Imitação

Alguns acreditam erroneamente que se existe apenas uma maneira para os cristãos estarem congregados — a qual é em conformidade com o padrão encontrado na Palavra de Deus — e que se um grupo viesse a se reunir seguindo esse mesmo padrão, os cristãos ali estariam divinamente congregados ao Nome do Senhor. Alguém poderia visitar uma reunião de cristãos assim e sair dizendo: “Essas pessoas se reúnem exatamente como aqueles que estão congregados ao Nome do Senhor, portanto conclui-se que elas estejam congregadas ao nome do Senhor”. Todavia, para estarem divinamente congregados ao Nome do Senhor há outros requisitos a serem preenchidos. Certamente é verdade que só existe uma maneira para os cristãos estarem congregados, mas se bastasse conduzir as reuniões em conformidade com o padrão das Escrituras as pessoas poderiam simplesmente se separar daqueles que Deus congregou ao Nome do Senhor Jesus e estabelecer uma comunhão independente. Bastaria elas praticarem aquilo que a Palavra de Deus ensina sobre a ordem da assembleia e seriam consideradas como estando no verdadeiro fundamento da assembleia. Se este fosse o único critério muitas das divisões heréticas existentes entre aqueles que são chamados “irmãos” poderiam ser consideradas como estando congregadas ao Nome do Senhor, pois muitas delas procuram seguir o padrão determinado na Palavra de Deus para a reunião.

Embora grupos assim possam alegar que existe base nas Escrituras para tudo o que praticam, só isso não significa que estejam divinamente congregados sobre o terreno do “um só corpo”. Por quê? Porque existe ainda a questão da ação conjunta do Espírito em reunir.

É possível que um grupo assim seja uma mera imitação da maneira bíblica de congregar, tendo sido planejado pela vontade do homem. A grande questão é: Será que o Espírito de Deus foi o autor disso? Teriam eles sido reunidos pelo Espírito? Talvez tenham feito isso com boas intenções, mas se foi estabelecido independente da ação do Espírito, trata-se de algo cismático e herético e não poderia ser considerado por Deus como estando sobre o verdadeiro fundamento da assembleia. Uma coisa é os cristãos se reunirem seguindo um padrão bíblico, outra é fazerem isso tendo sido reunidos pelo Espírito sobre o fundamento do “um só corpo”. G. V. Wigram escreveu que é possível encontrar uma situação em que cristãos venham a colocar de um lado a verdade de Deus e do outro o Espírito de Deus. O assunto que estamos considerando pode ser um exemplo disso. Alguns cristãos poderiam se reunir seguindo o padrão bíblico para uma assembleia local, porém separados da obra do Espírito de Deus.

Devemos nos lembrar de que Jeroboão estabeleceu falsos centros de adoração em Betel e Dã. O que era feito em Betel era “como a festa que se fazia em Judá”, no sentido de ser parecido com o centro divino, mas era evidente que não tinha a aprovação do Senhor — pois um homem de Deus foi enviado pelo Senhor para clamar contra aquele altar (1 Rs 12:32, 13:1-2). Isto demonstra que tentar imitar o padrão dado por Deus não é garantia de receber a aprovação de Deus. Em outra ocasião, quando Zorobabel e Jesuá, junto com um remanescente de judeus, voltaram de Babilônia, existiam pessoas na terra que alegavam querer buscar a Jeová “como vós... como também já Lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos fez subir aqui”. Mas o remanescente que estava em Jerusalém os rejeitou por perceber que sua alegação era falsa (Ez 4:2). Se existia imitação no judaísmo, sabemos que existirá imitação no cristianismo também (2Tm 3:8).

Os princípios das Escrituras que já abordamos (no Capítulo 1) demonstram que se o estabelecimento de assembleias cristãs fosse uma obra do Espírito, então isso seria feito em comunhão com a obra do Espírito já existente em reunir as almas ao Nome do Senhor Jesus (1Ts 2:14). Deste modo a “unidade do Espírito” seria mantida. Ao seguirem este princípio, os irmãos congregados ao Nome do Senhor têm buscado estender “as destras em comunhão” (Gl 2:9) às novas reuniões, de forma a manter uma expressão coletiva da verdade do “um só corpo”. Mas é errado pensar que só porque um grupo de cristãos se reúne como aqueles congregados ao Nome do Senhor eles estejam automaticamente sobre o terreno divino e, portanto, teríamos uma justificativa para partir o pão com eles. Pode ser o caso de estarem em um terreno independente, e juntar-se a eles seria apoiar a divisão exterior do testemunho da igreja.