NONO CAPÍTULO
Portanto foi feito assim (cap. 9). Os judeus se ajuntaram e puseram suas mãos sobre todos os que queriam tirar-lhes a vida. Ninguém podia resistir-lhes. Esse é um claro tipo do dia quando o judeu será novamente restaurado ao seu próprio lugar de direito na terra. E “Mardoqueu era grande na casa do rei, e a sua fama saía por todas as províncias; porque o homem Mardoqueu se ia engrandecendo. Feriram pois os judeus a todos os seus inimigos, a golpes de espada, e com matança e com destruição; e fizeram dos seus aborrecedores o que quiseram” (vv. 4,5). Temos, então, o resultado. Há, porém, ainda mais. “E disse o rei à rainha Ester: Na fortaleza de Susã mataram e destruíram os judeus quinhentos homens, e os dez filhos de Hamã; nas mais províncias do rei que fariam? Qual é pois a tua petição? E dar-se-te-á. Ou qual é ainda o teu requerimento? E far-se-á. Então disse Ester: Se bem parecer ao rei, conceda-se também amanhã aos judeus que se acham em Susã que façam conforme ao mandado de hoje; e enforquem os dez filhos de Hamã numa forca” (vv. 12,13).
Há muitos que não podem entender isso. E não é para menos! Eles tomam o livro de Ester como um tipo do tratamento do Senhor para com a Igreja. Pode-se ver logo que grande confusão decorre disso. Mas não é assim. Trata-se do gentio sendo colocado de lado, e do judeu sendo introduzido; e justiça será o caráter do reino então. Graça é o que cabe à Igreja no presente. Seria, portanto, completamente ininteligível ter Ester representando a Igreja agora. A execução de uma justa vingança seria totalmente incompatível com o chamado do cristão — com o lugar ocupado pela Igreja. Mas para o judeu que será então chamado a compartilhar do reino — introduzido nas honras do reino — é perfeitamente cabível. Então — quando o Messias reinar, e Jerusalém for sua rainha — esta palavra será cumprida: “A nação e o reino que Te não servirem perecerão” (Isaías 60:12).
Assim foi naquele dia. Como pode-se ver, sempre que buscamos a verdade, a Palavra de Deus se encaixa em seu devido lugar. Nós a entendemos e distinguimos entre as coisas que diferem; manejamos bem a palavra da verdade. Quando, pelo contrário, nós, em nossa ansiedade, aplicamos as coisas àquilo que nos concerne, caímos em grande erro, arruinando o lugar que é próprio à Igreja de Deus nas Escrituras, e deixamos de compartilhar das afeições celestiais de Deus. A posição que agora nos cabe é a de agirmos em conformidade com Senhor, que está à destra de Deus. Mas quando o Senhor Jesus deixar o céu para vir à terra — quando Ele vier reinar, então a justiça será o caráter de Seu reino, e coisas terríveis serão feitas em justiça, conforme o Salmos 45. Assim, quando se tem isto em mente, a execução dos dez filhos de Hamã não apresenta a mínima dificuldade de compreensão, pois o Senhor não irá apenas destruir no princípio, mas haverá uma repetição do golpe: haverá um completo extermínio do adversário e de todo aquele que render obediência fingida ao Senhor. O Senhor tratará com eles naquele dia vindouro.
Assim também o rei deu ordem, e os judeus se juntaram para outro dia. Não somente aqueles em Susã, mas “também os demais judeus que se achavam nas províncias do rei se reuniram para se porem em defesa da sua vida, e tiveram repouso dos seus inimigos; e mataram dos seus aborrecedores setenta e cinco mil; porém ao despojo não estenderam a sua mão” (v. 16). Assim, gozo e gratidão encheu o coração do judeu. E Mardoqueu escreve e envia cartas a todas as províncias, e assim o gozo é espalhado por toda a terra. E não só isso, mas nos é dito também que os judeus estabeleceram uma festa sobre essa maravilhosa intervenção da providência de Deus.