A Igreja de Roma no Ano 60
Seria, no entanto, uma injustiça minha deixar esta impressão, ou seja, de que eu costumasse receber tal tipo de tratamento por parte dos católicos romanos. Geralmente eles me escutavam ao ar livre com respeitosa atenção, já que eu estava acostumado a pregar o evangelho e não a atacá-los. Darei um exemplo:
Estava caminhando com um amigo numa certa manhã do dia do Senhor, em Newcastle, próximo às olarias. Meu amigo falou:
— O homem que vamos encontrar é um fervoroso e devoto católico romano.
Virei-me para ele e disse:
— Olhe, quero que me faça um favor para esta tarde; quero que você providencie para que os católicos fiquem sabendo que pretendo pregar no Mercado, hoje às três horas, e certifique-se de fazer com que saibam que pretendo provar que a doutrina da igreja católica romana no ano 60 é a única verdadeira.
— Já entendi — disse ele.
— E — continuei — providencie para que todos eles fiquem o mais perto de mim que puderem, e que não deixem que ninguém atrapalhe ou me impeça de ir até o fim de meu discurso.
Era espantoso ver quantos deles estavam lá por volta das três horas; e ficaram tão juntos e próximos que ninguém podia chegar até mim. Então dei início e demonstrei que não tínhamos quaisquer dúvidas quanto a qual era a verdadeira igreja em Roma, no ano 60. Continuei:
— Era composta de todos os crentes em Roma; a única igreja, a única verdadeira igreja em Roma. Não fomos abandonados à incerteza, sem meios de saber quais eram as doutrinas da igreja em Roma no ano 60. Temos um relato inspirado dessas doutrinas e é para este documento (a epístola de Paulo aos Romanos) que vamos voltar nossa atenção. Do capítulo 1 ao 3 encontramos a afirmação quanto à total ruína do homem por causa do pecado. Sejam judeus ou gentios, todos pecaram, todos culpados, todos totalmente incapazes de obter justiça pelas obras da lei. E isto cada homem também conclui por experiência própria. E assim deve ser, pois esta era a verdadeira doutrina da igreja de Roma do ano 60 acerca deste assunto; e ela era a única igreja verdadeira no ano 60, em Roma. Não havia outra.
Segui demonstrando a justiça de Deus revelada no glorioso plano da redenção. Mostrei como Ele é Justo em justificar, por meio da morte expiatória de Jesus, a todos os que nele creem. A fé deles lhes é imputada como justiça (Rm 4). Aqueles que creem em Deus, "que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação", são assim reputados como justos — justificados. (Rm 4:24,25) Dei exemplos disso para mostrar que a tremenda dívida de nossos pecados havia sido paga; e a eterna prova foi Jesus ter sido ressuscitado dentre os mortos. Ele é nossa justiça eterna. Sendo assim, havia uma notável peculiaridade na igreja de Roma, ou nos crentes em Roma; uma marca da verdadeira doutrina: eles não esperavam ser salvos; Eles não esperavam fazer a paz com Deus. Eles TINHAM paz com Deus. "Sendo pois justificados pela fé, TEMOS paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." (Rm 5:1) Aqui está a verdadeira doutrina da igreja em Roma no ano 60. Toda doutrina contrária a esta é heresia e falsidade. A total corrupção da natureza humana; todos culpados. O remédio para a total corrupção da natureza humana — em que todos são culpados — é a redenção pelo sangue de Cristo, não por obras vindas do homem. Todos os que creem em Deus são justificados, e têm paz com Ele — e não estão esperando fazer sua paz com Deus. Jesus completou a obra sobre a cruz. Eles creem nisto e têm paz com Deus por Jesus Cristo.
Bem, a aplicação começou a ser demasiado direta para meus amigos. Eles olharam uns para os outros quando perguntei se esta era a doutrina daqueles que estavam ao meu redor ali. Teriam eles já descoberto que eram pecadores completamente perdidos e que, por mais que tentassem, não poderiam obter justiça ou paz por meio das obras da lei? Teriam eles aceitado esta plena salvação por Jesus Cristo? Criam eles realmente em Deus? Estariam eles esperando obter paz, ou será que poderiam dizer, com os crentes romanos do ano 60, "Temos paz com Deus"? Assegurei-lhes que não havia salvação fora da doutrina da igreja de Roma, conforme foi revelada na epístola no ano 60.
A essa altura, alguns de meus ouvintes mais próximos já haviam passado a ouvintes mais distantes, e outros já haviam desaparecido, mas muitos escutaram até o fim; e não proferi nenhuma palavra que os insultasse. Oh, que aquele dia vindouro possa declarar que almas tenham sido então levadas ao descanso em Cristo, e crido na Palavra de Deus.