A Velha Senhora

Porém nem sempre é na pregação pública que Deus expõe Sua graça soberana. Talvez não haja nada que demonstre tal graça de forma mais extraordinária do que no chamado dos idosos; e nas muitas e peculiares maneiras que Ele pode usar para chamá-los por Sua graça. Eu e alguns cristãos tínhamos no coração o desejo de fazer uma longa viagem de carruagem passando pelos povoados de Yorkshire, nos arredores de meu povoado natal, Brookhouse, deixando um folheto em cada casa e pregando o evangelho conforme o Senhor nos dirigisse. Algum tempo depois de passarmos por Whiston, chegamos ao ponto onde uma estrada segue em direção a Laughton e a outra desce a Brookhouse. Senti profundamente que o Senhor tinha algo especial para eu tratar em Brookhouse. Chamei o cocheiro, que também era cristão, e disse-lhe:

— Você deve descer a Brookhouse e parar assim que eu disser.

— Não podemos dar a volta passando por lá — respondeu ele.

— Devemos ir — disse eu — e você pode seguir até Hooton e então voltar.

Descemos para o vilarejo. Eu estava orando ao Senhor para que me guiasse à pessoa certa; aquela que Ele tivesse em mente. Em dado momento senti segurança.

— É aqui! — disse, pedindo ao irmão que parasse a carruagem. Desci e vi que estava exatamente do lado oposto à pequena ponte sobre o ribeiro. Eu conhecia bem aquela ponte de meu tempo de infância e, quando criança, tinha atravessado por ela várias vezes para comprar doces em uma pequena mercearia não longe dali, a qual era cuidada por uma pessoa conhecida como Becky F. Senti-me guiado a ir até lá. Bati à porta. Uma mulher de meia-idade veio atender. Disse-lhe:

— Permita-me perguntar se a Sra. F. ainda vive?

— Sim — respondeu-me ela — ela ainda vive; entre, por favor.

Ela levou-me para a pequena sala de visitas e ali, deitada numa cama, estava a velha senhora, Becky F., à beira da morte. Nem parecia que havia já quarenta anos que não a via. Foi um momento solene. Ela estava perfeitamente lúcida e reconheceu-me. Disse-me:

— É Charles Stanley? Então foi o Senhor Quem o enviou. Estou morrendo; e não tenho ninguém que me diga como posso ser salva e ir para o céu. Oh, diga-me, como posso ser salva?

Assegurei-lhe que Deus havia me enviado para apresentar-lhe, por meio da morte expiatória de Jesus, o gratuito, pleno e eterno perdão dos pecados (Atos 13:38,39). Mostrei-lhe nas Escrituras que a morte expiatória de Cristo estava consumada; que Deus havia ressuscitado a Jesus dentre os mortos; e deixei claro a ela que, por meio dele, todos os que creem estão justificados, e têm paz com Ele.

Como sempre, era a bendita Pessoa de Cristo falando aqueles versículos que têm sido de bênção para tantos; e que ainda serão de bênção para muitos que lerem estas linhas, até que Jesus venha. O Espírito havia preparado aquela mulher bem idosa, que se encontrava à beira da morte, para escutar as palavras de Jesus. Disse a ela:

— Agora é Jesus Quem lhe diz: "na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra, e crê naquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida". (Jo 5:24)

Oh, foi algo bendito ver como ela bebeu daquelas palavras vivificantes. Disse-lhe:

— Você ouve estas palavras de Jesus?

— Ouço — respondeu ela.

— E você crê que Deus O enviou; que Deus amou de tal maneira?

— Creio.

— Ele diz que, então, você não entrará em condenação, ou juízo. Você crê nele?

— Creio.

Sim, e isto é totalmente verdade, pois Ele carregou o juízo que era devido a todos os que nele creem.

— Então Ele diz que você passou da morte para a vida. Você crê nele?

— Sim.

Sim, pela graça ela creu nas palavras de Jesus, e passou, tranquila, da morte para a vida. Então lhe disse:

— Vamos agora dar graças.

Ajoelhei-me e dei graças a Deus. Quando me levantei, escutei a carruagem que voltava. Deixei-a, então, como nova criatura prestes a estar para sempre com o Senhor; um abençoado troféu de infinita graça. Em quão variadas formas Deus será glorificado!