Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Irlanda

Supõe-se que Patrício (ou Patrick), o apóstolo da Irlanda, nasceu por volta do ano 372 nas margens do rio Clyde. Conta-se que Kilpatrick1 tenha adotado seu nome por causa dele. Seus pais eram cristãos sinceros; seu pai era um diácono, e seu avô era um presbítero. Sua mãe, que buscava instilar em seu coração as doutrinas do cristianismo, era irmã do celebrado Martinho, arcebispo de Tours. Mas o jovem Succath, seu nome original, não era seriamente inclinado para a religião. Algum tempo depois, seus pais deixaram a Escócia e se estabeleceram na Britânia. Aos dezesseis anos, quando Succath e suas duas irmãs estavam brincando à beira do mar, alguns piratas irlandeses, comandados por O’Neal, levaram os três para seus barcos e os venderam como escravos na Irlanda. Por seis anos ele foi empregado em cuidar do gado.

Durante o período de sua escravidão ele suportou muitas e grandes dificuldades. Mas a consciência de seu pecado veio à tona. Ele ficou sério e pensativo. Quando tinha mais ou menos quinze anos ele havia cometido algum grande pecado que então pressionava pesadamente sobre sua consciência, noite e dia. Ele orava com frequência e chorava muito; de fato, tal era o fervor dentro de sua alma que ele ficou insensível ao frio, à chuva e a outas inconveniências às quais ele era exposto. Ele então pensava em seu lar, nas ternas palavras e sinceras orações de sua mãe; e Deus graciosamente usou a lembrança do evangelho que ela lhe ensinava para abençoar sua alma. Ele nasceu de novo. “Eu tinha dezesseis anos”, ele diz, “e não conhecia o Deus verdadeiro; mas naquela ilha estranha o Senhor abriu meus olhos incrédulos e, embora tardiamente, ponderei sobre meus pecados e fui convertido com todo o meu coração ao Senhor meu Deus, que se importou comigo em meu triste estado, teve piedade de minha juventude e ignorância, e que me consolou como um pai consola seus filhos. O amor de Deus aumentou cada vez mais em mim, com fé e temor do Seu nome. O Espírito me incentivou em tal nível que eu me derramava em orações umas cem vezes por dia. E, durante a noite, nas florestas e nas montanhas, quando cuidava do meu rebanho, a chuva, a neve, as geadas e os sofrimentos que eu suportei me impeliam a buscar a Deus. Naquela época eu não sentia a indiferença que agora sinto; o Espírito fermentava o meu coração”.2

Se podemos confiar que essas palavras saíram dos lábios de Succath, elas apresentam um testemunho muito mais puro da verdade do evangelho do que o que encontramos na igreja de Roma. Elas apresentam uma alma exercitada em relacionamento estreito com o Próprio Deus. As formas e o sacerdócio do romanismo destroem esta comunhão bela, pessoal e direta com Deus e com Seu Cristo através da graça e poder do Espírito Santo. Mas tal, sem dúvida, era o cristianismo dessas Ilhas Britânicas antes de ser corrompida pelos emissários papais.

No decorrer do tempo Succath ganhou sua liberdade e, após viajar e pregar muito, ele retornou a sua família. Mas ele logo sentiu um desejo irresistível de voltar à Irlanda e pregar o evangelho aos pagãos, entre os quais ele tinha encontrado o Salvador. Em vão seus pais e amigos tentaram detê-lo. Ele rompeu todos os obstáculos, e com o coração cheio do zelo cristão partiu para a Irlanda. Ele tinha então mais de 40 anos de idade e, de acordo com alguns escritores, tinha sido ordenado presbítero, e foi então consagrado bispo da Irlanda. Por causa disso ele é conhecido como São Patrício. Ele devotou o resto de sua vida à Irlanda, e trabalhou entre eles com grande efeito, embora em meio a muitas dificuldades e perigos. A conversão da Irlanda é atribuída aos seus esforços. O ano de sua morte é incerto.