O Martírio de Inácio

Não há nenhum fato do início da história da igreja mais sagradamente preservado 7 que o martírio de Inácio, o bispo8 da Antioquia. E não há narrativa mais celebrada que sua viagem, como prisioneiro em correntes, da Antioquia para Roma.

De acordo com a opinião geral dos historiadores, o imperador Trajano, em seu caminho para a guerra da Pártia no ano 107, visitou Antioquia. Por que causa é difícil dizer, mas aparentemente os cristãos foram ameaçados de perseguição por suas ordens. Inácio, portanto, preocupado pela igreja em Antioquia, desejou ser introduzido à presença de Trajano. Seu grande objetivo era prevenir, se possível, a perseguição ameaçada. Com este objetivo em vista, ele apresentou ao imperador o verdadeiro caráter e condição dos cristãos, e se ofereceu a si mesmo para sofrer no lugar deles.

Os detalhes da marcante entrevista são dados em muitas relatos sobre a história da igreja, mas existe um certo ar de suspeita sobre eles que nos absteremos de inserir aqui. De qualquer modo, a história acabou na condenação de Inácio. Ele foi sentenciado pelo imperador a ser levado a Roma, e lançado às feras selvagens para o entretenimento do povo. Ele recebeu a cruel sentença sem reclamar, e de bom grado submeteu-se às cadeias, crendo ser assim por sua fé em Cristo e como um sacrifício pelos santos.

Inácio estava agora sob custódia de dez soldados, que parecem ter ignorado sua idade, tratando-o com grande dureza. Ele tinha sido um bispo da Antioquia por quase quarenta anos, e portanto devia ser um homem idoso. Mas eles o levaram grosseiramente por uma longa viagem, tanto por mar quanto por terra, de modo a chegar a Roma antes dos jogos terminarem. Ele chegou no último dia do festival, e foi logo levado ao anfiteatro, onde sofreu, de acordo com sua sentença, à vista dos espectadores reunidos. E então, o cansado peregrino encontrou o descanso das fadigas de sua longa viagem no bendito repouso do paraíso de Deus.

Alguns têm perguntado o porquê de Inácio ter sido levado pelo longo caminho da Antioquia até Roma para sofrer o martírio. A resposta só pode ser conjectura. Pode ter sido com a intenção de infundir medo aos outros cristãos, pelo espetáculo de alguém tão eminente e tão conhecido ser levado em correntes a uma morte terrível e degradante. Mas se esta foi a expectativa do Imperador, ele deve ter ficado inteiramente desapontado. O martírio de Inácio teve justamente o efeito oposto. Notícias sobre sua sentença e sobre sua rota se disseminaram amplamente, e representantes das igrejas das proximidades foram enviados para encontrá-lo em pontos convenientes durante a viagem. Ele foi, então, saudado e encorajado com calorosas felicitações de seus irmãos; e eles, em troca, se alegraram em ver o venerável bispo e em receber sua bênção de despedida. Muitos dos santos se sentiriam encorajados a enfrentar, e até mesmo a desejar, uma morte de mártir e uma coroa de mártir. Dentre os que o encontraram pelo caminho estavam Policarpo, bispo de Esmirna que, assim como Inácio, tinha sido um discípulo do apóstolo João, e estava também destinado a ser um mártir pelo evangelho. Mas além desses encontros pessoais, dizem que ele escreveu sete cartas durante essa viagem, que foram preservadas pela providência divina e chegaram até nós. Sempre houve grande interesse, e ainda há, nessas cartas.