ESFERA CELESTIAL E ESFERA TERRENAL

É muito importante distinguirmos as duas esferas de bênção das quais o Senhor será o centro no dia vindouro (Efésios 1:10). Haverá a esfera celestial à qual pertence a Igreja (2 Coríntios 5:1; Colossenses 1:5; 1 Pd 1:3-4) e haverá a esfera terrenal da qual Jerusalém, na Terra, será o centro (Isaías 4:3-5; 65:18). Já que nós, como parte que somos da Igreja, somos um povo celestial, aguardamos o momento da Sua vinda quando seremos transformados e teremos corpos de glória à imagem do corpo glorioso de Cristo (Fp 3:20-21). Enquanto isso, neste tabernáculo "gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu" (2 Coríntios 5:2).

Em relação a isto, é bem interessante notar com cuidado as referências feitas à doenças entre os crentes nas epístolas, entre aqueles que pertencem ao povo celestial. Lemos em Romanos 8:23 que "nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo". Não há aqui nenhuma referência a cura, mas sim a esperar pela redenção de nosso corpo. O Espírito, enquanto isso, "ajuda as nossas fraquezas" ("enfermidades", cf. versão inglesa), mas não diz que Ele as remove.

Mais adiante, em 2 Coríntios 12:7-10, vemos que Paulo tinha um espinho na carne, chamado de "enfermidade física" em Gálatas 4:13 (versão Almeida Revista e Atualizada), e ainda assim o Senhor não o curou, mas o ensinou a depender dEle quanto àquela dificuldade. Timóteo tinha "frequentes enfermidades", mas Paulo não lhe indicou alguém que o curasse, mas aconselhou que utilizasse um remédio para sua enfermidade (1 Timóteo 5:23). Mais uma vez vemos, em 2 Timóteo 4:20, que embora Paulo houvesse curado a muitos em seu trabalho no evangelho, (como está registrado em Atos 19:11-12; 28:8-9), deixou Trófimo doente em Mileto.

Em Tiago 5:14-18 encontramos o caso de um que, estando doente, chama pelos anciãos para orarem por ele. Não se trata da fé do doente que lhe restaura a saúde - sua fé nem mesmo é mencionada - mas trata-se de um exercício de fé da parte daqueles que oraram por ele. Também não se trata do dom de curar sendo exercitado, mas sim de uma oração respondida, sugerindo que aquele que estava doente reconhecia que devia ser honesto o suficiente para confessar um pecado conhecido. Aqueles que oram discernem a vontade de Deus em relação à enfermidade, e orando de acordo com a vontade de Deus, Ele responde à oração. Não há menção aqui de uma cura súbita e miraculosa, mas do Senhor levantando o enfermo novamente. Além do mais, naqueles dias havia anciãos (ou presbíteros) designados pelos apóstolos, enquanto que hoje não há apóstolos ou quem tenha recebido autoridade delegada diretamente por eles, como era o caso de Tito (Tito 1:5), para estabelecer anciãos. A assembléia local nunca nomeava os seus próprios anciãos, mesmo nos tempos bíblicos, embora não exista dúvida de que mesmo nestes nossos dias de ruína e fracasso Deus permaneça fiel, e assim como Paulo previu que viriam dias em que lobos vorazes entrariam (e estão entrando) no rebanho, ele se referiu também àqueles anciãos de Éfeso, não como tendo sido nomeados por Paulo, mas pelo Espírito Santo (Atos 20:28-30). Não existem anciãos (bispos ou presbíteros) oficiais hoje, mas sem dúvida há, ainda hoje, aqueles levantados por Deus para tomar conta do Seu povo, em um espírito de humildade e amor pelo rebanho de Deus. Não há dúvida de que é por esta razão que Tiago menciona o caso de Elias, um profeta nos dias da ruína e divisão de Israel, e demonstra como ele era conhecedor da vontade de Deus em suas orações. Ele primeiro viu, ao suspender as chuvas, a necessidade de disciplina do povo de Deus, e então Deus em graça respondeu à oração de Elias ao enviar chuva. Com freqüência temos visto, em nossos dias, o Senhor respondendo às orações, em situações de dificuldade ou ao restaurar a saúde aos enfermos, mas precisamos compreender as épocas e termos discernimento da Sua vontade a este respeito (Efésios 5:17).

Por meio de 1 Coríntios 11:30 podemos ver como Deus utiliza a enfermidade em Seus desígnios governamentais, pois lemos que em virtude de pecado não julgado Deus permitiu que muitos em Corinto estivessem "fracos e doentes", por não terem julgado a si mesmos por seu proceder negligente. João também fala destas coisas em sua epístola (1 João 5:14-17), mostrando como o Senhor poderia remover alguém, por meio da morte, que não tomasse cuidado com seu proceder. Embora o cristão esteja eternamente seguro no que diz respeito à salvação de sua alma, ele se encontra sob os desígnios governamentais de Deus, e Ele às vezes utiliza a doença para tratar com os que são Seus. Se nos recusamos a escutar, poderemos perder o privilégio de vivermos aqui como um testemunho para Cristo, embora o sangue de Cristo já nos tenha tornado prontos para o céu. Evidentemente isto não significa que toda enfermidade seja uma punição, pois ela pode vir tanto em razão de nosso corpo fazer parte de uma criação que geme, e termos por isso herdado alguma fraqueza, como pode também fazer parte do método de ensino de Deus, como quando se poda uma videira para que produza mais fruto. Era este o caso de Paulo em 2 Coríntios 12:7-10.