Muitas Perguntas

Se alguém pudesse se lembrar de todas as perguntas que foram feitas naquelas reuniões, daria para encher um livro. Vamos apenas mencionar uma delas. Estava falando sobre Romanos 3, principalmente sobre a justiça de Deus, quando o homem havia provado não possuir nenhuma justiça de si próprio, sendo ele, não apenas culpado, mas estando na condição de completamente perdido, e sendo incapaz de guardar a lei e basear-se nela para ser justo. Um pregador local levantou-se de repente, no meio do salão lotado, e disse:

— Sr. Stanley, quero fazer-lhe uma pergunta: Se um pai desse a seu filho um dever a cumprir, que bem sabia não ser ele capaz, e então, por seu filho não ser capaz de cumpri-lo, seu pai o açoitasse, seria isso justo?

Todos se voltaram para mim esperando por uma resposta.

— Sr. B., você tem sido um pregador aqui por quarenta anos.

— Sim — ele respondeu — é verdade.

— Você já encontrou algo mais difícil do que convencer um homem de que ele é um pecador perdido?

— Não, creio que não.

— Muito bem, então vou tão somente supor que você é o capitão de um barco salva-vidas. Você foi enviado para resgatar a tripulação de um navio que vai se despedaçar contra os recifes. Você sabe que não existe esperança para eles, que não poderão levar o navio até o porto. As leis de navegação são coisas boas em si mesmas, mas não podem ajudar essa tripulação; tais leis não têm poder algum para exercer sobre o navio. Você vê que eles estão obstinados, mas que nada podem fazer. Você não iria parar a cem metros de distância para discutir as leis de navegação. Você não iria dizer a eles que fizessem a parte deles e que viessem se encontrar com você a cem metros de onde estavam. Não, você iria até eles e os abordaria, e, assegurando-lhes ser impossível que se salvassem a si próprios, você os tiraria do navio condenado e os levaria ao porto. Agora, Sr. B., será que você seria censurado por estar agindo assim?

A esta altura o Sr. B. já tinha se esquecido de sua pergunta quase infiel, e respondeu:

— Não, não acho que seria.

Procurei explicar a eles como Cristo era o barco salva-vidas, enviado para salvar aqueles que estavam perdidos e que não poderiam salvar-se a si próprios. E porventura não é assim, querido leitor? A lei de Moisés, ou melhor, a lei de Deus, não seria de maior proveito para a salvação de uma alma, perecendo nos recifes da culpa e do pecado e sem poder para escapar, do que as leis de navegação, para ajudar a salvar a tripulação de um navio que estivesse se despedaçando nas rochas. Ainda assim o homem é cego para não enxergar a graça de Deus, que enviou o barco salva-vidas depois de haver dado primeiramente a lei para convencer o homem de sua condição perdida e sem esperanças. Seria justo aqui perguntar se qualquer que levanta tais sofismas reconheceu-se, algum dia, verdadeiramente perdido. Quantos há por aí que ainda precisam conhecer a completa ruína do homem caído!