CAPÍTULO 10
Yorkshire
Às vezes a fé era provada quando ia a lugares estranhos e ermos. Eu tinha ouvido falar de alguns cristãos pobres, em um vilarejo a uns quinze quilômetros de Penistone, às margens dos pântanos de Yorkshire. Não conhecia nenhum deles, mas um querido irmão, também obreiro, os havia visitado. Num certo dia do Senhor, saí cedo e caminhei quinze quilômetros por uma região de muitos morros. Quando cheguei, eles estavam tendo uma reunião matinal de oração. Encontrei a casa e ajoelhei-me com eles diante do Senhor. Após a reunião, disse-lhes que havia vindo para falar por meu Mestre. Eles pareceram ser bastante acanhados e sem nenhuma pressa em dar as boas-vindas a um estranho. De qualquer modo, ficou combinado que eu pregaria numa casa da vizinhança às três da tarde. Ninguém me convidou para comer, para o que eu estava bem disposto, já que havia tomado meu desjejum às sete e caminhado quinze quilômetros, depois de ter viajado de trem por um trecho. Creio que a razão era a pobreza, e aquelas pobres pessoas estavam envergonhadas de me oferecer do pouco que tinham. Caminhei pelo vilarejo até às duas e então um homem disse-me que, se eu não me importasse de comer o que ele podia me oferecer, ficaria contente em me receber. Entrei em sua casa e sentei-me à mesa. Em uma vasilha escura havia uma espécie de pudim de arroz bem cozido. Acho que estava meio aguado. Bebemos água que foi servida em uma caneca amarela. Aquela foi nossa refeição e, devo dizer, estava grato por ela.
Mas meus novos amigos ainda continuavam envergonhados. Dirigi-me à casa para pregar. Havia uma cadeira de madeira com laterais altas e, sentando-me nela, cantei um hino:
— "Lá há Alguém que é sobre todos, Oh! Quanto nos ama!"
Ninguém entrou para cantar, orar ou escutar. Alguns poucos ficaram à porta ouvindo dali. Com toda certeza, se naquele dia eu estivesse andando por vista, teria me levantado daquela cadeira e ido embora direto para Penistone. Com frequência tenho observado que, quanto maior a dificuldade, maior a bênção. Saí da casa e encontrei alguns de meus acanhados amigos parados ali. O Espírito de Deus levou-me a apontar para uma árvore que havia no pasto. Disse ao homem que estava perto de mim:
— Vê aquela árvore? Se Deus me enviar a pregar ali à hora tal , você verá um grupo de pessoas debaixo daquela árvore.
Não me lembro se disse quatro ou seis da tarde, mas, na hora mencionada, havia um tamanho grupo de pessoas reunidas ali como provavelmente nunca houvera antes naquelas cercanias. O Espírito de Deus deu-me muita liberdade para falar de Sua bondade, como é ilustrada pela história de Mefibosete. E o interesse foi tão grande que as reuniões, tanto fora como dentro da casa, continuaram até à meia-noite. Dormi em um quartinho e, às quatro da manhã, vieram me acordar para outra reunião, antes que eu fosse embora às sete, com destino à estação de Penistone. Como as notícias se espalharam e as pessoas foram reunidas, nunca cheguei a saber. E aquele foi um dos muitos lugares onde nunca mais voltei. Jesus diz: "Tudo o que o Pai me dá virá a mim", (Jo 6:37) e do mesmo modo como Davi mandou que buscassem Mefibosete, assim também o Espírito Santo pode buscar a quem Ele quer, para que ouça a Palavra e seja salvo. E já que depende dele, não deveríamos deixar que as circunstâncias nos desencorajassem.