deus em sua própria língua natal (Atos 2:8).

É triste termos que admitir que os coríntios estavam usando o dom de línguas para exibição e, por esta razão, Paulo precisou dizer-lhes que não falassem em outra língua, desconhecida dos presentes, a menos que houvesse um intérprete. Eles poderiam, porém, falar "consigo mesmo e com Deus" em outra língua, pois Ele entende todas as línguas. Se eu estivesse em uma reunião onde ninguém compreendesse o inglês, eu falaria comigo mesmo e com Deus em inglês. Mas os versículos 21 e 22 de 1 Coríntios 14 deixam claro que não se tratava de algum balbuciar pronunciado em êxtase, Porém as línguas que Paulo mencionava eram diferentes idiomas que poderiam servir de sinal para os incrédulos, do poder de Deus e de como a mensagem da salvação chegava agora a todas as nações. Se nenhum dos presentes na assembléia pudesse entender a língua, e se não houvesse nenhum intérprete, ela não serviria para o propósito dado por Deus, conforme é demonstrado em Atos 2. Além do mais teria parecido loucura para os estranhos que chegassem e não pudessem compreender o que estava sendo falado. Seria confusão; Deus não seria glorificado e ninguém seria edificado (1 Coríntios 14:21-25).

Mas a pergunta que normalmente se faz é se ainda temos o dom de línguas em nossos dias. Perguntar isso já é dar a resposta, pois não existe uma pessoa ou grupo que possa admitir ser capaz de fazer o que aconteceu em Atos 2, reunindo um grupo de pessoas de "todas as nações que estão debaixo do céu" (Atos 2:5), e então falar-lhes, em suas próprias línguas, das grandezas de Deus.

Isto nos leva a uma consideração importante, não apenas com respeito ao dom de línguas, mas também acerca de todos os dons de sinais. As Escrituras não prometem que os dons de línguas, curas e milagres, que incluíam até o ressuscitar mortos, conforme eram exercidos na igreja primitiva por pessoas especialmente dotadas, iriam continuar. Sabemos que eles existiram nos primeiros dias da Igreja, como está claramente registrado em Atos e Coríntios, como sinais para confirmarem a Palavra que ainda não tinha sido escrita. Há, no entanto, a promessa da continuidade dos dons de ministério para edificação da Igreja (Efésios 4:7-16). Temos agora, na Palavra escrita, o fundamento do cristianismo lançado pelos apóstolos e profetas (Romanos 16:26; 1 Coríntios 3:10; Efésios 2:20-22), e a continuação dos dons de ministério, "para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina" (Efésios 4:12-14).

Como já foi mencionado, há aqueles que professam possuir o dom de línguas e outros "dons de sinais" em nossos dias. À medida em que colocamos à prova suas afirmativas, pela Palavra de Deus e pelos próprios fatos, constatamos que não são iguais àquilo que nos é apresentado no livro de Atos Não usam o dom de línguas como um sinal para os incrédulos e nem podem fazer que um grupo de doentes se aproxime e sejam todos curados (Atos 5:12-16). Mesmo com respeito às curas registradas em Atos não existe a certeza de que aqueles que foram curados fossem crentes, mas tudo indica justamente o contrário. Era um sinal para confirmar a Palavra para os incrédulos, mesmo porque os verdadeiros crentes não necessitam que a Palavra lhes seja confirmada, pois a receberam como sendo a Palavra de Deus (1 Tessalonicenses 2:13). É também importante notar que a cura tem relação com o tempo ou século futuro (Hebreus 6:5; Isaías 33:24; Salmos 103:3). Era um sinal dirigido especialmente àqueles que haviam rejeitado o seu Messias, e a outros também, mostrando que é Ele Quem irá no futuro trazer as bênçãos do reino sobre a Terra; que Ele Se encontra agora ressuscitado, e que essas obras de poder eram feitas em nome dEle (Atos 4:9-10).