Chamado a Pregar Num Navio
Pouco tempo depois, eu estava novamente em Hull, tendo pregado no dia do Senhor. Encontrava-me sentado com o Sr. A. J. após o jantar, quando senti um chamado distinto para pregar em um navio. Contei ao Sr. J. e ele me disse:
— Há um vapor mercante que sai amanhã às duas ou três horas — (não me lembro da hora exata) — e estará cheio de comerciantes.
Senti-me seguro de que estava sendo chamado a pregar a bordo naquele dia. Portanto, peguei minha mala, e o Sr. J. foi comigo para mostrar-me o caminho. Naquela época não existia uma plataforma apropriada para o vapor atracar e, quando eu estava subindo pela prancha que ia do píer ao navio, este, repentinamente, moveu-se um pouco, fazendo com que a prancha caísse na água e eu ficasse dependurado na amurada do navio. Alguém deu um alto grito e acabei sendo puxado a bordo, enquanto todos se emocionavam com o ocorrido. Quanto a mim, fiquei completamente arrasado. Numa condição assim tão débil, busquei ao Senhor em oração para que Ele me fizesse voltar o ânimo e me arranjasse algum ajudante a bordo. Andei em oração pelo convés cheio de gente e, enquanto andava, vi um homem sentar-se. O Senhor mostrou-me que aquele seria o que me ajudaria. Parei e perguntei se ele era cristão.
— Sim — respondeu — por misericórdia eu o sou.
Perguntei:
— Você tem fé? — Contei-lhe então como o Senhor havia me enviado a pregar a bordo, o quão abalado e fraco eu estava, e como tinha orado ao Senhor por um ajudante. Ele levantou-se de um salto e disse:
— Fé e ação, homem! — e saiu correndo.
Foi aí que me senti pior ainda. Como é estranha a maneira como o Senhor prepara os Seus servos para a Sua obra. Eu tinha chegado ao ponto de humilhação adequado para poder ser usado pelo Senhor, quando o homem voltou com o rosto radiante:
— Está tudo pronto — disse ele.
— O que é que está pronto? — perguntei.
Ele respondeu:
— Consegui a permissão do capitão, e algumas pessoas já estão prontas para cantar um hino.
Ele sugeriu o hino que passou a ser cantado de coração. O Senhor deu-me, então, forças para pregar o evangelho durante toda a viagem, quase até Thorne, que na época era o nome daquele lugar. À medida que o barco ia fazendo as suas escalas ao longo do percurso pelo rio, as pessoas continuavam a embarcar e a desembarcar. Na época não fiquei sabendo de uma só alma que pudesse ter sido salva naquele dia. Eu preguei a tarde toda, até à noite.
Um Sermão de Cinquenta Quilômetros
Muitos anos depois, quando já havia quase me esquecido daquela experiência, ao terminar de pregar em Birmingham, um cavalheiro aproximou-se e disse-me:
— Ouso afirmar que você não se lembra de mim.
E realmente eu não me lembrava dele.
Ele perguntou:
— Você se lembra de haver pregado um sermão de cinquenta quilômetros de comprimento?
Respondi que não me lembrava.
— Bem — disse ele — Você se lembra de ter pregado subindo o rio, de Hull a Thorne, por uma distância de cinquenta quilômetros ou mais?
Então me veio à lembrança claramente. Ele era agora um ministro wesleyano, e disse-me:
— Há muito que desejo vê-lo.
Tinha sido ele quem havia me ajudado tão gentilmente naquele dia. Contou-me que, depois daquilo, estabeleceu-se em Selby e visitou as diversas cidades e povoados ao longo do rio, onde o vapor fazia suas paradas, encontrando pessoas que haviam sido salvas naquele dia subindo o rio. Dessa forma, depois de muitos dias o Senhor nos dá prova do que diz: "Assim será a Palavra que sair da Minha boca: ela não voltará para Mim vazia, antes fará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei." (Is 55:11). Oh, poder pregar com total certeza de que as almas serão salvas!
Que gozo será na presença do Senhor, em Sua vinda, podermos ver os milhares (quem sabe?) de almas que foram levadas a Ele, pelas riquezas da Sua graça, por meio de Seus fracos servos! Oh, quão profunda a misericórdia, que não somente nos salvou do inferno, mas que nos usa como canais de misericórdia para outros. O apóstolo podia dizer: "Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda?" (1 Ts 2:19) Que eu saiba, nunca vi nenhum desses queridos filhos ao longo do rio. Sem dúvida, a esta altura, após tantos anos, muitos deles já estão com o Senhor. Devo encontrá-los na glória, que já está tão próxima.