A Justiça de Deus

Vamos dar um ou dois importantes exemplos: A justiça de Deus. Como é comum isto ser citado a partir de versículos como Romanos 3:21-26, como se significasse a justiça de Cristo. Acaso não é essa uma confusão grande e séria? Porventura não está tão claro quanto as próprias palavras podem expressar, que se trata da justiça de Deus em justificar o crente, tanto antes que Cristo viesse, como depois — a justiça de Deus sem a lei, ou totalmente aparte da lei? De maneira nenhuma baseada no princípio da lei, mas "sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja Justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Este grande fundamento da verdade, em como Deus é Justo em justificar, mal é ouvido, até mesmo na pregação evangélica.

Li cuidadosamente as pregações que foram feitas em Exeter Hall e em outros lugares em defesa do evangelho, quando este foi atacado por hostes de ministros infiéis; e agradeço a Deus pelo zelo de tantos que falaram. No entanto somos obrigados a dizer que, quanto ao assunto da justiça de Deus, a trombeta deu um som dos mais incertos. Nenhum indagador sincero poderia dizer, a partir daquelas pregações, o que significa a justiça de Deus. Ela é muito confundida com a justiça de Cristo. Longe de mim procurar me opor àqueles homens entendidos e dotados. Apenas gostaria de ajudar. Estou certo de que nada poderia ajudá-los mais, e à toda a igreja de Deus, do que uma compreensão mais clara sobre este assunto.

Então, o que é a justiça de Deus? E o que é a justiça de Cristo? Justiça, é a perfeita consistência de caráter e de ações, em conformidade com o relacionamento de um ser com outros ou consigo mesmo. Assim, a justiça de Deus é a perfeita harmonia de Seus atributos em Sua maneira de tratar com todos os seres criados — perfeita coerência Consigo mesmo, e isto em justificar o ímpio pecador. Como poderiam, o Seu perfeito amor para comigo, um pecador, e Seu infinito ódio por meus pecados, estar em absoluta harmonia? A obra da redenção e da infinita propiciação por meus pecados, e a substituição sobre a cruz, é a única resposta possível de Deus a esta terrível questão. Bendito seja Deus, Ele é Justo, e meu Justificador! Ponha-se o homem com toda a sinceridade diante de Deus como um pecador culpado, e então ele encontrará no evangelho a única revelação possível da justiça de Deus em justificá-lo. Assim, é "pela redenção que há em Cristo Jesus" (Rm 3:24) que Deus é Justo em justificar o pecador. As Escrituras não dizem que Deus justifica o ímpio pela justiça de Cristo imputada ao pecador para restaurá-lo diante de Deus, como se ele tivesse guardado a lei e nunca tivesse falhado em guardá-la. Trata-se de um evangelho bem diferente tentar restaurar o homem, sendo este um filho caído do primeiro Adão; e não existe um erro a que estejamos mais sujeitos do que este.