Lydia

Quando era incapaz de pregar a grandes multidões nas cidades, o Senhor me dava grande gozo e bênção no trabalho nos povoados. Darei aqui um exemplo. Uma humilde viúva convidou-me para ir à sua casa em W.-on-D. Fui, e ela pediu a alguns cristãos professos que fossem me encontrar. Eles estavam seguros de não haver necessidade de nenhuma pregação em W., mas, segundo eles, a alguns quilômetros havia um povoado bastante carente, habitado por rudes oleiros e trabalhadores das minas de carvão. Imediatamente veio-me a certeza de ser aquele o lugar onde deveria pregar. Fui e preguei numa casa ali naquela tarde e noite. Doze meses depois me senti guiado a voltar lá. Devo dizer que, com frequência, vejo como é importante ser guiado exatamente ao lugar certo do povoado, especialmente quando se prega pela primeira vez em uma localidade. Naquela ocasião fui dirigido a ficar exatamente de frente para a pequena casa de W. M. O nome de sua esposa era Lydia. É claro que eram todos estranhos para mim. Aquelas pessoas eram, naquele tempo, totalmente avessas àquilo que chamavam de dissidentes e, suponho, não teriam andado vinte metros para me ouvir.

Eu estava falando sobre a purificação do leproso (Lv 14). Lydia estava passando pelo jardim de sua casa quando me escutou dizer: O passarinho é solto. Isto despertou sua curiosidade e ela aproximou-se do portão para saber de que passarinho eu estava falando. Ela ouviu com grande atenção, enquanto aprendia que um pássaro apontava para a morte de Jesus por causa dos pecados dela; enquanto o outro era mergulhado no sangue do pássaro que fora morto e, após o sangue ser espargido sobre o pobre leproso, o pássaro era solto para voar, mostrando que o leproso estava limpo. Ela ouviu que isso mostrava como Deus declara, pela ressurreição de Jesus, a nossa justificação; ela ouviu que se o passarinho fosse solto o leproso estaria limpo. Se Jesus, nosso Substituto, que morreu por nossos pecados, está ressuscitado, nós, crendo em Deus, somos justificados de todas as coisas. Lydia nunca antes soubera o que a ressurreição de Jesus tinha a ver com a nossa justificação; e ficou imensamente cativada. Ela não pôde deixar de ouvir novamente naquela noite.

Lydia se converteu, ou talvez, como uma alma despertada, encontrou paz. Ela e toda a sua família, desde sua idosa mãe já com mais de oitenta anos, até seu neto com cerca de quatro anos, foram salvos. Tivemos pregações ali por sete dias do Senhor, quando, então, a mesa do Senhor foi estabelecida na casa de Lydia, continuando ali por muitos anos, até ser mais tarde removida para W. Foram treze pessoas que se reuniram pela primeira vez para obedecer ao Senhor no partir do pão. Isto me traz à memória uma das mais marcantes demonstrações da graça do Senhor como jamais presenciei. Aconteceu no mesmo povoado alguns anos depois.