A Doação Territorial de Carlos Magno
A real extensão de sua doação é muito difícil de determinar. Mas parece ser da opinião geral dos historiadores que ela incluía não apenas o exarcado de Ravena, mas os ducados de Espoleto e Benevento, Veneza, Istria, e outros territórios no norte da Itália — em suma, quase toda a península com a ilha de Córsica. Todo Nabote foi roubado de sua vinha, e seu sangue derramado, para a gratificação da ambição de Jezabel, e para o estabelecimento de seu trono de iniquidade. Mas o marco da consumação e selo de toda a iniquidade foi o modo como o papa buscou reconciliar seu caráter de vicário de Cristo com sua nova posição. Como todos os homens estão sujeitos a Cristo, ele raciocinou, assim do mesmo modo eles são sujeitos ao Seu vicário e representante na terra em tudo o que pertence ao Seu reino. Mas este reino se estende sobre todos, portanto nada pertencente a este mundo ou seus assuntos podem estar acima ou além da jurisdição da cadeira de São Pedro. Nosso reino não é deste mundo; ele é, assim como Cristo, em todos, sobre todos e sobre tudo. De acordo com esta teoria, nenhum domínio secular deveria ser considerado inconsistente com a declaração do Salvador no que diz respeito ao Seu reino. É neste pressuposto ímpio, desde então, que os papas têm sempre agido. Daí sua interferência com o sacerdote e o povo, com o rei e o súdito, com a terra e o mar, sobre todo o mundo.
Carlos Magno visitou Roma novamente em 781, e uma terceira vez em 787, e em cada ocasião a igreja foi enriquecida por presentes, concedidos, como ele professava na linguagem da época, “para o bem de sua alma”. Submergido em gratidão e plenamente consciente de sua própria necessidade um defensor permanente, o papa coroou Carlos Magno na véspera do Natal do ano 800 com a coroa do império ocidental, e o proclamou César Augusto. Um príncipe franco, um teutão, foi assim declarado o sucessor dos Césares, e empunhou todo o poder do imperador do Ocidente. “O império de Carlos Magno”, diz Milman, “era quase compatível com a Cristandade latina; a Inglaterra foi o único grande território que reconhecia a supremacia de Roma e não se sujeitou ao novo império ocidental”15. Este evento deu início à grande época nos anais da Cristandade romana.
Devemos agora deixar o Ocidente por um tempo, e tornar nossa atenção para uma outra grande revolução religiosa que repentina e inesperadamente surgiu no Oriente — o maometismo.
N. do T.: Provavelmente a referência é a uma região da Irlanda chamada de Kilpatrick ou ao sobrenome irlandês Kilpatrick.↩
D’Aubigne, vol. 5, p. 25↩
Para detalhes interessantes, veja “The Church History of Scotland from the commencement of the Christian era to the present time”, de John Cunningham, ministro de Crieff A. and C. Black Edinburgh. 1859.↩
Faiths of the World (Crenças do Mundo), de Gardner, vol. 1, p. 150.↩
Cunningham, vol. 1, p. 52↩
J. C. Robertson, vol. 2, p. 62↩
D’Aubigne, vol. 5, p. 77. Cunningham, vol. 1, p. 90.↩
Cunningham, vol. 1, p. 94.↩
N. do T.: o autor vivia na Inglaterra↩
N. do T.: ou Germânia, como era conhecida a região na época romana↩
Para detalhes particulares veja Middle Ages, de Hardwicke; J. C. Robertson, vol. 2, p. 95↩
Mosheim, vol. 2, p. 29.↩
Veja especialmente a Cathedra Petri de Greenwood.↩
Para uma descrição mais ampla desse importante período, veja Cristianismo Latino, de Milman, vol. 2, p. 243.↩
Veja Milman, vol. 2. Greenwood, vol. 2.↩