Pregação na Olaria
Certa noite tivemos uma pregação do evangelho na Olaria, logo depois do fim da jornada de trabalho. Foi feita em um dos grandes galpões, chamado de Sala de Modelagem. Certo número de trabalhadores das minas também tinha vindo, logo após terem saído dos túneis. Era um grupo de aparência estranha, alguns brancos como trabalhadores de moinhos de trigo, e outros negros como limpadores de chaminés. Foi uma pregação bem calma, tendo a Palavra sido pregada apenas com esperançosa fé; e havia um sentimento profundamente solene em todo aquele grupo.
No final, repeti os versículos das Escrituras, vagarosamente: "na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra, e crê naquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida". (Jo 5:24) E também: "Seja-vos pois notório, varões irmãos, que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por Ele é justificado todo aquele que crê". (Atos 13:38) Não fiz nem mesmo um simples comentário, mas havia o profundo sentimento de que Deus, o Espírito Santo, estava falando estas palavras aos pecadores perdidos e culpados. Você já viu o vento passar por um campo de cereais, dobrando cada folha e caule. Foi exatamente assim. A divina presença passou sobre a reunião, de um extremo ao outro, e inclinou cada coração e cada cabeça. Um profundo suspiro foi ouvido de um lado ao outro; muitos caíram, alguns em figura, outros se recostando à parede. Pairava sobre o local um silêncio profundo, quebrado apenas pelos soluços.
Então os cristãos que estavam presentes começaram a conversar com os convertidos. Darei um exemplo. D. M. disse a um, que havia sido um jovem leviano e estava ali recostado contra a parede:
— David, você deseja sinceramente ser salvo?
— Não — respondeu ele — eu já estou salvo; eu tenho vida eterna.
David havia passado da morte para a vida, e a nova criação havia sido manifestada nele em sua totalidade. Hoje ele já partiu para estar com o Senhor. Foram dirigidas algumas palavras a alguns, mas foi o Senhor que abriu seus corações para receberem a Sua Palavra. Eles escutaram as Suas palavras, eles creram que Deus havia enviado a Cristo, e o Espírito deu-lhes fé para crerem naquilo que Ele havia dito. E acaso não é este um momento precioso, quando o ouvido é aberto para que escute a mensagem de perdão de pecados que vem de Deus e para que saiba, então, que já está justificado de todos os pecados, pois Deus assim o declara? Mas o que foi por demais marcante foi o que Lydia, uma cristã com uma capacidade de julgar bem apurada, disse-me anos depois daquela reunião. Ela havia acompanhado cuidadosamente o resultado e não tinha dúvidas de que cada incrédulo daquela reunião havia sido convertido. E, ou já tinham partido para estar com o Senhor, ou eram provas vivas da graça de Deus. Querida Lydia! Um dos primeiros frutos naquela região; ela, seu marido e quantos mais, que foram convertidos na época que eu descrevi e que se encontram agora com o Senhor!
Há poucas alegrias mais profundas e reais do que vermos nossos filhos no Senhor partirem em paz. Que cena de perfeita paz e calma podia-se ver na face da idosa Lydia, quando jazia no sono da morte! Que maravilha será vermos, naquela manhã por demais radiante para os olhos mortais, os milhares assim abençoados pela Palavra levantando-se na glória de Cristo para encontrá-Lo nos ares! Será que você, querido leitor, estará ali, ou porventura será deixado de fora para sempre?