O Selo dos Gentios
Observe, então, esse importante fato conectado à introdução dos gentios à igreja - eles recebem o dom/dádiva do Espírito Santo simplesmente por meio da pregação da Palavra. Em Jerusalém, os judeus foram batizados antes de terem recebido o Espírito Santo. Em Samaria, os samaritanos foram não apenas batizados, mas tiveram que passar pela imposição de mãos dos apóstolos com oração, antes de receberem o Espírito Santo. Mas em Cesareia, sem batismo, sem imposição de mãos e sem oração, a mais rica bênção cristã foi dada aos gentios, embora a doutrina da igreja como o corpo de Cristo ainda não ter sido revelada.
A graça de Deus, assim apresentada aos gentios no início da dispensação, a tem caracterizado desde então. Somos gentios: não somos judeus nem samaritanos. Portanto os caminhos de Deus em graça, e Sua ordem de coisas para com os gentios, têm uma aplicação especial para nós. Não há exemplo registrado pelos historiadores inspirados de alguém que tenha sido batizado sem professar fé em Cristo, mas se formos seguir o padrão de coisas em Cesareia, devemos procurar pelo selamento assim como pela vivificação - para a paz com Deus, assim como para a fé em Cristo antes do batismo. O caso de Cornélio se situa justamente no início de nossa dispensação. Foi a primeira expressão de graça endereçada diretamente aos gentios e, certamente, deveria ser um modelo para pregadores e discípulos gentios. Quando a Palavra de Deus que foi, naqueles dias, pregada a Cornélio é, hoje, crida, podemos garantir que teremos os mesmos efeitos, isto é, a paz com Deus..
Pregar, crer, selar, batizar, é a ordem divina das coisas aqui. Deus e Sua Palavra nunca mudam, embora os “tempos mudam”, como dizem os homens, assim como as opiniões humanas mudam, e as observâncias religiosas mudam. Mas a Palavra de Deus - nunca. Judeus, gentios e samaritanos professaram fé em Cristo antes de serem batizados. De fato, o batismo presume vida eterna adquirida pela fé, e não transmitida após o ato de batizar, como ensinam os católicos e anglicanos. “A graça e a vida são comunicadas por meio de sacramentos”, dizem eles, “e só podem ser efetuadas por esses meios, independente de qualquer exercício de intelecto da parte da pessoa trazida à união. O santo batismo é o meio pelo qual uma vida nova e espiritual é conferida ao receptor.”6
Tais noções - nem precisamos comentar muito - são totalmente contrárias às Escrituras. O batismo não concede nada. A vida é concedida por outros modos, como as Escrituras claramente ensinam. A conversão, ou “nascer de novo”, é efetuada, em todos os casos, sem exceção, pelo Espírito Santo. Como lemos em 1 Pedro: “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro. Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.” (1 Pedro 1:22-23). Aqui, a verdade do evangelho é vista como o meio, e o Espírito Santo como o poder, da conversão. Cristo, ou Deus em Cristo, é o novo objetivo da alma. É pelo Espírito e pela verdade de Deus que tal bendita mudança é efetuada. Àqueles que confiam nas águas do batismo como o meio de efetuá-la, sinto-lhes dizer, estão em uma grande e fatal engano.7
No caso dos gentios em questão aqui, ainda mais que vida era possuída antes do batismo ser administrado. Eles tinham o selo de Deus. O batismo é o sinal da plena libertação e salvação garantidas ao crente pela morte e ressurreição de Cristo. Cornélio tinha vida, era um homem devoto, mas ele deveria ouvir de Pedro as palavras pelas quais ele seria salvo e totalmente liberto. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento ensinam essa bendita verdade da maneira mais clara possível. Israel, como um povo típico, após ter sido trazido a Deus e protegido pelo sangue do cordeiro no Egito, foi batizado a Moisés na nuvem e no mar. Assim eles foram libertos do Egito e viram a salvação de Jeová. Novamente, Noé e sua família foram salvos através do dilúvio - não por ele. Eles deixaram o velho mundo, passaram através das águas da morte, e pousaram em uma nova condição de coisas. “Como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, ... pela ressurreição de Jesus Cristo.” (Êxodo 14; 1 Pedro 3:21)
Mas qual era a palavra, alguns poderiam perguntar, que Pedro pregou, e que foi acompanhada de tal notável bênção? Ele pregou paz por Jesus Cristo como o Senhor de tudo. Cristo ressuscitado, exaltado e glorificado foi o grandioso objeto de seu testemunho. Ele o resume com essas palavras: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome.” (Atos 10:43). Então segue-se a bênção. Os judeus que estavam presentes ficaram atônitos, mas se curvam, e reconhecem a bondade de Deus para com os gentios. “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias.” (Atos 10:44-48)
Vamos, agora, refazer um pouco nossos passos e observar alguns dos principais eventos que, por ordem, precedem o capítulo 10.